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Category: FamíliaConteúdo sindicalizado

Carta aos pais

André Charlier

 

Esta carta de André Charlier merece ser lida duas vezes. Uma, por seu conteúdo e oportunidade; Outra, tendo-se em vista a data em que foi escrita, 22 de outubro de 1954, quando Charlier era diretor da escola preparatória de Clères, na Normandia. 
 

Embora escrita para pais franceses, estas breves reflexões certamente interessarão ao leitor brasileiro.

 

(Continue a leitura)

Crianças de hoje

Luce Quenette

Em toda sociedade civilizada, há um constante apelo à honra, o que naturalmente provoca sentimento de culpa nos que violam suas leis e usos. Alguém dirá que uma tal sociedade engendra a hipocrisia. Pois bem! Quando a virtude e a decência são honradas, o homem perverso não tem outro recurso, se não quiser converter-se, que o de dissimular, fingindo virtude. E finge tão mal, que as pessoas honestas chamam-no hipócrita. Mas, “a hipocrisia é uma homenagem que o vicio presta à virtude”. A decência e a virtude não lhe servem de causa, mas de ocasião. A honra a que elas têm direito e que lhes prestamos é ocasião de inveja, dissimulação, astúcia e furto. Ora, toda lei justa, a começar pelos Dez Mandamentos, é ocasião de pecado para o coração concupiscente. A lei protege o fariseu, evidentemente. Poder-se-ia dizer que a lei é má, como fala São Paulo? Longe disto. Ela é boa. Mas por si mesma, sem a graça de Jesus Cristo, não pode nada. Toda organização da sociedade cristã esta aí. É preciso que Ele reine.

A cura de toda hipocrisia e de todo cinismo é o conhecimento da lei em estado de graça.

* * *

Quem vos fala é uma mãe. Ela leva a Péraudière seu filho mais velho, de cinco anos e meio. Com coragem, seu marido e ela percebem o rosto ligeiramente angustiado do pequeno João, que nunca deixara o doce lar:

“Nós o teríamos colocado no Sacré-Coeur, com os jesuítas, bem próximo de nossa casa, mas soubemos que nas turmas da 10a. série, sim, no Sacré-Coeur (!), havia lições de iniciação sexual, e com imagens. Foi uma mãe que nos disse isso. Ela tinha acabado de levar seu filhinho para a entrada do colégio. Disse a ela: “a senhora precisa tirá-lo de lá, não pode deixar que se cometa este atentado.” Ela suspirou: “Que posso fazer? Isso agora é permitido”. Horrorizada, interroguei outros pais na mesma situação e cheguei a esta terrível conclusão: não somente eles o admitiam, mas SE JUSTIFICAVAM, pensando que estavam legitimamente dispensados de dar aos filhos uma iniciação que os embaraçava; eles calavam sua repugnância com o slogan criminoso: você sabe, hoje em dia, é um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde!”

* * *

Eis um pequeno idoso (de um ano de idade) que foi, antes do mais, insuportável e que, de volta das férias, mantinha-se ereto, com um aspeto respeitoso e altivo entre o pai e a mãe. Eu sentia, no entanto, que aquilo era demais. A mãe fez com que o filho fosse dar uma volta e me disse que, durante as férias, a criança fora terrível. “Bom, disse eu, é preciso chamá-lo e dizer tudo na frente dele.” É o que eu faço. Meu filho abaixa a cabeça, confuso, envergonhado, arrependido. A mãe, tímida: “Sabe, filho, não é para te machucar nem te fazer sofrer que dizemos essas coisas.” — “Mas sim, Madame, é para fazer sofrer, para machucar seu coração, que ama a mamãe, para que ele se arrependa e que, nas próximas férias, vocês tenham um filho carinhoso. Ele entende muito bem e sabe que estamos certos.” Dois olhares: Alan eleva os olhos, que oferecem seu acordo e humildade. Por sua vez, o olhar bom da mãe é de espanto e admiração. Quanto ao pai (pois há ainda sua opinião), este se inclina perto da mãe e diz, contente: “Viste, bem que te avisei!”

Que estes amigos encantadores perdoem-me de mostrar, por meio deles, na alma do educador e do filho deles, a passagem de uma correção derrisória, conforme a moda, à nobre beleza da justiça cristã.

