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A escandalosa vinda de Dom Williamson ao Brasil

 

 O Dia em que a Terra parou

Dom Lourenço Fleichman OSB

Nosso Brasil é um país curioso. Mistura certa ingenuidade com uma capacidade de estar sempre envolvido em discussões tolas. Somos, de um modo geral, superficiais, metidos sempre em curiosidades, em busca desenfreada de informações, constantemente deixadas para trás na medida em que novas notícias vão sendo publicadas em toda parte. Conta-se nos dedos os brasileiros que conseguem recuar diante de uma notícia, meditar, ponderar, e aguardar o melhor momento para falar, se for o caso.

 

Não sei se é um castigo de Deus, o fato é que estamos metidos em um turbilhão de fofocas e atitudes escandalosas que só servem para dividir a débil Tradição brasileira. Que eu saiba, o único lugar no mundo em que está ocorrendo uma divisão semelhante é na Coréia. Esta é, pois, a nossa realidade. Somos tão importantes para a Tradição quanto a Coréia! Tão fofoqueiros quanto os asiáticos.

Em toda parte, os padres e fiéis da Tradição souberam abaixar as armas e descansar um pouco do rude combate, no momento em que o Capítulo da Fraternidade S. Pio X trouxe de volta a calma. Os franceses são conhecidos pelo vigor no combate e profundidade dos estudos, mas souberam se reagrupar em torno da ordem restabelecida, em torno do Superior do Distrito. Por sua vez, na Argentina, que é o centro mais forte da Tradição na América do Sul, os fogosos platinos, eles também, mesmo sendo em sua maioria contra qualquer acordo prático, souberam interpretar pacificamente o resultado do Capítulo. 

Mas aqui, entre nós, surgiu um tragicômico Exército de Brancaleone, para salvar a Igreja. O que devemos pensar de um grupo de soldados que sairia a guerrear sem ordens dos seus superiores, quando uma trégua lhes permitisse descansar e refazer suas forças? Temos a impressão de que os mansos brasileiros não souberam perceber que houve uma trégua, que houve um recuo; ele é real, ele é percebido e difundido pelos generais do nosso exército, que seja um Dom Tissier de Mallerais ou Dom Galarreta. É um fato que o Capítulo da Fraternidade mudou o rumo dos acontecimentos e conseguiu reagrupar a Fraternidade dividida.

O Critério da Fé

Eu poderia continuar no meu silêncio. Ele é cômodo para mim e para os fiéis que estão sob minha orientação. Durante todo o tempo dessa crise procurei orientá-los, transmitindo-lhes os critérios próprios para que cada um pudesse julgar, por si mesmo, qual o caminho que devia ser tomado. O mais importante para eles era saber que a oração e a penitência tinham mais importância do que ficar correndo de blogs a facebooks, ávidos das últimas notícias.

Não pensem que eu dizia a eles para rezarem, porque só eu, enquanto cura das almas, devia tratar desse assunto. Ao contrário. Procurei mostrar, ao longo desses últimos meses, que o critério sobrenatural exigia de todos um posicionamento quanto à questão de fé que nos estava sendo imposta mais uma vez: fazer acordo com Roma é uma questão que envolve de perto a fé sobrenatural de cada um, por isso, cada um devia, como continua devendo, responder de modo pessoal, diante de Deus, quanto aos seus atos. 

Os fiéis que abraçarem a Roma modernista, e errarem de modo grosseiro, após quarenta anos de perseguição, unindo-se às autoridades modernistas, não poderão alegar obediência ao seu cura, dizendo a Nosso Senhor: foi meu pároco quem me induziu ao erro, eu apenas obedeci. Cada um deverá prestar contas de modo pessoal. Nem a graça de estado do superior, nem o juízo prudencial que lhe é próprio, podem substituir a responsabilidade exclusiva e pessoal de cada subordinado, quando se trata da preservação da fé. Assim foram formados os fiéis das Capelas sob minha responsabilidade: Rio de Janeiro, Niterói, Fortaleza e Parnaíba. 

