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O Presente Natal da Virgem Maria

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

Desde o início do Advento temos meditado nos mistérios da Virgem Maria. Escolhi Nossa Senhora como objeto de nossa preparação ao Natal e tenho procurado acompanhá-la em todos os cuidados e prerrogativas com que foi agraciada por Deus. 

A vida extraordinária da Mãe de Deus começa com o mistério da sua concepção imaculada, preservada que foi do Pecado Original. Consideramos este primeiro pecado transmitido a todos os filhos de Adão e Eva como um óbice, um obstáculo à graça divina introduzido na alma de todos os filhos de Adão e Eva, por modo de geração. Todas as almas criadas por Deus para animar um corpo concebido neste mundo trazem essa tara, esse defeito inicial, pelo fato mesmo de terem sido gerados. Como a natureza humana em Adão e Eva deixou o Jardim do Éden ferida e decaída, tendo perdido a graça e também os dons preternaturais, era natural que todos nascessem sem o domínio da razão sobre as concupiscências. A natureza humana, depois do pecado, perdeu seu estado de integridade, tornando-se decaída. Além desse estado de miséria que nos arrasta tantas vezes ao pecado, Deus quis que nascêssemos todos com a mancha daquele pecado que nossos primeiros pais cometeram desgraçadamente. (Continue a ler)

Poderíamos pensar ser grande injustiça a terrível herança de um pecado que não cometemos. Mas se observarmos como seria o mundo se Deus não nos tivesse feito participar da miséria dos nossos primeiros pais, perceberemos que injustiça haveria nesse caso, e isto por duas razões. Primeiro porque Deus teria feito vistas grossas ao infinito orgulho e desobediência de Adão e Eva, permitindo que a humanidade guardasse a integridade de sua natureza e a possibilidade de alcançar a glória do céu sem nenhuma relação com o que aconteceu debaixo de certa árvore do Jardim do Éden. Em segundo lugar, porque Deus estaria desvinculando todos os homens dos laços que nos unem aos nossos pais. Adão e Eva expulsos do Paraíso, sofrendo as terríveis conseqüências do seu pecado, e nós, seus filhos, tranqüilamente gozando da felicidade trazida pela integridade da natureza e pela vida da graça. Isso sim, seria uma situação de grave injustiça.

A grandeza e a beleza da solução trazida por Deus ao drama do Pecado Original são tais que não nos permitem lamentações. O tesouro que a humanidade recebeu para voltar ao Paraíso não nos permite querer ou imaginar que teria sido melhor não nascermos com o Pecado Original. Deus inicia nossa vida de herdeiros de Adão e Eva dando-nos de presente a primeira moeda de ouro reservada para cada homem que vem a esse mundo.

O Batismo nada mais é do que a eliminação daquele obstáculo inicial, o que nos proporciona o desabrochar da graça na alma criada, iluminando-a com a luz divina, e tornando-a apta a amar a Deus na verdade do seu ser espiritual. É bem verdade que o homem não recupera a integridade da natureza, pois necessita praticar atos de virtude que o faça merecer a recuperação definitiva da integridade. Também é verdade que o homem não consegue agir com a virtude necessária para satisfazer à ofensa infinita causada pelo pecado de Adão e Eva e pelos nossos pecados pessoais. Por isso, além da perfeita justiça divina, devemos esperar na infinita misericórdia, mediante a qual Nosso Senhor Jesus Cristo conquista com seu Sangue derramado os méritos de justiça que, eles só, conseguem pagar pela infinitude do pecado. É deste tesouro de méritos conquistados na Cruz que Jesus Cristo empresta aos homens os méritos dos atos de virtude praticados por toda a humanidade ao longo de todos os séculos e milênios. 

A realidade começa a se mostrar em toda a sua profundidade. A vida do católico passa a ser uma grande aventura, pois a realidade da conquista da salvação pelo Sangue de Cristo não retira do homem sua obrigação de merecer e de satisfazer por seus próprios pecados. Árduo caminhar da humanidade na busca da salvação, porém iluminado pela graça distribuída abundantemente mediante os Sacramentos instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Salvador passa a ocupar um lugar de destaque em nossas vidas, presente que está em todos os momentos, em cada sacramento, em cada santa Missa ou confissão. Ele é o modelo do Homem, o novo Adão, que atravessa primeiro a entrada do Paraíso, para tomar posse da Árvore da Vida que nos dá a visão beatífica e a felicidade eterna.