* * *

É espantoso o zelo com que as crianças cristãs recebem o apelo doutrinal à conversão. Seu coração, preparado pelo batismo e pela fé de seus pais, instintivamente repugna à justificação conforme o mundo. Claro, uma criança mimada se compraz, em seu egoísmo e sensualidade, de ser “compreendida” e não “repreendida”. Serve-se gulosa e insolentemente das falsas desculpas e explicações que lhes oferecem para seus pecados. Mas isso a enerva, a excita, e não a acalma. Os grandes ingênuos que “compreendem” sua gulodice, sua preguiça, sua tirania, ele os despreza e explora. Mas, se os pais são cristãos, se estão resolvidos a preservar a alma de suas crianças, custe o que custar, ainda que lhes faltem algumas luzes e, por conseguinte, o savoir-faire, nada estará perdido. Nós vemos isso claramente. O pequeno novato entra na Péraudière convencido de que é preciso fugir do mal que o assediou, que respirou e que cometeu nas más escolas; ele sabe que vai aprender a servir a Deus segundo a Tradição e que é por isso que seus pais se separaram dele. A disposição fundamental é justa.

Então, convém, o quanto antes, após alguns dias em que se terá experimentado a afeição e a solicitude, levá-lo à conversão. O que eu disse aqui é fruto da experiência dentro de uma escola, em busca de nosso fim essencial; isso, eu digo para todos os fundadores de escola e para todas as famílias.

Graças a Deus e a pais santos, as crianças já entram na escola convertidos. Mas, para tantos outros, a reeducação da alma, afetada pela terrível psicologia que justifica o mal, deve começar pela conversão. Resumirei isso tudo com a seguinte e surpreendente declaração de uma criança de dez anos, que guardo comigo há muitos anos, como a fórmula mesma da conversão do coração: “Pareceu-me, de repente, disse-me esta criança, que Deus me dizia: Olha para tua vida! Daí, enxerguei todos os meus pecados, quis que eu nunca voltasse a cometê-los e fui para o confessionário.”

Eis o ponto de partida, todo resto é vão: as exortações para se dedicar, para agradar àqueles que o amam etc, etc, tudo é vão, antes.

Olha, meu filho, e vê, à luz das lições do catecismo, da lição sobre o pecado, dos novíssimos, do exame de consciência seguindo os mandamentos, à luz da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Olha, minha criança, olha para tua vida! A criança volta-se para si mesma, se entristece na contrição e examina seus pecados cuidadosamente, com uma seriedade que nos faz repetir para nós mesmos: “Se não fores semelhantes a um desses pequeninos!” E finalmente, com confiança e humildade, se entrega ao Tribunal da Penitência.

Bendito o padre, ministro fiel de Jesus, que recebe com respeito e atenção este retorno do filho pródigo! Digo mesmo “retorno do filho pródigo” porque sei que, mesmo entre pessoas piedosas, que se dizem fiéis e tradicionalistas, ainda reina o instinto estúpido de não levar a sério as faltas de uma criança, de sorrir de sua gravidade, de não dar importância a seu arrependimento pela maneira pueril de a acolher.

Muitos educadores me acusam de dar muita importância a esta reviravolta na alma de uma criança, de levá-la mesmo às raias do escrúpulo e, porque não, de ser jansenista...

Julga-se a árvore pelos seus frutos: a criança convertida sai do Tribunal da Penitência radiante, banhada pela misericórdia, começando uma nova vida; ela corre para diante do Tabernáculo, reza sua penitência com os mesmos sentimentos de Joinville ao partir para a cruzada.

É preciso saber que tudo que se subtrai da gravidade do pecado por meio de um freudismo disfarçado, subtrai-se da misericórdia de Deus e da dignidade livre do animal racional.

Após este banho salutar de penitência, a criança convertida não está ao abrigo das tentações; contudo, a experiência permite dizer que elas são bem menos freqüentes e que “dão menos vontade”. A Santa Virgem esmaga a cabeça da serpente, sobretudo se temos o hábito do recurso filial e contínuo à sua Santa Maternidade, através do terço cotidiano e da invocação repetida.

A criança convertida é mais calma, mais feliz; possui “esta moderação das pessoas felizes” da qual fala La Rochefoucauld. Ficam mais espaçadas as cóleras de criança mimada e sem vida interior, que se revoltava à privação de um prazer ou à perspectiva de um esforço.

A criança convertida é mais inteligente. O nível intelectual das crianças saídas das escolas de hoje é lamentável. Na verdade, as classes atuais não fazem mais pensar. As novas matemáticas ajudariam a preencher este vazio, se a inacreditável preguiça não o impedisse. Ora, a conversão opera o mais profundo movimento das faculdades espirituais. A graça exige da alma no que toca a inteligência, intuição, lucidez, atenção; no que toca a vontade, humildade, resolução, execução, além do sábio governo da sensibilidade.

