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Nossa posição sobre a crise da Igreja

Para chegarmos a ter uma noção mais exata do que seja a nossa condição de católicos, hoje, consideremos a Igreja como existia na época ainda recente do papa Pio XII. Apesar das diversas dificuldades que vinham criar obstáculos à vida normal da Igreja, esta conseguia manter as almas no caminho do céu. Quantas ocasiões de aumentar a fé e a piedade dos fiéis: Congressos Eucarísticos, Encíclicas papais reiterando a doutrina de sempre da Igreja, grandes colégios formando jovens católicos e universidades comandadas por sacerdotes seguros e determinados. Se olharmos para o quadro de bispos que compunham o episcopado tanto aqui no Brasil como em outros países, ficamos impressionados com a qualidade de alma, a firmeza na fé de tantos deles. Havia os liberais, mas estavam sob o controle da Igreja que velava para que as almas não recebessem doutrinas e ensinamentos perniciosos à fé.

As igrejas estavam cheias e por toda parte havia associações católicas para o estudo da doutrina ou para ajudar seus associados a viver melhor a vida cristã: Apostolado da Oração, Filhas de Maria, Congregação Mariana, Cruzada Eucarística e outras formadas por associações de leigos, como foi outrora o Centro Dom Vital, o Legionário etc. Grandes homens brilharam em nossa sociedade, como Jackson de Figueiredo, Carlos de Laet, Gustavo Corção, etc.

A Igreja, nesta época, apesar de estar juridicamente separada do Estado em praticamente todos os países, continuava exercendo uma saudável influência na formação dos costumes, e servia também de muralha contra os excessos dos mundanos, dos racionalistas e ateus de diversos matizes.

As almas recebiam da Igreja todo o necessário para alcançar a vida eterna: sacramentos, ensinamentos, orientações espirituais, orientações sociais e políticas. Tudo isso seguramente estabelecido de acordo com os dogmas da nossa fé, com o que sempre, em todo lugar e por todos havia até então sido ensinado pela Igreja. Era essa a nossa grande segurança; era essa nossa maior alegria.

Ora, este quadro que acabo de lembrar acima, nada mais é do que a vida católica tal como deve ser ensinada sempre pela Igreja. Esta é a vida de que precisamos para alcançar nosso fim último que é a vida divina, no céu. E se a Igreja Católica, em sua essência, Corpo Místico de Cristo, é nossa Mãe e nos traz sempre todo esse conjunto de vida e santidade, já na sua parte humana, na sua hierarquia, nos homens que a governam, cabe-lhe um dever, uma obrigação recebida da boca de seu fundador divino, Nosso Senhor Jesus Cristo, de dar às almas este alimento diverso e salutar. Mesmo o Novo Código de Direito Canônico explicita esse dever:

 
«Os fiéis têm o direito de receber dos Pastores sagrados a ajuda dos bens espirituais da Igreja, especialmente os provenientes da Palavra de Deus e dos Sacramentos» (cânon 213 do Código de Direito Canônico).

Assim como um pai de família, antes de exigir amor e confiança da parte de seus filhos, tem por obrigação lhes dar sustento material e moral, segurança e educação, assim também a hierarquia católica só pode exigir de seus filhos, dos seus fiéis, amor, caridade, confiança e obediência, na medida em que trouxer para eles a firmeza da fé, a proteção contra os erros, a defesa contra as instituições mundanas criadas para perverter a humanidade. Não me parece difícil considerar assim as coisas porque são noções de respeito à própria natureza do homem e da sociedade humana. Aplica-se a qualquer sociedade, seja ela familiar, religiosa, empresarial ou governamental.

Hoje, quando nos acusam de desobedecer ao papa ou aos bispos; quando nos caluniam chamando-nos de cismáticos, as pessoas cometem um erro simples: exigem de nós uma atitude que só cabe num ambiente onde se preserva o mais importante, onde o dogma da  fé seria preservado e ensinado como nos tempos antigos, seja de São Pio X, ou Pio XI, ou Pio XII. Acontece que entre a morte de Pio XII e nós espalham-se quarenta anos. E esses quarenta anos foram e continuam sendo de um terremoto avassalador que derrubou a  fé!

Ao longo desses quarenta anos foram diversos os aspectos da destruição. No início, nos anos 60, tímida, ainda misturada com algum resto de catolicismo. Já nos anos 70 foi avassaladora, derrubando e destruindo costumes, dogmas, imagens, devoções; época de grandes perseguições contra todos os que queriam permanecer fiéis. Veio, em seguida João Paulo II e a revolução abriu-se para um ecumenismo desenfreado jogando a quase totalidade dos católicos num profundo ceticismo, no indiferentismo religioso que considera qualquer religião como verdadeira. Ao mesmo tempo, tendo tudo destruído do que era tradicional, iniciou-se uma espécie de reconstrução em novas bases, com fundamentos ecumênicos da nova Igreja mundialista: uma nova bíblia foi elaborada, um novo Direito Canônico, a nova Missa, novo Catecismo, novas devoções a Nossa Senhora, novos ritos de sacramentos. Essa reconstrução foi feita sob o comando do Cardeal Ratzinguer, que soube dar a estas novidades certa roupagem antiga escondendo realidades completamente novas e contrárias ao dogma da fé.

