Apresentação
Quando os nossos leitores abrirem esta carta para ler, a cidade de Assis estará sendo palco de mais um “atentado terrorista” contra a fé católica. Mais uma vez a Igreja Católica estará achatada e humilhada, quando seus principais hierarcas, usando indevidamente o seu nome, abusando do poder que lhes foi confiado pelo Divino Espírito Santo, ao invés de pregar e defender a fé, estarão pactuando com o erro, com a heresia, com as falsas religiões. Já publicamos neste dossiê sobre Assis 2002 as passagens da Encíclica Mortalium Animos, do Papa Pio XI, que condena toda e qualquer reunião ecumênica. Cabe explicitar a razão principal dada pelo Papa: só a Igreja Católica é divinamente Revelada por Deus. Todas as demais religiões são invenções humanas que podem servir para exprimir um sentimento natural de religiosidade, mas nunca poderão representar a vontade divina e seus ensinamentos infalíveis. É assim rebaixar a Igreja Católica levá-la a se juntar com as falsas religiões. Para mostrar o quanto o ecumenismo atual, pregado por Vaticano II e pelo “Espírito de Assis”, é falso e condenado pela Igreja, publicamos hoje esta carta, editada em 1985 pelo jornal francês “Courrier de Rome” (nº 66) e retomada pelo Boletim da Fraternidade São Pio X na Internet (DICI nº 38). Esta carta é dirigida ao Papa João Paulo II e rebate suas afirmações ecumênicas com citações e explicações da doutrina católica. LEIA A CONTINUAÇÃO
Santíssimo Padre,
Tudo o que acontece de impróprio durante as vossas viagens nos enche de amargura. No passado já assinalamos um episódio que ultrapassava os limites do tolerável, atribuindo a responsabilidade dele à vossa comitiva, à qual caberia o zelo de impedir tudo o que não condissesse com a vossa suprema dignidade de Vigário de Cristo. Mas por ocasião da vossa última viagem à África foram as vossas próprias palavras e atos o que nos encheu de estupor e de consternação. Referimo-nos aqui ao discurso que haveis dirigido aos jovens muçulmanos em Casablanca (cf. Obsservatore Romano de 21 de agosto de 1985, página 5: Um encontro no espírito do Concílio Vaticano II), à vossa prece na “floresta sagrada” de Lomé, e aos gestos que fizestes em Kara e Togoville (cf. Osservatore Romano de 11 de agosto de 1985, página 5: Uma prece na “floresta sagrada”).
Santíssimo Padre, as vossas palavras ressoaram em toda a Igreja, e os vossos atos foram executados sob o olhar de toda a Igreja. É por isso que consideramos dever nosso manifestar-Vos publicamente o nosso desacordo.
1) Vós dissestes aos jovens muçulmanos: “Nós cremos no mesmo Deus, no Deus único, no Deus vivo.”
Não, Santíssimo Padre, nós, os católicos, não cremos no mesmo Deus que os muçulmanos. Nós cremos no Deus que se revelou plenamente em Jesus Cristo, enquanto os muçulmanos crêem num Deus que se teria revelado plenamente por meio de Maomé. Nós cremos no Deus único e trinitário, enquanto os muçulmanos rejeitam a Santíssima Trindade como a uma forma de politeísmo. Nós cremos no Deus cuja Segunda Pessoa encarnou em Nosso Senhor Jesus Cristo para nos remir, enquanto os muçulmanos rejeitam a Encarnação e negam a necessidade da Redenção.
Assim, o Deus em que crêem os muçulmanos não é o mesmo Deus, “Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”, em que cremos nós, os católicos.
2) Vós dissestes: “Por seu lado, há vinte anos, por ocasião do Concílio Vaticano II, a Igreja empenhou-se, na pessoa dos seus bispos, ou dos seus superiores religiosos, em buscar estabelecer uma colaboração entre todos os crentes. Ela publicou um documento acerca do diálogo entre as religiões (Nostra aetate). Ela afirma que todos os homens, e especialmente os homens de fé viva, devem respeitar-se, superar toda a discriminação, viver em conjunto, e servir a fraternidade universal.”