É possível mensurar de quantos bens naturais e sobrenaturais estão privadas as crianças de hoje, por obra de uma heresia que as submete à vigílias de penitência e à sacrílegas absolvições coletivas, sem confissão de pecados?

* * *

É preciso que os pais católicos estejam convencidos da necessidade sobrenatural da penitência e da conversão; e que, nesta perspectiva (de guardar as crianças na fé de Jesus Cristo, quer dizer, em estado de graça), eles tornem-se severos.

Outro fruto da experiência: as crianças convertidas têm orgulho de ter pais severos. Isso é evidente: a criança contestadora se insurge contra toda proibição, pois despreza a lei e aqueles que a anunciam. A criança cristã honra a autoridade, que a quer em paz com o Céu.

Isso é evidente, comprovado.

Recebi, em meados de setembro, duas cartas de dois irmãos terríveis, briguentos, mas convertidos. Ei-las: “No final destas férias, tornamo-nos insuportáveis de novo. Mas nossos pais agiram bem: brigaram conosco e nos puniram como merecíamos.”

Esta é uma apreciação de espíritos livres e clarividentes, sem sombra de insolência, mas profundamente satisfeitos da ordem justa das coisas.

Mais um fato, dentre os muitos do ano passado: explicávamos, no catecismo, o quarto mandamento; quatro meninos, de seis a oito anos, enxugavam a louça; criam-se a sós; mas, enquanto isso, uma senhorita corrigia seus cadernos numa sala vizinha, cuja porta estava aberta. Estes são os mais velhos, que tem o hábito de lavar a louça em paz e conscienciosamente.

A conversa a sós estava bem animada:

          Roberto: tua mãe te dá muita bronca?

          Carlos: Ah sim, e me castiga mais que às meninas.

          Roberto: Por quê?

          Carlos (sem modéstia): Porque as meninas fazem menos besteiras do que os meninos (ele tem três irmãzinhas).

          João: E quando tua mãe te castiga, ela te bate?

          Carlos: Antes ela me explica, sempre, e depois que eu entendo, ela bate bem forte. Aí, então, tomo juízo.

          Roberto: Quem me bate é o papai. Ele pega um couro e bate bem forte. E o teu pai, ele é duro contigo?

          Carlos: Menos que a mamãe, porque ele quase sempre está fora. Mas mamãe conta pra ele.

          João: Meu pai começou a dar bronca há pouco; desde que estou na Péraudière, ele dá muito mais bronca.

          O quarto menino não disse nada. E você, que teu pai e tua mãe fazem?

          Paulo, (envergonhado e, mesmo assim, tentando se gabar): Mamãe se zanga e meu pai também.

          João: Mas eles te castigam?

          Paulo: Eles dizem que isso certamente vai acontecer.

          João: Então, fala para eles... Explica como se faz.

* * *

Alguém dirá: “Mas você não tem o direito de ‘julgar’ a culpa de ninguém”. Compreendamos: eu certamente não tenho o direito de julgar o seu grau de culpa e de responsabilidade. Não tenho este direito porque não tenho como exercê-lo. Não enxergamos o interior dos corações. Só Deus julga. Mas tenho o dever de julgar a espécie moral do ato. Dever inscrito na economia mesma da Lei: não matarásnão atentarás contra a castidadenão tomarás o bem alheio. Isto evidentemente significa que o homicídio, o adultério e o roubo são crimes e que aquele que os comete é culpado, é pecador.

A Caridade, a verdadeira, está em preveni-los disso; o que significa, em conformidade com a justa e familiar expressão, “fazer com que se sintam culpados”.

O sentimento de culpa, que é uma emoção, tal qual o pudor no inocente, é advertência e prevenção. É a ressonância na sensibilidade dos ditames da consciência; a culpa é a vingança da honra, a vitória da justiça, da justiça de Deus e de uma sociedade que reconhece o valor absoluto do Bem.

Bendita e terrível culpa, colada ao dogma do pecado original: tiveram vergonha e se ocultaram. “E o Senhor Deus chamou por Adão, e disse-lhe: Onde estás?”. O inimigo da Salvação enganou-os mortalmente: “sereis como deuses” A terrível e austera ironia do Todo-Poderoso faz crescer a culpa, torna-a aguda, cortante, até que os humilhe e mortifique: “Eis que Adão se tornou como um de nós!”

A alma envergonhada experimenta a feiúra e o ridículo do pecado. Então, ela escuta a promessa de um Redentor.

