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Art. 4 – Se o profeta conhece pela revelação divina, tudo o que pode ser reconhecido profeticamente.

O quarto discute–se assim. – Parece que o profeta conhece, pela revelação divina, tudo o que pode ser conhecido profeticamente.

1. – Pois, diz a Escritura: O Senhor Deus não fará nada sem ter revelado antes o seu segredo aos profetas, seus servos. Ora, todas as revelações proféticas são palavra, divina. Logo, nenhuma delas pode deixar de ser feita ao profeta.

2. Demais. – As obras de Deus são perfeitas, no dizer da Escritura. Ora, a profecia é uma revelação divina, como se disse. Logo, é perfeita. O que não se daria se não fosse revelado ao profeta tudo o que pode ser profetizado; pois, perfeito é aquilo a que nada falta, como diz Aristóteles. Logo, ao profeta é revelado tudo o que pode ser profetizado.

3. Demais. – O lume divino, causa da profeta, é mais forte que o lume da razão natural, causa da ciência humana. Ora, quem possui uma ciência conhece tudo o que a ela concerne; assim, o gramático conhece toda a matéria gramatical. Logo, parece que o profeta conhece tudo o que pode ser profetizado.

Mas, em contrário, diz Gregório: As vezes o espírito de profecia faz o profeta revelar o presente sem lhe dar a conhecer o futuro, outras vezes fâ–lo revelar o futuro, sem lhe conceder o conhecimento do presente. Logo, o profeta não conhece tudo o que pode ser profetizado.

SOLUÇÃO. – Coisas diversas não existem necessariamente ao mesmo tempo, senão por um laço que as une e de que dependem; assim dissemos, que todas as virtudes existem simultaneamente, por causa da prudência ou da caridade. Ora, todos os conhecimentos, que temos, em virtude de um princípio, ligam–se entre si nesse princípio e dele dependem. Por onde; quem conhecer perfeitamente o princípio, na totalidade da sua virtude, conhece ao mesmo tempo tudo o que por intermédio desse princípio se conhece. Mas, quem ignorar o princípio comum ou o apreender em geral, não conhece necessariamente todas as causas ao mesmo tempo; mas, é cada uma dessas coisas, de per si, que se lhe há de manifestar; e por consequência poderá conhecer umas dentre elas, e outras, não. Ora, o princípio daquilo, que é manifestado pelo lume divino é a verdade primeira em si mesma, a qual, como tal, não a veem os profetas. Por onde, não hão de necessariamente conhecer todas as coisas que podem ser profetizadas; mas, cada um deles conhece, algumas delas, por uma especial revelação a elas concernente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O Senhor revela aos profetas todo o necessário à instrução do povo fiel; mas não, tudo a todos, senão certas coisas a uns e outras, a outros.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A profecia é algo de imperfeito no gênero da revelação divina; donde o dizer o Apóstolo, que as profecias deixarão de ter lugar, e que em parte profetizamos, isto é, imperfeitamente. Mas, a perfeição da revelação divina será na pátria; e por isso acrescenta: Quando vier o que é perfeito abolido será o que é em parte. Por onde, não é preciso a revelação profética ser perfeita; mas basta não lhe faltar nada daquilo a que ela se ordena.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Quem possui uma ciência conhece–lhe os princípios, de que depende tudo quanto a constitui. Por onde, quem perfeitamente possui o hábito de uma ciência sabe tudo o que a ela pertence. Ora, pela profecia não é conhecido em si mesmo o princípio do conhecimento profético, que é Deus. Logo, a não colhe a comparação.

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