Não, Santíssimo Padre, a Igreja de modo algum recebeu do seu divino Fundador a missão de promover a colaboração entre os que crêem em qualquer divindade convidando todos a se respeitar mutuamente em suas diversas crenças, ainda que falsas, com o objetivo de realizar uma “fraternidade universal” que não se poderia realizar senão no plano natural. O homem de modo algum foi criado por Deus para “servir a fraternidade universal”, mas para servir o verdadeiro Deus na verdadeira religião; a missão da Igreja é pois levar aos homens, incluídos os muçulmanos, o único Evangelho da salvação, opondo a verdade revelada ao erro. Da aceitação desta verdade brota a fraternidade universal, é fato, mas fraternidade sobrenatural que se funda na adoção como filhos de Deus pelo único batismo. Ora, Vós traçastes nitidamente no Concílio uma linha de divisão de águas, o ponto de partida de um novo curso da Igreja. A partir do Concílio, com efeito, a colaboração com os cristãos de outras religiões (que não era desconhecida no passado, mas que não se praticava senão em circunstâncias determinadas e em condições precisas, a saber, quando era efetivamente boa e honesta e jamais em detrimento da fé) traduz-se — coisa que jamais sucedera —pela renúncia a anunciar o evangelho, e pois à missão em que se resume toda a razão de ser e de agir da Igreja.
É como se a “fraternidade universal” fosse o valor mais alto de todos, ao qual tudo se subordinasse e sacrificasse, até a Verdade mesma, quando, com efeito, a Verdade é que é o valor supremo, ao qual todos os demais valores se subordinam e, quando é o caso, se sacrificam, incluída a fraternidade humana. “Não julgueis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada” (Mt. 10, 34, cf. Lc. 12, 51).
Em razão da liberdade humana e da natureza humana decaída, a Verdade separa para o tempo e para a eternidade os que a aceitam dos que a rejeitam. O próprio Cristo, sendo a Verdade, é sinal de contradição. Mas não é lícito, por isso, pô-Lo de lado para “viver em conjunto e servir a fraternidade universal”; isto significaria fazer da Igreja Católica, em nome do Concílio Vaticano II, um duplo da maçonaria.
3) Vós dissestes: “O testemunho da fé, que é vital para nós, e que não pode padecer de infidelidade nem de indiferença à verdade, faz-se no respeito às outras tradições religiosas, porque cada homem tem de ser respeitado no que ele é de fato e pelo que crê na sua consciência”.
Não, Santíssimo Padre, o testemunho da fé não pode conciliar-se com o respeito às “outras tradições religiosas”, pois esse respeito implica precisamente a infidelidade a Deus e a indiferença com relação à verdade. O respeito às “outras tradições religiosas”, que não são a única Religião divinamente revelada, equivale ao respeito ao erro, e o erro não deve ser respeitado, mas combatido, porque é contrário a Deus.
O homem não tem, portanto, o direito de esperar ser respeitado “no que ele é de fato e pelo que crê na sua consciência”, pois isso equivale a exigir respeito até ao mal e ao erro. O homem deve ser respeitado pelo que Deus o chama a ser, e sua consciência deve ser respeitada na medida em que adere à verdade objetiva. “Se, porém, [teu irmão] te não ouvir [...] dize-o à Igreja. E, se não ouvir a Igreja, considera-o como um gentio e um publicano” (Mt. 18, 15-17).
A caridade da Igreja, pautando-se pelo modelo da Divina Caridade, sempre distinguiu entre pecado e pecador, entre o erro e o que o comete, odiando “de um ódio completo” (Salmo 138, 23) o pecado e o erro como opostos a Deus e obstáculos à perfeição do homem, e amando o pecador e o extraviado não enquanto tal, mas enquanto ainda capaz de aderir à Verdade e ao Bem (S. Tomás II-II, q. 25, art. 6). Os condenados, com efeito, que perderam definitivamente tal capacidade, estão definitivamente excluídos desta Caridade.
