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Se Deus é a causa de tudo, como podemos ser livres?

Por Prof. Felix Otten, O.P., e C.F. Pauwels

 

Nota do editor: este artigo é o segundo de uma série de respostas concisas a perguntas e objeções contrárias à fé católica frequentemente encontradas. As perguntas e respostas foram adaptadas da obra “As Dificuldades Mais Frequentemente Encontadas” (em inglês: “The Most Frequently Encountered Difficulties”), do Prof. Felix Otten, O.P., e C.F. Pauwels, O.P., publicada originalmente em holandês em 1939. 

 

Pergunta: A Igreja Católica ensina que o homem é livre e, ao mesmo tempo, que Deus é a causa de tudo. Se é assim, então não seria Deus a causa de nossa vontade? E, se Deus sabe, de antemão, o que vamos fazer e até mesmo causa o que vamos fazer, então como podemos ser livres?

Resposta: Pessoas que fazem perguntas dessa natureza, normalmente, estão equivocadas quanto ao conceito de “causa”. Um tratamento científico completo dessa pergunta demandaria treinamento filosófico profundo; portanto apenas alguns comentários serão feitos aqui.

A afirmação “Deus é a causa de tudo” poderia levar a muitos mal entendidos. Alguém poderia concluir dela: “Então Deus também é a causa do mal”, e essa conclusão seria totalmente absurda. Então, em vez, devemos dizer: “Deus é a causa de todo o bem”. E, como há algo de bom em todo ato humano, então Deus também é a causa de todo ato humano; porém Deus não é a única causa daquele ato.

Deus move tudo, mas Ele o faz como causa primeira. Isso significa que Ele nos deu nosso livre arbítrio. O livre arbítrio é, portanto, enquanto um dom de Deus, a causa de nossos atos livres. E não poderia ser de outra maneira: a vontade livre é criada e, portanto, deve depender da causa primeira, a saber, Deus. E, por ser a causa primeira, Deus move todas as coisas de acordo com sua natureza. De acordo com a ordem criada por Deus, é da nossa natureza ser livres.

Então nem Deus, nem a vontade livre são a única causa das ações humanas: Deus e a vontade trabalham juntos como a causa primeira e a causa segunda. Isso não significa que Deus e a vontade fornecem, cada um, um pedaço desses atos, mas que tanto Deus quanto a vontade causam o ato. Deus é a causa primeira, e a vontade, a causa segunda. E, se Deus não agisse como a causa primeira, a vontade jamais poderia ser a causa segunda.

Essa é uma questão difícil, e não podemos fazer nenhuma comparação que ajude a esclarecê-la. Pois já que apenas Deus, que é o Criador de tudo, é a causa primeira, não há nada parecido com isso. A solução a essa pergunta reside nisto: Deus é a causa que leva uma outra causa inferior a ser uma causa por sua vez.

The Angelus, Março-Abril de 2020

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