Açular o vício atacando o sentimento de culpa, não é caridade, mas crueldade satânica.

Face à Onipotência de Deus, à morte, ao inferno, ao amor de Nosso Senhor, à clareza dos seus mandamentos e da Cruz, confesso: sim, isto eu fiz. Em verdade, digo que fui insensato. Eu me levantarei e irei ao meu Pai.

Demonstrar, pela razão e pela fé, a loucura do pecado à criança, após o ter meditado e vivido por si mesmo, é fortalecer seu coração e defendê-lo contra Satã; é despertar, ressuscitar de algum modo a inteligência; é incendiar de amor sua vontade e enchê-la de força para todo o sempre, quaisquer que sejam as quedas possíveis. 

Mas, ao contrário, “compreender” o pecado, pretender justificá-lo, é desarmar e desesperar (porque é enganar) a natureza livre resgatada por Jesus Cristo.

“Fatal”, “inevitável”, “renovador”, “enriquecedor”, — o pecado compreendido desta forma escapa à Redenção, e nos conduz ao inferno; o pecado, assim travestido, tornar-se-á inconsolável, inexpiável, irremissível.

* * *

Se compreender o ato pecaminoso é enfatizar as circunstâncias atenuantes, o melhor é recorrer à própria doutrina da Redenção. Aí, a psicologia há de encontrar tudo que é preciso.

O catecismo nos ensina que o pecado do anjo é irremissível, porque o anjo, puro espírito, vê diretamente, sem o véu da carne, a obrigação absoluta do serviço de Deus. Quando este diz: “Non serviam”, sua clarividência é completa, assim como seu consentimento; daí, precipita-se no inferno.

O homem, feito de corpo e alma, vê o Bem e a obrigação do serviço de Deus, mas sob os véus dos seus sentidos, aos quais falam as coisas sensíveis. O fruto proibido não era, para o homem, apenas proibido, mas “bom para comer e formoso aos olhos”. A mulher escuta a serpente e o fruto proibido é, em seguida, apresentado por Eva à Adão, que é fraco e complacente com relação à Eva.

Deus pode condená-lo e precipitá-lo no inferno; mas Ele condescende, porque o homem fora induzido pela fraqueza da carne, prometendo-lhe um Salvador após o seu arrependimento.

Mas o ato do pecado em si, em sua malicia essencial, é absurdo e incompreensível. É o mistério da iniqüidade em cada consciência. Preferir a criatura à Vontade do Criador, o prazer à eternidade da alegria, sublevar-se contra o amor de Nosso Senhor e recusar-Lhe submissão e obediência quando a razão e a fé gritam sua necessidade, isto, em si, no ato mesmo, é algo que não se pode compreender, é algo de incompreensível, e tão errado quando mau.

Daí ser preciso, para a conversão, contemplar, se assim podemos dizer, o absurdo do pecado e, depois de haver compreendido suas tristes circunstâncias (a fraqueza da carne, a cegueira da razão, a tibieza da fé), compreender também que tudo isso não explica a malicia intrínseca deste consentimento interior ao mal.

Neste ponto, o catecismo é esclarecedor. Para que haja pecado mortal, é preciso que haja:

1) matéria grave;

2) plena consciência;

3) pleno consentimento.

Isto é demonstrar o absurdo do pecado, em sua própria natureza; ora, um dos motivos mais eficazes de conversão, e que assegura a sua solidez, é a consideração do absurdo do pecado.

* * *

Muitas mães se preocupam com o catecismo. Querem encontrar catequistas, mas não pensam em ensinar o catecismo elas mesmas. Ficamos estarrecidos de ver tantas mães em tal situação. A mãe, a irmã ou o irmão mais velho e, porque não, o pai, os avós devem ser ou tornar-se capazes, o mais rápido possível, de ensinar em casa a doutrina cristã que receberam.

É preciso estudar. É um dever estrito, uma obrigação pela qual prestaremos contas no Tribunal de Deus.

Fiquei surpresa, no retorno às aulas, ao constatar que alguns destes pequeninos (6, 7 anos de idades) não sabiam o pelo-sinal, que os meninos maiores ignoravam o Pai Nosso e a Ave Maria em latim, ou responder o Angelus em latim.

Como é fácil remediar isso tudo!

Pacientemente repetimos que é preciso trabalhar o catecismo de São Pio X todo dia, o qual deve ser procurado, além do Catecismo do Padre Emmanuel (Catecismo da Família Cristã), sobre o qual Jean Madiran escreveu: “Se tiverem outros catecismos, este não será redundante. Se preferirem ter apenas um livro de catecismo, é este que recomendamos. É útil para a família inteira, em família; serve aos grandes e aos pequenos, aos pais e aos filhos.”