Esta é a questão principal: a partir do Papa João XXIII até o papa João Paulo II, sem exceções, o catolicismo foi sendo esvaziado de sua seiva, de sua vida, de sua fé. Todas as instituições católicas levantadas ao longo de dois mil anos para nos proporcionar a salvação eterna foram destruídas, postas abaixo, por essa nova hierarquia saída do Concílio Vaticano II.

Ora, se os membros da hierarquia não cumprem mais o seu sagrado dever de nos alimentar com a fé de sempre, como podem exigir aquela obediência, submissão, amor e confiança? Como podem nos acusar de não ter o espírito católico porque não queremos seguir ao papa ou aos bispos, se estes chefes não cumprem o seu dever em matéria gravíssima? Como podem exigir dos católicos que digam que Vaticano II é um concílio católico se foi nesta reunião solene de bispos que se delineou a destruição total do catolicismo operada de dentro da Igreja? Como podem exigir de nós que aceitemos uma missa nova que na teoria e na prática "se afasta no seu conjunto como no detalhe, da teologia católica da missa" como declarou ao Papa Paulo VI (com a devida demonstração teológica) o cardeal Ottaviani, então pró-prefeito do Santo Ofício? Um católico não pode ficar indiferente a estas graves questões que põem em risco a sua fé e a sua salvação, sem correr o risco de ouvir, de Nosso Senhor Jesus Cristo, no dia do Juízo Final, a condenação e o castigo por não termos defendido nossa fé, como é nossa mais grave obrigação.

Como muitos dos nossos leitores podem não ter vivido o ambiente de destruição operado pela hierarquia ao longo desses anos, proponho listar, sem pretensões de seguir ordem cronológica e sem pretender também abranger tudo, exemplos dessa obra perversa que destruiu a nossa fé católica. Assinalo que a longa lista é apenas um esboço sem desenvolvimento algum. Cada um desses itens poderia ser desdobrado e multiplicado em milhares de escândalos e erros. Veja a lista aqui.

Isso posto, ficando claro que a destruição do catolicismo é uma realidade, cabe ao fiel tomar uma atitude de defesa da fé. Isso não significa que estejamos recusando a autoridade do papa ou dos bispos; não significa que estejamos aqui afirmando que João Paulo II não é papa. E àqueles que dizem caluniosamente que somos sede-vacantistas só na prática, respondo que fica fácil esquivar-se da análise dessa situação que acabo de descrever, fazendo fumaça para tapar a vista dos fiéis. O que significa ser cismático na prática? Se em nossas missas o papa João Paulo II é nomeado, no cânon, assim como os bispos diocesanos, como podemos ter um espírito cismático ou sede-vacantista? Nada mais fácil seria omitir-se os nomes dos chefes da hierarquia, pois que são orações da missa ditas em silêncio. Ninguém perceberia. Mas isso não acontece. E como podem ser cismáticos fiéis que vão a Roma rezar pelo Papa no Ano Santo?

Para se guardar a honestidade e a boa fé é preciso encontrar outros caminhos para nos criticarem. Esse não tem fundamento. Se querem afirmar que estamos errados, provem. Levantem uma tese, mostrem que não existe crise, tragam seus argumentos. Se acham que a obediência ao papa e aos bispos não depende do depósito da fé, que provem isso com os argumentos teológicos que a situação exige! E a explicação correta é essa falta de confiança, esse repúdio vigoroso e total do erro que nos é ensinado há quarenta anos pelas autoridades da Igreja. De modo que se alguém pretende exigir de nós uma mudança de atitude em relação a essas autoridades, comece provando que elas já não ensinam mais os erros de Vaticano II. Comece explicando a tremenda contradição que existe entre Assis e o Catolicismo, entre Neo-catecumenal e Igreja Católica. Comece mostrando que essas autoridades já não ensinam mais o ecumenismo devastador da Religião, já não consideram mais a falsidade da liberdade religiosa, já não pregam mais a democracia no governo da Igreja, já castigam os escândalos que se repetem há quarenta anos nas celebrações e nos seminários.

Se alguns acham que, apesar dessa grave falência da essência do catolicismo, devemos, mesmo assim, obedecer ao papa e manter uma situação de legalismo como se a Igreja vivesse no tempo de Pio XII, digo que estão invertendo os valores em matéria grave. Estão dando maior importância ao jurídico em detrimento da fé. Podem trazer tantas citações quanto quiserem de entrevistas e conferências de Dom Antônio ou de Dom Lefebvre, onde estes dois grandes defensores da fé teriam falado de modo mais diplomático sobre as autoridades. E sempre responderei pedindo uma só citação onde eles teriam dito que seja preciso reatar juridicamente com o Vaticano sem que de Roma nos venha uma palavra confirmando a fé católica e condenando os erros hoje ensinados. Ao contrário são diversas as ocasiões em que exigiram a fé íntegra e total antes de conceder um assentimento e submissão às autoridades.

Esta é, portanto a nossa posição diante da crise da Igreja. Caso nosso leitor deseje desenvolver seus conhecimentos sobre estas dolorosas realidades, recomendo a leitura dos demais textos do nosso índice sobre a crise da Igreja, o índice de artigos, assim como os artigos de Gustavo Corção que se encontram em www.gustavocorcao.permanencia.org.br. Até quando vai durar esta crise? Não sabemos, nem cabe a nós determinar o dia ou a hora. Aos soldados que nós somos pede Nosso Senhor que estejamos alertas, em combate, porque os dias são maus. Que a Virgem Maria nos proteja no combate e que possamos dizer com S. Paulo: "guardei a fé" !

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