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XVIII. Proudhon

XVIII Proudhon

Viveu de 1809 a 1965. Filho de artesãos, autodidata (aliás, só em parte: foi bolsista no liceu de Besançon, seguiu cursos na Sorbonne etc.), ganha a vida como tipógrafo. Teórico e militante de um pensamento revolucionário bem diferente do marxismo.

Obras (entre outras):

“Qu’est-ce que la proprieté?” (1840);
“Systèmes des contradictions économiques” (1846);
“De la justice dans la Révolution et dans l’Église” (1858);
“La guerre et la paix” (1861); além dos escritos póstumos:
“La capacite politique de la classe ouvrière”;
‘Théorie de la proprieté” (onde atenua algumas das opiniões anteriores) etc.

Não gosta dos filósofos profissionais, que não são nem escritores, nem artistas, nem ao menos técnicos. Deseja edificar uma filosofia “prática e popular”. A obra é fundamental e essencialmente polêmica. Não possui sistema coerente e ordenado. A propriedade que chama de “roubo”, em uma célebre fórmula, não é bem a mesma dos teóricos do direito natural, mas “o poder de produzir sem trabalhar... o somatório dos abusos da propriedade” (Carta à Blanqui, irmão do famoso revolucionário e economista). Opõe-se tanto ao despotismo individual quanto ao grupal. Detesta de morte o jacobinismo. Ao falar de Rousseau, diz: “jamais homem reunira semelhante grau de orgulho de espírito, de secura d’alma, de baixeza de instintos, de depravação de hábitos, de ingratidão de coração. Jamais a eloqüência das paixões, a ostentação de sensibilidade, o paradoxal descaramento, empolgaram uma tal febre de entusiasmo”. Robespierre é o gênio mau da Revolução, Louis Blanc, tão-somente “a sombra pálida de Robespierre”... As invectivas contra o protestantismo são tão violentas, que é melhor nem citá-las. Dentre os teólogos católicos, tal como ocorre com os incréus leais e sinceros, não estima os liberais e ecléticos, mas os intransigentes. Atitude igual frente à política: condescende (ao combater- lhes) diante de Maistre, De Bonald e sua linha doutrinal. Por outro lado, ridiculariza Lamennais, literalmente...

Para ele a guerra tem um papel fecundo, e suas fórmulas nesse assunto são estranhas em um homem dito “de esquerda”.

Todavia espera o advento de uma era de paz, em que reinará o “mutualismo” e prevalecerá o idealismo moral (Proudhon é um quase puritano; suas opiniões a respeito da psicologia feminina eram tão ingênuas que nesse domínio fora vítima de um engodo célebre...). Tem por objetivo a instauração de um sindicalismo tecnicista, mas subordinado à idéia de justiça (que é seu tema predileto: ela é “a vida, o espírito, a razão universal”).

Ele é um revolucionário bem peculiar. Os marxistas detestam-no e ridicularizam-no. O “Système des contradictions économiques” tinha por subtítulo “Philosophie de la Misère”1. Um ano depois, Marx respondia através da obra “Misère de la Philosophie” (1847), e ambos indispuseram- se totalmente. Proudhon trata Marx por “tênia do socialismo”, e Marx chama-o de “merceeiro” (grande ofensa!) e de “saltimbanco fanfarrão”. De fato Proudhon desconhece o espírito da dialética, tão cara ao marxismo, a despeito dos elogios a Hegel. Apesar da oposição a Napoleão III, não corta os laços com o poder imperial, a ponto de, aos olhos de alguns, estar comprometido com o suserano. Não obstante os exageros e grosserias anti- religiosas e revolucionárias, no fundo é um reformista. Exilado na Bélgica sob o pseudônimo “Dufort”, desentende-se com os refugiados políticos egressos depois do 2 de dezembro; Napoleão III concede-lhe a remissão da pena.

Sem a mesma influência do marxismo, seu pensamento conserva importância como a encarnação do trabalhismo tipicamente anti-totalitário, que influenciará pessoas como Tolain, alguns membros da Comuna de Paris, sindicalistas como Pelloutier, autores independentes como George Sorel e até militantes da “Action Française” (antes de 1914, havia um “Cercle Proudhon”, agrupando por sua vez sindicalistas trabalhadores e Arautos do Rei [Camelots du Roi], sobretudo Henri Lagrange, morto na guerra).

Da mesma forma, as analogias entre suas idéias e as de Péguy são bem evidentes. 

 

  1. 1. Como Péguy mais tarde (“A pobreza carece de brioches, mas a miséria necessita de pão”) Proudhon quer acabar com a miséria, mas não com a pobreza, já que possui uma concepção ascética da vida humana, repugnando-lhe o ideal do conforto e da abundância (comparar com Platão).
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