Tudo isso parece simples para nós, confortavelmente instalados à sombra da Igreja tomando a fresca água da graça. Mas não podemos esquecer que foram necessários milênios para que os homens soubessem o caminho da salvação e recebessem a graça santificadora que é semente da glória futura. É curioso notar o desdém com que os cientificistas dos derradeiros séculos se riem quando a Igreja considera a cronologia bíblica de 6.000 anos desde a criação do mundo como expressão real do tempo cronológico. Para eles só vale o critério geológico, paleontológico ou simiesco. Para nós, a cronologia bíblica é longuíssimo tempo, exagerado, interminável, se considerarmos a pressa que a humanidade tinha em ver resolvido o seu drama hereditário, a tragédia do Pecado Original. Aqueles homens tinham pressa e cada geração, das milhares que passaram por Israel, deixava-se conduzir pela ilusão de que o seu tempo seria o tempo do Messias. Assim canta o poeta atribuindo a Nossa Senhora, entretida com a meditação de antigas profecias, um pensamento que resume todas as esperanças de Israel:

Oh! se eu fosse tão ditosa

Que com estes olhos visse

Senhora tão preciosa,

Tesouro da vida nossa,

E por escrava a servisse!

Que onde tanto bem se encerra,

Vendo-a cá entre nós,

Nela se verão os céus,

E as virtudes da terra,

E as moradas de Deus”.

A Virgem Maria, isenta da mancha do Pecado Original, foi concebida na graça, iniciou sua vida cheia de graças, na presença do seu Senhor, em previsão do que viria coroar sua existência alguns anos mais tarde. Não podemos reduzir nossa piedade filial para com a nossa Mãe do Céu a uma devoção sentimental, sem fundamento na realidade que permeia até hoje a alma da Virgem Maria. 

No primeiro instante de sua concepção, não apareceu na alma de Nossa Senhora o obstáculo à graça que de ordinário aparece nas almas de todos os homens. Preservada do Pecado Original ela já vem a esse mundo cheia de graças. Não foi necessário retirar o obstáculo para que viesse a graça. Além disso, da ausência do pecado na alma de Nossa Senhora resulta não se encontrar ali os desajustes causados na natureza decaída após o pecado. Nela não se encontra a escravidão ao pecado, nem o domínio da concupiscência sobre a alma, nem as fraquezas inerentes à essa natureza decaída. E se é verdade que Nossa Senhora podia sofrer e morrer, isso aconteceu como uma escolha de conveniência, para a nossa edificação, do mesmo modo que ocorreu com a Santa Humanidade de Nosso Senhor. Sua alma é criada com a natureza íntegra e na plenitude de graças que será, anos mais tarde, celebrada pelo Arcanjo Gabriel: 

Oh! Deus te salve, Maria,

Cheia de graça graciosa,

Dos pecadores abrigo!

Goza-te com alegria,

Humana e divina rosa,

Porque o Senhor é contigo”.

No momento em que é concebida, a Virgem Maria é a obra-prima da Criação. Será suplantada anos depois, se podemos dizer assim, pela criação da Santa Humanidade de Nosso Senhor, causa exemplar de todos os homens. Porém, é possível descrever a alma de Nossa Senhora com todas as metáforas que saíram do ensinamento dos santos e dos poetas. São Bernardino de Sena, citado no Tratado da Verdadeira Devoção, diz graciosamente que Deus Pai juntou todas as águas e as chamou Mar, e juntou todas as graças e as chamou Maria. Gil Vicente, por seu lado, descreve com sua arte as profecias do Antigo Testamento sobre as qualidades exemplares da Mãe de Deus:

“Aqui a chama Salomão

Tota pulchra amica mea,

Et macula non est in te.

E diz mais, que é porta coeli

Et electa ut sol,

Bálsamo mui oloroso,

Pulchra ut lilium gracioso,

Das flores mais linda flor,

Dos campos o mais formoso:

Chama-lhe plantatio rosa,

Nova oliva speciosa,

Mansa columba Noe,

Estrela a mais luminosa.

