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Art. 3 – Se o mundo tem um só governador.

O terceiro discute–se assim. – Parece que o mundo não tem um só governador.

1. – Pois, julgamos da causa pelo efeito. Ora, o governo dos seres manifesta que eles não são uniformemente governados e nem operam uniformemente; porque, certos fenômenos são contingentes, certos, necessários, e outros, ainda, tem modalidades diversas. Logo, o mundo não tem um só governador.

2. Demais. – Seres submetidos a um só governador não dissentem entre si, a não ser por imperícia, insipiência ou impotência do governador; o que não se pode supor em Deus. Ora, os seres criados dissentem entre si, entre si se combatem, como se vê nos contrários. Logo, o mundo não tem um só governador.

3. Demais. – A natureza sempre tende para o melhor. Ora, como diz a Escritura, melhor é pois estarem dois juntos do que alar um só. Logo, o mundo não é governado por um só governador, mas por vários.

Mas, em contrário, confessamos existir um só Deus e um só Senhor, conforme aquilo da Escritura: Para nós, há um só Deus, o Pai e só um Senhor. Ora, ambos dizem respeito ao governo: pois, ao senhor pertence o governo dos súbditos: e o nome de Deus é derivado da providência, como já se disse antes. Logo, o mundo tem um só governador.

SOLUÇÃO. – Necessário é admitir–se que o mundo tem um só governador. Pois, como o fim do governo do mundo é o essencialmente bom, que é óptimo, necessário é seja óptimo o governo do mundo. Ora, óptimo é o governo de um só. E á razão é que o governo não é senão a direção dos governados para um fim, que é um certo bem. Ora, a unidade se implica em a noção da bondade, como o prova Boécio; pois, como todas as coisas desejam o bem, desejam ao mesmo tempo a unidade, sem a qual não podem existir, porquanto, um ser existe na medida em que é uno. E por isso vemos que as coisas soberanamente repugnam à divisão, e que a dissolução de um ser provém de alguma deficiência sua. Por onde, aquilo para o que tende a intenção de quem governa a multidão é a unidade ou a paz. Ora, a causa da unidade, é o ser uno em si; sendo manifesto que diversos não podem unir e fazer concordarem, coisas múltiplas, a não ser que eles próprios se unam de algum modo. Ao passo que o ser uno, em si, pode ser causa da unidade mais convenientemente que muitos unidos; e por isso, a multidão é melhor governada por um só do que por vários. E conclui–se, portanto, que o governo do mundo, governo ótimo, provém de um só governador. E é isto mesmo que o Filósofo ensina: os entes não querem ter mal dispostos; nem é boa a pluralidade dos principados ; haja, pois, um só príncipe.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O movimento é o ato do móvel, proveniente do motor. Donde, a não uniformidade dos movimentos procede da diversidade dos móveis, exigida pela perfeição do universo, como se disse antes, e não pela pluralidade dos governadores.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Embora os contrários dissintam quanto aos fins próximos, convêm, contudo, quanto ao fim último, enquanto compreendidos numa mesma ordem do universo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Nos bens particulares, dois são melhores que um só; mas ao bem essencial nenhuma adição de bondade pode ser feita. 

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