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Quinta-feira após o domingo da Sexagésima: É preciso vigiar sempre.

Quinta-feira após o domingo da Sexagésima   
  
«Sabei que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria sem dúvida, e não deixaria minar a sua casa» (Mt 24, 43)
  
Porém, como ele não sabe a hora, é preciso que vigie por toda a noite.
 
A casa é a alma. Nela, o homem deve descansar, cf. a Escritura, "Entrando em minha casa", i. é, em minha consciência, "encontrarei nela o meu descanso" (Sb 8, 16). O pai de família é a razão, cf. "O rei que está assentado no seu trono de justiça, dissipa todo o mal só com o seu olhar" (Pr 20, 8).

Por vezes, o ladrão invade a casa. Ladrão é a persuasão de alguma falsa doutrina ou tentação. É aqui chamado ladrão no mesmo sentido que o da seguinte passagem do Evangelho: "Quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador" (Jo 10, 1). A porta é o conhecimento natural ou a lei natural. O que portanto entra pela razão, entra pela porta; mas o que entra pela concupiscência ou pela ira, etc, é um ladrão.
 
Os ladrões costumam agir à noite. Se viessem durante o dia, não os temeríamos. Assim, quando o homem está contemplando as coisas divinas, a tentação não vem; mas, quando se encontra remisso, ela vem. Por isso clama o Profeta: "Não me desampares no tempo da velhice; quando faltarem as minhas forças, não me abandones" (Sl 70, 9).
 
Assim, é preciso vigiar, pois ignoramos quando virá o Senhor, quando será o juízo. Também podemos compreender isso do dia da nossa morte. São Paulo escrevia aos Tessalonicenses: "Quando os ímpios disserem paz e segurança, então lhes sobrevirá uma destruição repentina" (1 Ts 5, 2). Por isso estai vós também preparados, porque o Filho do homem virá na hora em que menos o pensardes. Diz S. João Crisóstomo que, pelo desejo de bens temporais, o homem vigia de noite. Ora, se por coisas temporais vigia, quanto mais não deveria vigiar pelas espirituais?
 
É preciso lembrar a comparação de S. Agostinho: Suponhamos, diz ele, três servos que anseiam pela vinda do seu senhor. O primeiro diz: o senhor virá em breve, por isso vigiarei; o segundo diz: O senhor tardará, mas quero vigiar; diz o terceiro: Não sei quando virá, por isso vigiarei. Qual dos três falou melhor? Responde Santo Agostinho: o primeiro se engana terrivelmente, pois pensa que seu senhor logo virá; ora, se ele tardar, o servo corre o risco de dormir com o cansaço. O segundo pode estar equivocado, mas não corre perigo. O terceiro é o que age melhor, pois, na dúvida, sempre vigia. Portanto, não é bom fixar algum tempo.
 
   
In Matth., XXIV
      
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae. Tradução: Permanência)

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