4) Vós dissestes aos jovens muçulmanos: “A Igreja católica olha com respeito e reconhece a qualidade do vosso caminho religioso (isto está em itálico no texto original), a riqueza da vossa tradição espiritual. Nós, cristãos, também temos orgulho da nossa tradição religiosa.”
Santíssimo Padre, Vós exprimistes com isso, em nome da Igreja, um estímulo a um caminho religioso saído da fantasia de um exaltado e que se cumpre no erro, na recusa de Nosso Senhor Jesus Cristo, sem o Qual ninguém pode salvar-se, e da sua Igreja, fora da qual absolutamente não há salvação. Com aquelas palavras Vós confirmastes os muçulmanos no erro. Ademais, Vós pusestes no mesmo plano a tradição espiritual muçulmana e a Divina Revelação, que nos foi transmitida infalivelmente por Pedro e por seus sucessores. Vós humilhastes, assim, a Tradição católica e elevastes a tradição muçulmana a um plano que absolutamente não lhe cabe.
Entre outras coisas, vossas palavras parecem aprovar todos os crimes cometidos pelo Islã contra a catolicidade pela “guerra santa” (trata-se de algo completamente distinto da “fraternidade universal”!), guerra que, sendo para os muçulmanos um dos cinco principais deveres religiosos prescritos pelo Alcorão, é inseparável tanto de seu “caminho religioso” como de sua “tradição espiritual”. Implicitamente, vossas palavras significam a condenação de todos os pontífices, como São Pio V e o bem-aventurado Inocêncio XI, que combateram o Islã para permitir à Europa católica sobreviver. Santo Padre, é-nos permitido recordar-vos que, sem a “tradição espiritual” islâmica, que elogiastes, a Igreja Católica não teria sido expulsa da África do Norte e que, lá onde há hoje milhares de jovens que crêem em Alá, haveria milhares de jovens que creriam em Nosso Senhor Jesus Cristo?
5) Vós dissestes: “Eu acredito que nós, cristãos e muçulmanos, podemos reconhecer com alegria os valores religiosos que temos em comum e dar graças a Deus por isso. Uns e outros cremos em um Deus, o Deus único, que é plenitude de Justiça e plenitude de Misericórdia; cremos na importância da oração, do jejum e da esmola, da penitência e do perdão; cremos que Deus será juiz misericordioso no fim dos tempos, esperamos que após a ressurreição ele estará satisfeito conosco, e sabemos que estaremos satisfeitos com Ele.”
Não, Santo Padre, não podemos nós, os cristãos, alegrar-nos desses valores religiosos que os muçulmanos teriam em comum conosco, dado que desses valores religiosos está excluída a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo e em sua Igreja. Antes da Redenção, era necessário, para salvar-se, crer não somente em Deus mas no Cristo que viria; com mais forte razão após a Redenção, é necessário crer não somente em Deus mas Também no Cristo que veio. Nenhum homem pode pois esperar encontrar um Deus juiz misericordioso no fim dos tempos se não aceitou Jesus Cristo e sua Igreja. Até as próprias obras de justiça que cumprimos não nos salvam por si mesmas, mas em virtude da nossa incorporação ao Cristo (1 Co. 16, 2-3). Se, no fim dos tempos, muçulmanos se salvarem, não será em virtude de sua pseudo-religião, mas, apesar de sua pseudo-religião, em virtude deste desejo de Cristo e de sua Igreja que está implícito na disposição moral de cumprir fielmente a vontade de Deus e na observação da lei natural (Rm. 2, 14-16); desejo que pode substituir, em caso de ignorância invencível ou de impossibilidade, a fé real em Nosso Senhor Jesus Cristo e o pertencer efetivamente à Igreja Católica. Isto não tira nada a esta verdade da fé divina e católica segundo a qual pertencer à Igreja é necessário a todos para obter a salvação, e absolutamente não elimina os deveres que decorrem, para a Igreja, do preceito de seu divino Fundador:
“Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei” (Mt. 28, 19-20; cf. Rm. 1, 5).