Mãos à obra! todo dia! A Santa Virgem abençoará esta meia hora arrancada, na busca do Céu, das ocupações da terra. As graças atuais serão dadas à professor materna,

junto com os frutos da luz e da paz no coração dos pequenos.

( Continua )

Do esgoto do mundo à salvação dos nossos filhos

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

O que me leva a escrever hoje é a constatação, cada dia mais evidente, da dificuldade que as famílias católicas têm para viver neste mundo enlouquecido e transviado. O espetáculo que estamos assistindo, e que não se limita ao carnaval, mas ao ano todo, e a todos os anos, é de meter medo. Nossas famílias, nossas melhores famílias, não conseguem se isentar deste mundo. Todos pactuam  com práticas diversas de destruição do que resta de decência e de família. Digo "família" porque já não há mais nada de sociedade a ser preservado, já não temos mais o que defender! Tudo está destruído. Mas talvez ainda possamos lutar dentro de nossas famílias, ou dentro de nossos corações.

Ora, é justamente esta constatação da destruição de todas as realidades sadias da  antiga sociedade que explica a dificuldade das pessoas em não se contaminar.  Explico.
Dentro de uma sociedade em vias de corrupção, as pessoas teriam de sair de casa tomando certos cuidados para não serem contaminadas: cuidados com os outdoors, com as bancas de jornal, com o convívio no trabalho, e até mesmo com  os assaltos na rua. Dentro de suas casas, haveria necessidade de lutar constantemente contra os programas de televisão, tomar cuidado com o tipo de gibi ou de video-game que compra para os filhos. Dentro de uma sociedade assim, indiferente a Deus e apóstata da Santa Religião Católica, os pais de família teriam de trazer para seus filhos um bom catecismo, uma Capela onde se celebre a Santa Missa Tridentina, onde o catecismo fosse ensinado segundo a doutrina de sempre da Igreja.

Mas não é numa sociedade em vias de decadência, que nós vivemos. E é nesse ponto que se encontra o erro de tantos pais. Ao achar que a questão é de grau de corrupção, eles procuram defender  suas famílias sem no entanto tirá-las do ambiente em que estão sendo corrompidas.
Vejam bem o que quero dizer: nossa sociedade já não tem mais nada que mereça a nossa atenção. Os valores em voga nessa sociedade formam um esgoto nojento e fedorento que emporcalha tudo e todos. Não há como escapar! Você sai na rua, você vai ao médico, você compra um jornal, você é engenheiro, ou advogado, ou motorista de ônibus, o que seja, o que se faça, na rua ou dentro de casa, o esgoto se espalha, contamina, agarra-se em nossas peles, transmite o seu cheiro insuportável. E é tal a realidade disso que estou dizendo, que, estando todos contaminados, estando todos sujos e fedorentos nas entranhas de nossos costumes e de nossos interesses, os homens não sentem mais o fedor de si mesmos! Todos agem,  pensam, falam, com os critérios da lama e da cloaca.

A tendência que nós teríamos, seria a de querer comparar todas essas realidades com os critérios da nossa antiga formação. Falaríamos do funk comparando com outros tipos de música: – Ah!, na minha época não era assim!  Falaríamos das pichações, e do homossexualismo, e do nudismo nas ruas, e do sexo desenfreado e vagabundo, do  aborto e das clonagens, sempre comparando, comparando...com o quê? Até quando?

Não, não podemos nos enganar. Não é mais possível esse tipo de sem-vergonhice. É preciso ter a coragem de dizer, de pensar, de saber: acabou! O mundo como nossos pais nos ensinaram já não existe mais. E se os homens ainda votam (meu Deus, ainda se acredita na mentira da "democracia"!!), se os políticos ainda nos governam, é por simples reflexo dos nervos da defunta sociedade liberal e apóstata.

