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Quarta-feira após o domingo da Septuagésima: Sobre as boas obras

Quarta-feira após o domingo da Septuagésima   
  
  «Se alguém edifica sobre esse fundamento com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifestada será a obra de cada um» (1 Cor 3, 12-13)
 
I. As obras do homem que se apóia nas coisas espirituais e divinas se comparam ao ouro, à prata e às pedras preciosas, pois são sólidas, claras e valiosas; assim, pelo ouro se designa as coisas pelas quais o homem tende ao próprio Deus, pela contemplação e pelo amor, conforme aquilo do Apocalipse: "Aconselho-te a que me compres ouro provado no fogo" (Ap 3, 18), ou seja, sabedoria com caridade. A prata significa os atos com que o homem adere àquilo que é preciso crer, amar e contemplar. A Glosa relaciona a prata ao amor do próximo. Pelas pedras preciosas se designam as obras das diversas virtudes, com as quais se orna a alma humana.

As obras humanas, porém, pelas quais o homem procura bens corporais por si mesmos, são comparadas à palha, pois não tem valor: brilham, mas são facilmente reduzidas às cinzas. Diferem entre si, contudo, pois umas são mais estáveis, outras, mais facilmente destruídas. Os homens mesmos são, entre as criaturas carnais, os mais dignos e conservam-se por sucessão: são comparados à madeira. A carne do homem é a que mais facilmente se corrompe pela doença e morte: é comparada ao feno. Tudo que pertence à glória passa muito facilmente, e por isso se compara à palha. 
 
Assim, edificar com ouro, prata, pedras preciosas é construir sobre o fundamento da fé tudo o que pertence à contemplação da sabedoria das coisas divinas, ao amor de Deus, ao culto dos Santos, ao amor ao próximo e à prática das virtudes. Edificar com madeira, feno e palha é construir o que diz respeito às coisas humanas, ao cuidado da carne e da glória exterior.
 
 
II. Por vezes, o homem se volta para as coisas corporais. Isso se dá de três modos:
 
1. Quando o homem faz delas o seu fim e, por ser isso pecado mortal, não se pode dizer que edifica, e sim que destrói o fundamento e constrói sobre um outro. Pois o fim é o fundamento dos apetites.
 
2. Quando o homem as utiliza ordenando-as à glória de Deus. Isto não é construir com madeira, feno e palha, mas com ouro, prata e pedras preciosas.
 
3. Quando o homem, sem fazer delas o seu fim e sem querer fazer nada contra Deus, cobiça-as mais do que deveria, de tal sorte que é estorvado nas coisas de Deus: este peca venialmente. E isso é propriamente construir com madeira, feno e palha; pois toda obra que implica zelo às coisas temporais acarreta em pecados veniais, por causa do amor excessivo que se tem por elas. E este amor, conforme a intensidade, é comparado à madeira, ao feno, à palha.
 
 
In I Cor., 3
      
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae. Trad.: Permanência)

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