Et acies ordinata,

Formosa filha d'el rei

De Jacob, et tabernacula

Speculum sine macula,

Ornata civitas Dei.

Mais diz ainda Salomão:

Hortus conclusus, flos hortorum,

Medecina peccatorum,

Direita vara de Arão,

Alva sobre quantas foram,

Santa sobre quantas são.

E seus cabelos polidos

São formosos em seu grado

Como manadas de gado,

E mais que os campos floridos,

Em que anda apascentado.

É tão zeloso o Senhor,

Que quererá seu estado

Dar ao mundo por favor,

Por uma Eva pecadora,

Uma virgem sem pecado.”

Ser cheia de graças não é uma bela metáfora, mas a realidade da presença divina na alma de Nossa Senhora. E não poderíamos descrever todo o amor, toda a explosão de sentimentos os mais delicados e sublimes que permeiam essa relação do Criador com tal criatura, escolhida e preparada para ser a Mãe de Deus, para dar à luz o próprio Filho incarnado, o Novo Adão. Na alma da Virgem Maria está presente a graça santificante em grau maior do que a graça de todos os Anjos, dos Apóstolos, dos Mártires, enfim, de todos os santos reunidos. Ela é, verdadeiramente, Rainha do Céu e da Terra, e possui as qualidades requeridas para este título e poder, além de muitos outros.

Maria representa o nosso ideal de vida católica. Tudo o que desejamos ter de amor de Nosso Senhor, encontramos nela como modelo e plena realização. Não há situação que possamos imaginar, de bondade, de conhecimento, de comunhão, de união de almas, que não exista efetivamente entre a alma de Jesus Cristo e a alma de sua Mãe. Por isso devemos ouvir a exclamação de São Bernardo que atravessa os séculos a nos exortar: Ite ad Mariam! No sofrimento e na dor, no desânimo e nos temores da vida, nos momentos de angústias ou de grandes esforços, respice stellam, ite ad Mariam!

Mas o Natal nos apressa, os pastores reclamam, dizem que nossas explicações se alongam e os impedem de entrar em cena. Os reis magos fazem coro e perguntam quando poderão iniciar a longa viagem em busca da Estrela de Belém.

Cheguemos, pois, ao coroamento de todas essas prerrogativas e mistérios da alma da Virgem Maria. A Imaculada Conceição traz como conseqüência um mistério insondável. A coroa das graças em Nossa Senhora é a Maternidade divina, maior título dado à Virgem Maria, no dizer dos santos doutores, dos papas, dos teólogos de todos os tempos. Mais um passo é dado nos mistérios da Virgem quando ecoa por toda a Terra a palavra minúscula e a Palavra maiúscula. Fiat mihi secundum verbum tuum é palavra humana, um minúsculo Fiat, proferido por Nossa Senhora no momento em que todas as suas dúvidas são retiradas mediante as explicações dadas pelo anjo Gabriel, o qual, pacientemente respondeu a todas as indagações daquela mocinha graciosa e assustada que não podia crer no que seus ouvidos ouviam. 

“Justo é que imagine eu,

E que este muito turbada.

Querer quem o mundo é seu,

Sem merecimento meu,

Entrar em minha morada;

E uma suma perfeição,

De resplendor guarnecido,

Tomar pera seu vestido

Sangue do meu coração,

Indigno de ser nascido!

E aquele que ocupa o mar,

Enche os céus e as profundezas.

Os orbes e redondezas;

Em tão pequeno lugar

Como poderá estar

A grandeza das grandezas”!

Poucas palavras atravessaram os séculos com tanta admiração, com tanta contemplação como esse Fiat de Maria. A palavra é humana, proferida por esta mulher única e escolhida, flor perfumada, lírio do vale, para quem todas aquelas considerações sobre o Pecado Original não têm efeito. 

Ecce ancilla Domini,

Faça-se sua vontade

No que sua Divindade

Mandar que seja de mim,

E de minha liberdade”.