Outro dia me contaram mais uma vez o caso de um professor de universidade, casado, bom pai de família. As mulheres da faculdade avançam sobre os homens, sem querer  saber se é casado, se não é;  umas dez para cada um, que falam com os homens já se encostando, já se entregando. E a pessoa que me contava isso, dizia: "elas já perderam tudo". Eu procurei mostrar ao meu interlocutor que, ao contrário, essas mulheres não perderam nada, porque não há nada mais a ser perdido. Perder, para um católico, é considerar que as mulheres, dentro de uma sociedade com critérios de bem e de mal, de virtudes e de vícios, abandonaram completamente os primeiros e vivem pelos segundos. Mas não é esse o fenômeno que assistimos. O que existe, de fato, é uma sociedade onde o bem e o mal não se opõem, onde não há virtudes e vícios, onde tudo é permitido, onde tudo é "bom". De modo que essas mulheres não agem assim por perversão delas. Não são maus elementos da boa sociedade. É a própria sociedade que é má, que é perversa. Elas nada mais fazem do que viver segundo os critérios desse mundo. Eis um exemplo que vem reforçar o que dizia acima, sobre o esgoto que está pelos ares, no ar que respiramos, nas conversas que temos, na casas como na rua.

E mais uma vez, espantados e agradecidos, é em São Paulo que vamos encontrar a explicação desse tremendo mal, desta horrível provação que é hoje pedida aos que querem se salvar:

«Porque nós não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares».

Vejam bem, o Apóstolo desdenha quase dos pecados pessoais, da carne e do sangue, para nos advertir sobre um tempo em que o mal estaria espalhado pelos ares. Que coisa impressionante! Que revelação tremenda recebeu de Deus São Paulo.
E o que é que ele nos recomenda  para uma situação tão tenebrosa? O combate, a guerra, a espada. Mas não podemos combater simplesmente com as armas comuns que usamos contra a tentação:

«Portanto tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e ficar de pé, depois de ter vencido tudo».

É, portanto, uma armadura, que nos cubra dos pés à cabeça, que nos leve à vitória total, sobre tudo, ou seja, sobre a própria sociedade erigida pelo demônio, pelo Anticristo, para a perda e condenação dos justos. Porque os maus, meus filhos, já estão condenados há muito tempo. O que o diabo não suporta é que haja ainda alguns loucos resistindo e querendo o Reino de Deus.

Que haja,  ainda, alguns doidos excomungados pela nova Religião de Vaticano II, conivente e "aberta para o mundo", que preguem o verdadeiro Evangelho de Cristo. Isso ele não suporta. Seu ódio mortal distila sobre esse esgoto do mundo uma saliva fétida e corruptora, que só o torna pior; porém, cheio de astúcias, o torna também mais enganador. E é assim que, insistindo em dizer que o mundo ainda é o mesmo, que as mulheres "perderam tudo", que em outras épocas "não se ouvia funk",  e coisas desse tipo, Satanás vai enganando os bons. E quem são os bons? São vocês. São vocês, que querem permanecer católicos, mas querem conviver com o mundo; que querem agradar a Deus, mas não rechaçam os prazeres mundanos. Que assistem à Missa verdadeira, mas acham que os protestantes são piedosos! Que lutam contra os pecados da carne, mas deixam seus filhos nas boates e na televisão.

E essa gente enganadora, esses cúmplices do demônio, Anticristos dessa nova sociedade má, declaram para quem quer ouvir isso que estou aqui denunciando.

Estando eu, numa sala de família onde alguém assistia a uma entrevista na televisão, o entrevistado, creio que falando em francês, espécie de artista já de idade, com uns cabelos brancos compridos, virou-se para a câmara e deu seu recado final, sua saudação alegre, sorridente, para os estúpidos que o admiram. Abriu os braços como quem mostra o mundo, e num sorriso simpático repetiu três vezes, lentamente, e com um gesto cada vez mais abrangente: Merde, merde, merde!

Que me desculpem os ouvidos pudicos. Mas diante de certas realidades, só o palavrão pode exprimir a realidade. E ele deve ser dito, para evitar que  uma palavra mais amena nos engane sobre a gravidade da coisa. Foi isso que ele disse, e disse bem, pois é esse o mundo que ele prega, é essa a cultura que ele produz, é esse o fedor e a cloaca de que eu falava acima.
E é por isso que os nossos, que os bons pais de família, não conseguem vencer os atrativos do mundo. É por isso que eles abrem as portas de suas casas e deixam entrar este ar tenebroso e fedorento. É porque está já tudo coberto por esta substância, de modo que nem os bons conseguem mais distinguir os perfumes da alma santa, da Igreja santa, da família católica.