6) Vós dissestes: “A lealdade exige portanto que reconheçamos e respeitemos as nossas diferenças. Evidentemente, a mais fundamental é o olhar que temos sobre a Pessoa e sobre a obra de Jesus de Nazaré. Vós sabeis que, para os cristãos, Jesus os faz entrar num conhecimento íntimo do mistério de Deus e numa comunhão filial com seus dons desde que o reconheçam e proclamem Senhor e Salvador.”
Não, Santo Padre, não é somente exigência de lealdade, e não se trata, menos ainda, de reconhecer e respeitar as diferenças recíprocas. Trata-se aqui de direito e de dever: dever da Igreja de anunciar Nosso Senhor Jesus Cristo e a salvação que Ele traz, direito das almas a esperar que ela O anuncie. Pois, contrariamente ao que vós pareceis dizer, a religião católica não é uma crença subjetiva dos cristãos, mas é a única Religião verdadeira, revelada por Deus, e que qualquer homem direito pode perfeitamente distinguir por certos sinais. E Nosso Senhor Jesus Cristo faz os fiéis entrar em comunhão com Ele não “desde que” eles o reconheçam e proclamem Senhor e Salvador, mas precisamente “porque” o proclamam e o reconhecem Senhor e Salvador. Pois é isto o que Ele é antes de tudo, não somente para os que já são cristãos, mas para todos os homens, incluídos os muçulmanos, que de modo algum se salvarão sem a graça d’Ele: só Cristo é “o caminho que leva a Deus”, e não o homem, como vós dissestes aos jovens muçulmanos em outro ponto de vosso discurso, ao passo que não lhes exigistes que “abrissem as portas”, exigindo-o somente dos cristãos.
Santo Padre, não queremos pôr em dúvida vossa fé, mas os vossos lábios, em Casablanca, não exprimem a fé de São Pedro, que não hesitou em confessar a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo diante dos mesmos judeus que o haviam crucificado.
7) Logo depois, Vós acrescentastes: “Aí estão as diferenças importantes, que nos é possível aceitar com humildade e respeito numa tolerância mútua; há aí um mistério acerca do qual Deus nos esclarecerá um dia, estou certo disso.”
Santo Padre, sentimo-nos obrigado a Vos dizer que hoje ainda nossos olhos crêem enganar-se ao ler isso. Vós, vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo, sucessor do que mereceu ser o príncipe dos apóstolos em razão da sua Fé, exigistes tolerância para a religião católica. Seria absurdo pensar que Vós não sabeis que “tolerância” quer dizer atitude a respeito de um mal teórico ou prático que se deixa subsistir, mas sem o aprovar, por alguma razão precisa. Vós portanto exigistes para a Verdade revelada o que se exige para o erro. Não insistamos no contra-senso que há em exigir dos muçulmanos tolerância no momento mesmo em que acabam de dar testemunho de sua própria fé, que prescreve precisamente a tolerância.
Por fim, Vós remeteis cristãos e muçulmanos a uma luz futura acerca do “mistério” de sua diferença de fé, quando não há nisto nenhum mistério, e quando acerca disto todas as luzes já foram dadas.
8) Que dizer depois dos vossos atos em Togoville, em Kara e em Lomé? Na periferia desta última cidade, Vós vos dispusestes a rezar, em comum, com os padres animistas e seus fiéis, na “floresta sagrada” de Bé, onde se invoca o “poder da água” e as almas divinizadas dos ancestrais. E duas vezes ao menos, em Kara e em Togoville — em Kara, antes da santa Missa! — Vós despejastes na terra, de uma cabaça, água e farinha de milho, gesto pelo qual se professa uma falsa crença religiosa.
Santo Padre, absolutamente não julgamos vossas intenções: como devido, deixamos esse julgamento a Deus. Mas perguntamo-nos se Vós avaliastes a gravidade do espetáculo que se apresentou aos fiéis e aos infiéis. Eles viram o vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo rezar num lugar consagrado ao culto de falsas divindades, e realizar práticas rituais pelas quais se professa uma falsa crença religiosa. Santo Padre, o vosso comportamento na África é para os infiéis um encorajamento a persistir no erro e nas práticas supersticiosas das suas falsas religiões; para os fiéis, é motivo de escândalo.
