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Art. 2 – Se a avareza é um pecado especial.

O segundo discute–se assim. – Parece que a avareza não é um pecado especial.

1. – Pois, diz Agostinho: A avareza, chamada em grego philarguria, não tem por objeto só o dinheiro ou a moeda, mas tudo o de que nos apossamos imoderadamente. Ora, todo pecado supõe a cobiça imoderada de alguma causa; porque o pecado consiste em nos apegarmos aos bens transitórios, desprezando o bem eterno, como se disse. Logo, a avareza é um pecado geral.

2. Demais. – Segundo Isidoro, o avarento é assim chamado por ser como que ávido do dinheiro (avidus aeris), ou dos bens pecuniários: e em grego se chama philarguria, isto é, amor do dinheiro. Ora, o dinheiro, significativo dos bens pecuniários, abrange todos os bens exteriores, cujo valor pode ser medido pela moeda, como se estabeleceu. Logo, a avareza consiste no desejo de qualquer causa exterior. E portanto, parece ser um pecado geral.

3. Demais. – Aquilo do Apóstolo – Porque eu não conhecia a concupiscência – diz: É Glosa: É boa a lei porque, proibindo toda concupiscência, proíbe todo mal. Ora, parece que a lei proíbe especialmente a concupiscência da avareza, quando diz: Não cobiçarás os bens do teu próximo, Logo, a cobiça da avareza constitui todo o mal e portanto, a avareza é um pecado geral.

Mas, em contrário, o Apóstolo enumera a avareza entre os outros pecados especiais, quando diz: Cheios de toda iniquidade de malícia, de fornicação, de avareza, etc.

SOLUÇÃO. – Os pecados se especificam pelos seus objetos, como dissemos. Ora, o objeto do pecado é o bem que busca o apetite desordenado. Portanto, a cada espécie de bem desordenado que desejamos, corresponde um pecado de natureza especial. Mas, uma é a natureza do bem útil e outra, a do deleitável. Ora, as riquezas constituem essencialmente uma utilidade, pois, nós as desejamos na medida em que nos satisfazem às necessidades. Por onde, a avareza é um pecado especial, pois, é o amor imoderado de ter posses, designadas pelo nome de dinheiro e das quais a avareza tirou a sua denominação.

Mas o verbo ter que, na sua significação primordial, se aplica às nossas posses, causas de que somos totalmente senhores, se aplica também a muitos outros bens; assim, dizemos que o homem tem saúde, mulher, roupas e bens semelhantes, como se vê em Aristóteles. E por consequência, o nome de avareza foi ampliado, significando todo desejo imoderado de ter qualquer coisa, Assim, Gregório diz: A avareza tem por objeto, não só o dinheiro, mas também a ciência e as grandezas quando aspiramos a nos elevar sem medida. Portanto, é um pecado especial. E também nesse sentido é que Agostinho se refere à avareza, no lugar citado.

Donde se deduz clara a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Todos os bens exteriores, que servem ao uso da vida humana, recebem a denominação de dinheiro, enquanto são de natureza útil. Mas, há certos bens exteriores, como os prazeres, as honras e outros semelhantes, que podemos obter com o dinheiro, e que correspondem a outra noção de apetibilidade. Por isso, o desejo deles não se chama propriamente avareza, enquanto esta é um vício especial.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A Glosa citada se refere à concupiscência desordenada de uma coisa. Pois, pode–se entender que a proibição de cobiçarmos a posse de certas coisas abrange a cobiça de quaisquer outras que, por meio daquelas, possamos adquirir.

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