Mas eis o que Deus nos revela  como sendo  nossa atitude diante desse quadro:
«E ouvi outra voz do céu que dizia: Saí dela, povo meu, para  não serdes participantes dos seus delitos e para não serdes compreendidos nas suas pragas» (Apoc. 18, 4)
No início do ano, em conversa com as famílias da Capela Nossa Senhora da Conceição, mostrei a elas que para manter-se fiel à Fé e perseverar na busca da salvação, diante do quadro avassalador em que se encontram nossos filhos, era necessária uma cumplicidade voluntária entre os pais e o padre. É preciso hoje,  que os pais trabalhem em conjunto com o sacerdote, querendo ouvir as orientações a que a moral católica nos obriga. Querendo estudar a doutrina, querendo que seus filhos sejam orientados, que tenham contato constante com o padre e com a Capela. Essa cumplicidade precisa ser vivida de modo prático e eficaz, na busca da oração, do Santo Terço dentro de casa, da fuga desse mundo corrompido e contagiante que está carregando de roldão o que vocês têm de mais amado, que são seus filhos. E vocês não estão conseguindo conter a avalanche, e estão se inclinando a achar que é assim mesmo, que todo mundo faz... e o mundo vai tendo cada dia maior presença em suas casas.

Cumplicidade significa renunciar a certas facilidades, a certos confortos, a muita televisão, a um comportamento indecente e imoral que se manifesta nas roupas, nas atitudes, nos gestos, no sexo precoce e pecaminoso. Cumplicidade é impedir, sim!, impedir que seus filhos ouçam esses funks e coisas semelhantes que só fazem arrebentar todas as forças espirituais da alma, movendo a carne para a sensualidade e para o pecado.

Cumplicidade significa organizar o lar de modo a que as atividades sejam orientadas; mas para isso, é preciso perder tempo, perder muito tempo, num esforço difícil mas necessário, organizando biblioteca e videoteca capazes de entreter seus filhos no bem. Vejam! O que eu entendo ser uma guerra para salvar seus filhos, é a presença da mãe junto deles, cada dia mais necessária, justamente no momento em que elas são cada dia mais empurradas para fora de casa, abandonando seus filhos, que vão ser criados numa creche ou por uma empregada. A mãe é chamada hoje,  não é ao fogão e ao tanque, não senhoras! É a um trabalho estafante, na rua, indo de livraria em livraria, de sebo em sebo, recolhendo livros bons, que sejam formadores de valores morais; comprando filmes que tragam algum proveito de  vida e de moral para os próprios pais e para seus filhos. O que as mães precisam fazer é formar-se na Universidade da Família, aprendendo a contar histórias, a brincar de roda, a inventar atividades e passeios, a ensinar música para seus filhos. Se fosse para fazer isso como educadoras, como diretoras de uma firma, como vendedoras de uma loja, aí elas ficariam encantadas... mas como é dentro de casa, ou pelo menos, como é para ser aplicado dentro de casa, elas reclamam, e querem a rua, querem o mundo.... Coisa estranha! Estranha contradição. Dizem que amam seus filhos, mas não querem estar a seu lado, na educação, à serviço de suas alminhas inocentes ameaçadas de morte prematura.

Creio que este papel reservado às mães, traria outras vantagens para seus filhos. Pois é evidente que duas ou três mães poderiam perfeitamente se juntar e trabalhar em conjunto, revezando-se talvez nas tardes ou manhãs livres, para juntar seus filhos em passeios e atividades. Logo apareceria uma que sabe tocar um instrumento, e eis que começa umas aulas de música, nessa idade delicada dos cinco ou seis anos, em que começa a formação musical e artística.
Parece ilusório o que lhes proponho? Talvez pareça ilusório porque as mães já não estão habituadas a esse esforço. Afinal, como é simples apertar um botão de televisão ou computador, e eis o silêncio das ovelhinhas  instalado no lar ... indo  para o  matadouro!
Não me parece ilusório porque são atividades próprias aos educadores, e os pais são educadores por obrigação e por graça de estado.

E se a objeção é o orçamento do lar, que a mãe precisa trabalhar senão não fecham as contas no fim do mês, respondo que são poucos os casos em que há verdadeira necessidade. O que se vê, em geral, é a busca cada vez maior de ter, de possuir, de gastar,  num vício desenfreado que vai contra a virtude da pobreza. Diminuam as necessidades, e que os maridos sejam mais eficazes nos seus trabalhos, pois cabe a eles a cumplicidade de fazer o possível para que a mãe possa criar seus filhos.

Lembrem-se que os filhos não são bonecos bonitinhos que só servem para satisfazer o orgulho e o amor-próprio dos pais, bonecos que se encostam numa creche ou numa televisão para que não atrapalhem o resto do dia. Ter filhos é obrigação de todo casal, e educar é carregar a Cruz de Nosso Senhor, abandonando a vontade própria para transmitir a Fé verdadeira, a verdade natural e sobrenatural, a moral de Deus e o amor ao próximo.

