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Art. 3 — Se todos os pecados procedem da tentação do diabo.

(Iª IIae, q. 80, a. 4; De Maio, q. 3, a. 5).
 
O terceiro discute-se assim. — Parece que todos os pecados procedem da tentação do diabo.
 
1. — Pois, diz Dionísio, que a multidão dos demônios é a causa de todos os males, pró­prios e dos outros. E Damasceno: todas as ma­lícias e todas as imundícies são excogitadas pelo diabo.
 
2. Demais. — De qualquer pecador pode-se dizer o que o Senhor diz dos Judeus: Vós tendes por pai o demônio. Ora, isto é porque pecavam por sugestão do diabo. Logo, desta sugestão vem todo pecado.
 
3. Demais. — Assim como os anjos são de­putados à guarda dos homens, assim os demônios, à luta. Ora, todo o bem que fazemos procede da sugestão dos bons anjos, porque mediante anjos é que recebemos os dons divi­nos. Logo, também todo o mal que fazemos provém da sugestão do diabo.
 
Mas, em contrário, se disse: Nem todas as nossas más cogitações são excitadas pela instigação diabólica mas às vezes nascem do movi­mento do nosso arbítrio.
 
Solução. — De dois modos se pode consi­derar uma coisa: direta e indiretamente. Indiretamente, quando um agente causa uma disposição para determinado efeito, diz-se que é ocasional e indiretamente a causa desse efeito; assim, se se disser que o que seca a ma­deira é a ocasião da combustão da mesma. E deste modo deve-se dizer que o diabo é a causa de todos os nossos pecados, por ter instigado o primeiro homem a pecar, donde resultou, para todo o gênero humano, inclinação para todos os pecados. E neste sentido devem-se entender as palavras aduzidas de Damasceno e Dionísio, na primeira objeção. — Diretamente porém considera-se causa o que obra algum efeito, de modo direto. E então o diabo não é a causa de todos os pecados, pois nem todos são come­tidos à instigação dele, mas muitos procedem da liberdade do arbítrio e da corrupção da carne. Porque, como diz Orígenes, mesmo que o diabo não existisse, os homens teriam desejo de alimentos, dos atos venéreos e coisas seme­lhantes; ora, em relação a tais coisas há muito desregramento se tais desejos não forem refreados pela razão, e, máxime, suposta a cor­rupção da natureza. Ora, refrear e ordenar esses desejos cai sob a alçada do livre arbítrio. Por onde, não é necessário que todos os pecados procedam da instigação diabólica. Mas se por­ventura alguns procederem dessa instigação pa­ra os cometer, os homens são atualmente enganados pelas mesmas blandícias com que o foram os nossos primeiros pais, como diz Isidro.
 
Donde se deduz a resposta à primeira objeção.
 
Resposta à segunda. — Pecados perpetra­dos sem instigação diabólica tornam, contudo, os homens filhos do diabo, enquanto o imitam a ele, o primeiro pecador.
 
Resposta à terceira. — O homem pode por si mesmo cair em pecado; mas, não pode obter mérito senão pelo auxílio divino, dado ao homem pelo ministério dos anjos. E por isso os anjos cooperam para todos os nossos bens, mas nem todos os nossos pecados proce­dem da sugestão dos demônios, embora não haja nenhum gênero de pecados que às vezes não provenham dessa sugestão.

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