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Art. 3 – Se a avareza se opõe à liberalidade.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a avareza não se opõe à liberalidade.

1. – Pois, àquilo do Evangelho – Bem–aventurados os que tem fome e sede de justiça – diz Crisóstomo que há duas sortes de justiça ­ uma geral e outra, especial, à que se opõe a avareza. E isso mesmo diz o Filósofo. Logo, a avareza não se opõe à liberalidade.

2. Demais. – O pecado da avareza consiste em ultrapassarmos a medida, na posse das coisas. Ora, é a justiça que estabelece essa medida. Logo, a avareza se opõe diretamente à justiça e não, à liberalidade.

3. Demais. – A liberalidade é uma virtude média entre dois vícios contrários, como está claro no Filósofo. Ora, não há pecado contrário e oposto à avareza, como também está claro no Filósofo. Logo, a avareza não se opõe à liberalidade.

Mas, em contrário, a Escritura: O avarento nunca, jamais se fartará de dinheiro, e o que ama as riquezas não tirará delas fruto. Ora, não se fartar de dinheiro e amá–las desordenada; mente é contrário à liberalidade, que realiza o meio termo no uso das riquezas. Logo, a avareza se opõe à liberalidade.

SOLUÇÃO. – A avareza implica a falta de moderação no adquirirmos as riquezas, de dois modos. Imediatamente, no adquiri–las e conservá–las, quando se adquire dinheiro indebitamente, furtando ou retendo o alheio. E então ela se opõe à justiça e é nesse sentido que fala a Escritura: Os seus príncipes eram no meio dela como uns lobos que arrebatam a sua presa para derramar o sangue e para correr atrás do ganho para satisfazer a sua avareza. – De outro modo, quando faltamos da moderação nos afetos internos em relação elas; por exemplo, amando–as ou desejando–as com excesso, ou comprazendo–nos nelas exageradamente, mesmo sem nos apoderarmos das coisas alheias. E deste modo, a avareza se opõe à liberalidade, que modera essas afeições, como dissermos. Sendo nesse sentido que fala o Apóstolo: Que preparem a bênção. já prometida, que ela este já pronta, assim como bênção, não como avareza. Ao que diz Glosa; isto é, que se condoam com o dom e seja pouco o que dêem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Crisóstomo e o Filósofo se referem à avareza no primeiro sentido. Quanto à avareza, no segundo sentido, o Filósofo a denomina iliberalidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A justiça propriamente determina a medida na aquisição e conservação das riquezas, em dependência do que exige o débito legal, de modo que não adquiramos nem conservemos o alheio. Ora, a liberalidade constitui uma medida racional: principalmente, eles afetos internos; e por consequência, da aquisição externa e da conservação das riquezas e do gasto delas, enquanto procedentes do afeto interior. E não pela observância do débito legal mas do débito moral, dependente da regra da razão.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A avareza, enquanto oposta à justiça, não tem vicio oposto. Porque a avareza consiste em termos mais do que o deveríamos, por justiça; ao que se opõe o ter menos, o que não constitui culpa mas, pena. Ora, a avareza, enquanto oposta à liberalidade, tem como oposto o vício da prodigalidade.

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