E para completar este combate onde as mães devem ser leoas rugindo contra o mundo devorador, onde os pais devem ser leões fortes e trabalhadores no sustento do lar, onde a família se encontra em todas as atividades, do ritual das refeições em comum, passando pela oração em comum para chegar à Santa Missa, venho exortá-los, agora, a que recebam a bênção do Sagrado Coração sobre as famílias, a Entronização no Lar do Sagrado Coração, como sendo a retaguarda espiritual dessa guerra tremenda e constante,  onde as forças espirituais devem ser preservadas, para que a vida natural não se perca seguindo os passos do demônio e do Anticristo. Façam a Entronização, façam a Renovação anual, e venham para a Capela, venham na 1ª Sexta, no 1º Sábado, receber de Nosso Senhor o Alimento Sacramental que nos dá a força sempre viva da Fé, da Esperança Teologal no sucesso e na Vitória, e a Caridade que é o próprio Deus vindo dentro de nós num dom de Si mesmo, como Amor Substancial. Que a Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição lhes dê forças para combater. É preciso desejar a vida eterna apaixonadamente, sem descanso. Não esmoreçam, pois o Senhor bate, já está às portas; Ele colhe, e queimará a erva daninha que não servir para o seu Celeiro.

Destruição da Família Lá e Cá

Julho 16, 2010 escrito por Dom Lourenço

Quando o Haiti foi destruído pelo terremoto, o mundo se solidarizou, enviou ajuda, donativos, voluntários (a imprensa noticiou que apenas 2% do que foi doado chegou ao Haiti. Onde está o resto? Sempre a mesma história, e os ingênuos continuam sendo enganados).

Quando o Chile sofreu um dos maiores terremotos da história, o susto aqui no Brasil foi mais importante, sendo o vizinho mais próximo, chegando mesmo a ser sentido em alguns lugares do nosso país.

Mas o que fazer quando uma Pátria vizinha, a Argentina, levanta-se com o deprimente  título de ter sido a primeira nação da América do Sul a permitir a união de homossexuais. Corre um arrepio no sangue brasileiro: quando será a nossa vez? O povo argentino mobilizou-se para impedir que seus políticos votassem de modo tão iníquo e contrário a Deus, à Pátria e à Lei Natural. Mas nada conseguiram! E nós, o que faremos?  Leia mais

A família sitiada

Relendo textos antigos sobre a Família

À medida que se aprofunda e, de social se torna cultural, a Revolução desloca seus ataques das instituições em escala nacional e da organização do Estado para a condição humana e a família. Mudar o próprio homem é o seu lema e o seu propósito. Pois, como observou Marcel Clément, se “a revolução política (a Rev. francesa) subverte essencialmente a ordem jurídica e se a revolução social (o socialismo) desagrega a ordem econômica, a revolução cultural “liquida” a ordem interior, espiritual, a fim de remodelar diretamente a alma humana sem qualquer escapatória” (Le Comunisme face a Dieu).

Sobre certos escritos modernos e a instituição da família

A família pudera-se muito bem definir como uma instituição humana essencial. Ninguém negará que ela foi a célula principal e a unidade central de quase todas as sociedades que até hoje existiram, excetuando-se, é claro, sociedades tais como a da Lacedemônia, que teve por objetivo supremo a eficiência e pereceu sem deixar vestígio de sua passagem sobre a terra. A despeito de sua profunda revolução, o Cristianismo nem por isso alterou aquela antiqüíssima e bárbara relíquia; não fez senão inverter-lhe a ordem. Não negou a trindade de pai, mãe e filho. Apenas a leu ao contrário, convertendo-a em filho, mãe e pai. E ela passou a chamar-se, não simplesmente família, mas Sagrada Família, pois acontece que muitas coisas ficam sagradas quando são vistas ao contrário. Entretanto, alguns sábios de nossa decadência têm atacado a família. Impugnaram-na, segundo creio, erroneamente; ao passo que outros a têm defendido, mas também equivocadamente. O argumento mais comum de defesa é o de que, em meio à tensão e ao torvelinho da vida, a família representa algo tranqüilo, agradável e coeso. Mas há um outro possível argumento de defesa, que me parece evidente, qual seja o de que a família não é algo tranqüilo, agradável ou coeso.

O quarto mandamento (Editorial)

Uma desordem total invadiu o nosso século. Em proporções gigantescas e com indomável força ela, dia a dia, conquista os núcleos básicos da comunidade humana.

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