Skip to content

Art. 4 – Se a avareza é sempre pecado mortal.

O quarto discute–se assim. – Parece que a avareza sempre é pecado mortal.

1. – Pois, ninguém digno de morte senão por causa do pecado mortal. Ora, pela avareza os homens são dignos de morte, conforme o Apóstolo, que, depois de ter dito: Cheios de toda iniquidade, de fornicação, de avareza, acrescenta: Os que fazem semelhantes coisas são dignos de morte. Logo, a avareza é pecado mortal.

2. Demais. –– O que há de mínimo na avareza é conservarmos o que é nosso desordenadamente. Ora, isto parece pecado mortal, conforme o que diz Basílio: O pão que reténs é do faminto; a túnica, que conservas, do nú; do necessitado, o dinheiro que possuis. Portanto, práticas tontas injustiças quantos bens que poderias fazer. Ora, fazer injustiças aos outros é pecado mortal, porque contraria o amor devido ao próximo. Logo, com maior razão, a avareza é pecado mortal.

3. Demais. – Só o pecado mortal causa a cegueira espiritual, que priva a alma da luz da graça. Ora, segundo Crisóstomo, a treva da alma é a cobiça do dinheiro. Logo, a avareza, que é a cobiça do dinheiro, é pecado mortal.

Mas, em contrário, àquilo elo Apóstolo – Se alguém levanta sobre este fundamento, etc. – diz a Glosa: A madeira, o feno, e a palha são empregados nesta construção por aquele que pensa nas coisas do mundo e que se preocupa com lhe agradar; o que constitui o pecado de avareza. Ora, quem constrói com madeira, feno e palha não peca mortalmente, mas venialmente; pois, dele diz ainda o Apóstolo: Será salvo como que pelo fogo. Logo, a avareza é, às vezes, pecado venial.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, a avareza tem dupla acepção. – Numa, ela se opõe à justiça; e então é genericamente pecado mortal e consiste na aquisição ou retenção injusta dos bens alheios, o que constitui roubo ou furto, que são pecados mortais como estabelecemos. Mas, neste gênero de avareza, o pecado pode ser venial, por imperfeição do ato, corno dissemos ao tratar do furto. – Noutra acepção, a avareza pode ser considerada enquanto oposta à Iiberalidade; e então implica amor desordenado das riquezas. Será portanto a avareza pecado mortal se o amor às riquezas for tamanho, que se sobreponha à caridade e nos leve a proceder contra o amor de Deus e o do próximo. Mas, será pecado venial se, embora amando as riquezas mais do que o deveríamos, não antepusermos esse amor desordenado ao divino, nem consintamos em, por causa delas, praticar qualquer ato contrário a Deus e ao próximo.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A avareza é enumerada entre os pecados mortais, quando realiza a noção desse pecado.

RESPOSTA A SEGUNDA. – Basílio se refere ao caso em que estamos obrigados, por um dever legal, a dar os bens aos pobres, por preméncia da necessidade ou ainda por os possuirmos com superfluidade.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A cobiça das riquezas entenebrece a alma, propriamente, quando exclui o lume da caridade, sobrepondo o amor das riquezas ao divino.

AdaptiveThemes