O vosso discurso em Casablanca, juntamente com as vossas atitudes, parece uma reprovação de toda a atividade missionária tal qual se deu durante dois mil anos na Igreja Católica: reprovação dos missionários que, a começar pelos Apóstolos, cumprindo a ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, anunciaram aos infiéis a necessidade da Redenção, e de pertencerem à Igreja para ser salvos, exigindo dos convertidos o abandono de todas as práticas ligadas às falsas religiões; reprovação da Igreja, que, fiel à ordem de Jesus, os enviou com esta missão, e canonizou os que foram fiéis a esta missão até a morte; reprovação do preceito mesmo de Jesus Cristo de anunciar o Evangelho a todos os povos e de os batizar em nome do Deus único em três Pessoas.
Santo Padre, é inegável que nas vossas atitudes e nas vossas palavras há ruptura com o ensinamento e a prática tradicionais da Igreja Católica. E, porque vos reivindicais do Concílio Vaticano II — e não poderíeis apelar para outros — Vós mesmo forneceis a prova mais autorizada de que o Concílio Vaticano II está em ruptura com o ensinamento divino católico em alguns de seus textos e em sua aplicação. A origem dessa ruptura deve-se buscar na aceitação de uma idéia de “liberdade religiosa” que, nascida fora da Igreja e contra a Igreja, se insinuou finalmente nos documentos conciliares, e foi posta em prática pelas mais altas autoridades da Igreja, particularmente Vós mesmo, não havendo nenhuma dúvida quanto ao erro de sua formulação.
Não nos referimos aqui somente à vossa recente viagem à África, mas também à vossa celebração ecumênica em Cantuária, ao vosso “encontro” com os luteranos no seu templo de Roma, à vossa “visita” à mais alta autoridade do budismo tailandês. Nessas ocasiões, os católicos viram a heresia posta no mesmo plano que a verdade, as pseudo-revelações agraciadas com a mesma autoridade que a única verdadeira religião, os falsos cultos postos em pé de igualdade com o verdadeiro culto.
Santo Padre, tudo isto é motivo de escândalo para o povo católico, que se pretende levar ao indiferentismo pela afirmação de que absolutamente não existe uma única verdadeira religião, mas que todas as crenças religiosas podem ser meios de salvação. Sem interrupção durante 150 anos, os Papas se sentiram obrigados, esclarecidos que estavam pelo ensinamento de Nosso Senhor transmitido por sua Igreja, a condenar a idéia de “liberdade religiosa”, à qual, ao contrário, o Concílio Vaticano II abriu as portas de par em par: os vossos predecessores previam, com justeza, os efeitos nefastos desse erro. E, com efeito, é este mesmo conceito de “liberdade religiosa” que se encontra na raiz de todas as “inovações” propostas pelos textos conciliares, e particularmente a desse falso ecumenismo, fonte envenenada de todas as reformas mais nefastas, a começar pela da liturgia, e das orientações mais perniciosas da época pós-conciliar.
Santo Padre, vinte anos de colheitas envenenadas bastam para julgar a árvore. É chegada a hora de reafirmar tudo o que a Igreja sempre ensinou acerca da “liberdade religiosa”, com todas as conseqüências práticas que daí decorrem.
Eis o que os filhos da Igreja temos o direito de esperar de Vossa Santidade. Pois, se temos o dever de manifestar nosso desacordo em matéria tão grave, não temos o poder de reparar o desastre que se torna cada dia mais evidente. É a Vós que Nosso Senhor Jesus Cristo confiou esse poder e, ao mesmo tempo, a autoridade suprema, e, com esse poder, o dever de guiar a Igreja em tempos normais e de salvá-la no momento da tempestade, para a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo e para a salvação das almas.
Com todo o respeito devido a Vossa Santidade.