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Capítulo 3 -- A profanação dos domingos e la Salette

Juntamente com a necessidade de se fazer reparação pelas blasfêmias, Nosso Senhor falou com a Irmã Maria de São Pedro sobre a necessidade de aplacar a Justiça Divina provocada pela dessacralização do domingo. O núcleo da mensagem pode ser resumido nas palavras da própria Irmã Maria:

“...[Nosso Senhor] ordenou que eu recebesse a santa comunhão todos os domingos:

1º em espírito de emenda honorável e de reparação por todos os trabalhos que se fazem nesse santo dia;

2º com o propósito de aplacar a justiça divina, pronta para punir, e de pedir a conversão dos pecadores;

3º enfim, para obter que se impeça o trabalho aos domingos."1

A irmã relata então o pedido de Nosso Senhor pelo estabelecimento de uma arquiconfraria especial para reparação das blasfêmias e da profanação causada pelo trabalho aos domingos. O próprio Jesus chama-a de “a mais bela obra sob o sol”. 2 Ele insiste, entretanto, ser necessário obter um Breve Pontifício para estabelecer a Arquiconfraria de Reparação, pois, de outra forma, a obra não teria fundamento nem futuro.

 

O Segundo e o Terceiro Mandamentos

À luz dos pedidos de Nosso Senhor, cabe uma pequena revisão do que se deve e não se deve fazer considerando o Segundo e o Terceiro Mandamentos. Trata-se de um breve resumo daquilo que encontramos em catecismos anteriores ao Vaticano II.

O Segundo Mandamento é Não Tomar Seu Santo Nome em Vão. Ordena que se tenha reverência ao se falar de Deus e das coisas santas e que se cumpram as promessas e votos feitos. Proíbe a blasfêmia, o uso irreverente do nome de Deus, que se fale sem respeito das coisas santas, as falsas promessas e a quebra de votos.

O Terceiro Mandamento é Guardar Domingos e Festas. Ordena que se vá à Missa aos domingos e em dias santos de guarda. Proíbe que se falte à Missa por culpa própria; trabalho servil desnecessário; compras e vendas públicas; julgamentos na corte.

Considerando apenas esses pontos, vemos uma das muitas razões pelas quais as revelações de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro são mais urgentes hoje do que quando dadas na década de 1840. À medida que entramos no 50º aniversário da revolução do Vaticano II 3, testemunhamos uma completa desconsideração pela santificação do domingo, em que a maioria dos católicos não se comporta de maneira diferente daquela de seus vizinhos ateus. Aos domingos, os shoppings centers enchem-se de clientes e os supermercados abarrotam-se de compradores. Como deve entristecer Nosso Senhor que o Dia do Senhor seja atualmente apenas mais um dia de comércio! A gravidade da ofensa a Deus pelo desrespeito ao Terceiro Mandamento é resumida nas próprias palavras de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro. Em 1847, Ele lamentava: “Os judeus me crucificaram na sexta-feira, mas os cristãos me crucificam no domingo.4

Os pedidos do Céu por reparação pelos pecados contra esses Mandamentos não foram feitos apenas à Irmã Maria. As mensagens dadas a essa santa carmelita estão ligadas a outro dramático evento que ocorreu simultaneamente numa pequena e sonolenta vila nas montanhas do sudeste da França.

 

La Salette

A Irmã Maria de São Pedro estava cada vez mais pesarosa porque o arcebispo de Tours não parecia disposto a emitir uma opinião sobre as revelações que ela vinha recebendo de Nosso Senhor, ainda mais por saber da importância da Obra de Reparação e do terrível castigo que se seguiria se os pedidos de Nosso Senhor não fossem atendidos. Nas profundezas de seu pesar, voltou-se para Nossa Senhora. Escreve ela:

“Sua Excelência não queria se decidir em favor da obra; sua prudência o impedia de tomar a iniciativa. Eu vi bem que só haveria esperança e consolação para mim na oração, pela intercessão de Maria, nossa poderosa advogada...” 5

E continua:

“...e eu recitava todos os dias o Rosário a fim de obter a salvação da França e o estabelecimento da Reparação em todas as cidades do reino; todas as minhas orações e comunhões, todos os meus desejos, todos os meus pensamentos se dirigiam a essa obra tão cara ao meu coração. Teria desejado, se possível fosse, proclamá-la por toda a França e fazer conhecer à minha pátria os infortúnios que a ameaçavam. Ah! Como sofro por ser a única depositária de algo tão importante, e estar obrigada a guardá-lo no silêncio do claustro!” 6