 

E esta palavra minúscula, humana, servil, é como a chave de toda a história da humanidade. O Fiat de Maria foi condição sine qua non para a Encarnação do Verbo. Ele provocou um acontecimento inusitado, único, singular: uma Missão no seio da Santíssima Trindade. A Palavra maiúscula, o Verbo divino e eterno, ao ouvir o eco que da Terra ressoou nos Céus com o Fiat de Maria, obedeceu como se Filho já fora, e recebeu no seio mesmo daquela Virgem, a natureza humana pela qual salvaria a humanidade. Uma troca se realiza: ela aceita ser a Mãe de Deus; o Verbo aceita encarnar-se para sofrer e morrer pela salvação dos homens. E tudo isso acontece mediante a intervenção da vontade de uma mulher que depois de um diálogo, no mínimo surpreendente, com um anjo do Céu, pronuncia sua palavra definitiva. Do Fiat de Maria chegamos ao Factum est de Jesus: “Et Verbum factum est, et habitavit in nobis”. “E por-lhe-ás o nome de Jesus”.

Como se não bastasse todas as relações de amor que vimos entre o Verbo divino e a alma de Maria Santíssima, passa esta a ser a Mãe de Deus. O próprio Deus humanado está agora em seu seio sagrado, onde encontra um digno habitáculo, sua morada santa e imaculada, onde receberá o corpo e o sangue formados por sua verdadeira Mãe. Deus escolheu a Virgem Maria para participar ativamente na formação da Santa Humanidade de seu Filho. Tamanha foi a intimidade de Maria com Deus nos meses de sua gravidez que se iniciou em sua alma um novo modo de conhecer e de amar a Deus. Aquela que já era cheia de graças, sem transbordar ou deixar de aproveitar qualquer excesso de graças, passa a um novo modo de se relacionar com Ele. Ela agora é Mãe, e carrega seu Filho em seu ventre, alimenta-o, forma-o e ama-o com um amor ainda maior do que qualquer mãe neste mundo. 

Mas a Virgem Maria não está só. Logo após a Encarnação do Verbo, São José a recebe em sua casa. O mesmo Gabriel tranqüiliza ao esposo de Maria avisando a este que a gravidez de Nossa Senhora era obra do Espírito Santo. Ao santo esposo de Maria é dado um papel de suma importância. As responsabilidades de José se multiplicam. Não apenas ele será responsável por sua querida esposa, mas agora deverá prestar contas da Mãe de Deus, da mulher escolhida desde toda a Eternidade para ser Rainha de todas as criaturas. Inicia-se a relação de autoridade do chefe da casa com a sua Rainha. São José governa, e Deus é zeloso dessa autoridade de chefe, pois que envia o Anjo Gabriel para todas as etapas difíceis da vida da Sagrada Família. 

Não há tempo a perder. Imediatamente partem a visitar santa Isabel para aí passarem os últimos meses dessa outra gravidez milagrosa, que trará ao mundo a São João Batista, o Precursor, aquele que preparará os caminhos do Senhor, no dizer do Profeta Isaías. São José e a Virgem Maria são testemunhas, nessa ocasião, do efeito causado pela presença do Filho de Deus na Terra. Ainda no seio da Mãe, Nosso Senhor santifica a seu primo João, apagando nele o Pecado Original. Santa Isabel profetiza, profere o Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.  

Mais adiante chega a ordem de fazer uma longa viagem. A gravidez de Maria aproxima-se do fim, e São José se vê obrigado a deixar sua casa para uma viagem difícil, incerta, perigosa. E seguem lentamente pelas montanhas, a Virgem sentada num burrinho, São José a pé. Vão a caminho de Belém, vão a caminho da bendita gruta onde há de nascer o Salvador. E na noite do Natal, mais um milagre acontece, e a Luz do mundo brilha no meio das trevas da noite escura de inverno. Na visão do poeta, Nossa Senhora pede conselho mais uma vez às virtudes, diante da situação precária onde há de nascer o seu Filho. 

“Senhora, a meu parecer,

Para esta escuridade

Candeia não há mister;

Que o Senhor qu'há de nascer

É a mesma claridade;

Lumen ad revelationem gentium

É profetizado a nós,

E agora se há de cumprir:

Pois para que é ir e vir,

Buscar lume para vós,

Pois lume haveis de parir?

Nem deveis de estar aflita,

Para lhe guisar manjar;

Porque é fartura infinita,

É chamado Panis vita,

Não tendes que desejar.

E se para seu nascer

Tão pobre casa escolheu,

Não vos deveis de doer,

Porque onde ele estiver

Está a corte do Céu.