Lançou então um sincero apelo a Nossa Senhora:

“Virgem Santa, aparecei a alguém no mundo e deixai-lhe saber o que me é comunicado a respeito da França.” 7

Não sabemos a data exata em que a Irmã Maria fez essa oração, mas o Padre Janvier nos conta que foi bem antes de setembro de 1846. O padre também nos diz que, de 23 de março a 4 de outubro de 1846, a Irmã Maria não recebeu qualquer mensagem de Nosso Senhor. Houve silêncio. E foi durante aquele período que, em 19 de setembro de 1846, a Santíssima Virgem apareceu aos pequenos pastores Maximin e Mélanie em La Salette.

A mensagem de Nossa Senhora de La Salette foi uma reafirmação das palavras de Nosso Senhor para a Irmã Maria de São Pedro. Sobre o que alertou Nossa Senhora? Sobre “a impiedade que se exerce livremente pelo desprezo dos mandamentos de Deus, notadamente pela profanação do domingo e pela blasfêmia” 8. Isto é, pelos pecados contra o Segundo e o Terceiro Mandamentos. Advertiu ainda: “Se o meu povo não quiser se submeter, serei forçada a deixar cair o braço de meu Filho; está tão pesado que já não o posso mais reter.” 9

Na aparição de Nossa Senhora em La Salette, “a imagem do crucifixo estava sobre o seu coração; os instrumentos da Paixão, o martelo e a pinça, um de cada lado, ornavam seu peito.” 10

Léon Dupont, o fidedigno “Santo Homem de Tours”, foi um dos poucos a quem a madre superiora confiou o conteúdo básico das mensagens de Nosso Senhor à Irmã Maria. Assim, quando o Sr. Dupont soube que Nossa Senhora, em 1846, estava pedindo uma reparação praticamente idêntica à que Nosso Senhor pediu à Irmã Maria de São Pedro, creu em La Salette instantaneamente. Uma revelação, por assim dizer, reforçava e confirmava a outra. Da mesma forma, a irmã acreditou imediatamente em La Salette, vendo-a como uma resposta à oração que havia feito com tanto amor e angústia: “Virgem Santa, aparecei a alguém no mundo e deixai-lhe saber o que me é comunicado a respeito da França.”

Há assim uma profunda conexão entre a mensagem de La Salette e as revelações à carmelita de Tours. Veremos adiante que Nosso Senhor faz à Irmã Maria de São Pedro referência especial aos “instrumentos de minha Paixão”; os mesmos instrumentos que Maximin e Mélanie viram cercando o Coração de Nossa Senhora de La Salette. Antes, porém, de falarmos sobre essa conexão, temos de nos concentrar sobre o que foi o núcleo das mensagens de Nosso Senhor à carmelita: o pedido por Reparação e Devoção à Sagrada Face de Jesus. Veremos que Nosso Senhor está buscando “Verônicas para limparem e honrarem minha divina Face, que tem poucos adoradores” 11, e conheceremos em maior detalhe uma das mais poderosas devoções que o Céu já deu à humanidade. O próprio Jesus disse à Irmã Maria de São Pedro: “Por minha Sagrada Face, fareis prodígios.” 12

  1. 1. VSSP, p. 265.
  2. 2. VSSP, p. 290.
  3. 3. O texto de J. Vennari foi publicado originalmente em 2014. [N. do T.]
  4. 4. VSSP, p. 382.
  5. 5. VSSP, pp. 258-259.
  6. 6. VSSP, p. 259.
  7. 7. Ibid.
  8. 8. VSSP, pp. 259-260. Pe. Janvier refere-se ao texto do segredo de La Salette escrito por Mélanie em 1851 para ser entregue ao Bem-aventurado Pio IX. [N. do T.]
  9. 9. Conforme citado em VSSP, p. 260.
  10. 10. VSSP, p. 260.
  11. 11. VSSP, p. 215.
  12. 12. Abbé P. Janvier, M. Dupont et L’oratoire de la Sainte-Face, Tours, 3ª edição, 1880, p. 70.
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