Se cueiros vos dão guerra,

Que os não tendes por ventura,

Não faltará cobertura

A quem os céus e a terra

Vestiu de tal formosura.

(Neste passo chora o Menino,

posto na manjedoura.)

Agrupemos as personagens dessa impressionante história da nossa Salvação. Se considerarmos desde a Imaculada Conceição, devemos começar com São Joaquim e Sant´Ana, pais da Virgem Maria. Em seguida ela própria, essa filha singular, protagonista da História, a Virgem Maria. O Anjo Gabriel, São José, Santa Isabel e Zacarias, São João Batista, a multidão da milícia celestial, os pastores, os Reis magos e, finalmente a Criança posta na manjedoura. O quadro está completo para a nossa meditação de Natal.

Tudo gira agora em torno da Sagrada Família. Eis São José, que jamais imaginou sua vida de humildade, sua vida de trabalho, conduzindo-o a ocupar o mais alto cargo já dado a um chefe de família nessa Terra. Custódio, pai adotivo, guarda protetor, nutrício, e tantos outros títulos que se dá ao extraordinário esposo de Maria. E tudo isso São José desempenhou do modo mais simples, eficaz e completo que se poderia imaginar. Tudo o que aprendeu, observou, viu, contemplou nos anos de convívio com Jesus e Maria fez dele o maior santo do Paraíso. Para nós, que vivemos nesse fim de tempos, São José se apresenta como modelo de vida cristã. Nele encontramos as virtudes que se fazem cada dia mais necessárias para os homens modernos, tão viciados que estão na avalanche de falsas doutrinas, de falsas moedas, de falsos descansos, de falsas ocupações. Os homens falsificados de hoje necessitam de um padrão, de uma medida própria de homem, e a encontram no vigor, na virilidade, na castidade, na humildade de São José.

Eis a Virgem Mãe em contemplação diante do seu próprio Filho, o Messias, o Salvador. No momento em que o parto milagroso acontece a Virgem Maria recebe seu Filho em seus braços, o amamenta, o acaricia. Mais um aprendizado acontece no conhecimento e no amor entre aquela alma escolhida e a Santa Humanidade do Filho de Deus. Ela, que conhecera o amor de mãe durante os nove meses de gravidez, intensifica esse amor pela posse do seu Bem, do autor de todo bem, do Filho que ela toma consigo e não mais deixará. Não se trata mais das delicadas sensações da mãe que percebe seu filho crescendo e se mexendo em seu ventre, mas sim das mãos maternais que o seguram com carinho, dando amor e proteção ao frágil Criador do mundo. E ela também fará a sua grande riqueza no interior do seu coração.

Duas vezes os Evangelhos dirão que Maria conservava tudo o que via e ouvia, meditando sobre tudo em seu coração. Assim foi o Natal de Nossa Senhora. Porque razão deveria ser ele diferente do que é hoje, no seu trono de glória? Diante de todas as prerrogativas e privilégios que vimos presentes na Mãe de Deus, era normal que ela já vivesse antecipadamente todos os mistérios que viriam acontecer em sua vida aqui na Terra, e que continuasse vivendo-os no Céu. Lá no Paraíso, para onde subiu com seu corpo e alma, Maria continua sendo a Imaculada Conceição, continua, mais do que nunca, sendo cheia de graças, continua vivendo aquele dia especial em que viu São Gabriel... Ah! Ei-lo que passa voando e sorrindo para ela... Sim, ainda ouve o Ave Maria ressoando em seus ouvidos. E tudo o que viveu, sentiu, amou no momento em que o Verbo se fez carne em seu seio, continua ela vivendo na contemplação eterna da Beatitude do Céu. E o parto, e o leite, as conversas sublimes que durante trinta anos teve em sua casa de Nazaré, com Jesus e com José. E se é verdade que Nosso Senhor guarda no Paraíso as chagas gloriosas de sua crucifixão, como não pensar que o Coração Imaculado de Maria guarda a lembrança da espada que o transpassou, ela que é Co-redentora, Medianeira e Mãe de todos os eleitos do Céu.

Que essas meditações sobre o Natal de Nossa Senhora nos ajude a passar um Santo e Feliz Natal, na companhia dos anjos, dos santos que viveram com Ela essa linda e verdadeira história, na companhia de Jesus, Maria e José.

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