Assim, pois, quando o Capítulo reunificou a quase totalidade da Fraternidade, mudando de modo tão forte, como veremos, as cautelas contra Roma, quando o foco já não é mais o perigo contra a fé, então cada um deve obedecer ao seu chefe em todas as ordens próprias de um superior de um instituto religioso. Ou seja, a vida continua. Talvez tenha sido nesse ponto que o diabo encontrou o nervo exposto do orgulho, e colocou no coração de alguns padres a revolta contra as legítimas ordens do Superior Geral ou dos Superiores de Distrito. 

Hora de agir, hora de calar

Porém, a crise alimentada pelo grupo de Dom Tomás de Aquino, do Mosteiro da Santa Cruz, além de me atingir com insultos pessoais, atinge também a ordem e o bem, pois causa não pequeno escândalo e perturba os fiéis. Aparentemente Dom Tomás e os 3 ou 4 padres que pregam a mesma posição, também não querem acordos com a Roma modernista. Mas o destempero de suas atitudes tenta impor, pela força do grito, sua opinião pessoal, pondo em risco a salvação das almas que a eles escutam. Por mais protegidos que estejam os meus fiéis, o escândalo causado por esses padres está por toda parte e deve ser reparado.

A situação tornou-se difícil, é verdade, a partir de setembro de 2011. Sofremos, vendo mais uma vez a divisão tomando conta de nossas fileiras, pela tentação de uma regularização que continua impossível. Mas enquanto não houvesse um ato oficial e definido, jogando a Fraternidade nas garras dos nossos inimigos, não era prudente tomar nenhuma atitude ostensiva. Nossas Capelas rezavam por duas intenções muito precisas: a) para que o papa mostrasse, antes de qualquer regularização, até onde ia sua exigência quanto à nossa aceitação do Concílio Vaticano II. b) para que o Capítulo da Fraternidade servisse para reunificá-la, acalmar os ânimos, e nos devolver a essência do nosso combate.

Ora, essas duas coisas aconteceram. Ambas aconteceram de modo impressionante, talvez deva dizer: espetacular. Mas nessa altura vai ser preciso fazer uma análise mais detalhada da situação da Fraternidade após o Capítulo. Isso porque o barulhento grêmio de três ou quatro padres, e nesse ponto é preciso incluir os dizeres de Dom Williamson, fez uma análise dessa situação, a meu ver, irreal, agressiva e escandalosa.

O Capítulo Geral

O primeiro erro dessa gente é insistir em tratar o Capítulo como se fosse um ato de governo pessoal de Dom Fellay. Falam do Capítulo com a mesma gana com que atacam o Superior Geral, afirmando que este teria manipulado as coisas, feito um recuo tático para ter tempo de convencer os que reagiam contra a aceitação. O próprio Dom Williamson manifestou sua desconfiança:

honra aos bons homens do Capítulo que por todos os meios fizeram o melhor que puderam para limitar o dano, mas, se a Declaração e as condições nos dão a atual mentalidade dos líderes da Fraternidade em conjunto, então há motivos para preocupação.” 1

Porém, na Declaração feita após esta reunião, aparece desde logo uma situação nova, uma mudança significativa em um ponto claro dos Estatutos da Fraternidade: 

Foi estabelecido que, nesse caso [de uma eventual normalização canônica] um Capítulo Extraordinário deliberativo seria convocado previamente”. 

Antes que os mais afoitos venham me dizer que, justamente, o Capítulo contempla a continuação de uma normalização canônica, aviso aos navegantes que isso será tratado ali adiante; agora não. 

Aqui estou tratando da importante mudança aprovada pelo Capítulo que desmonta os temores e críticas do grupo dissidente. Quando a li, compreendi uma coisa que me foi confirmada mais tarde, e muito me espanta que os afoitos e agitados não a tenham percebido, ou não quiseram perceber: só Dom Fellay podia propor tal mudança. Só dele podia partir essa necessária convocação de um Capítulo deliberativo, ou seja, não apenas consultivo, mas levado ao voto. Isso porque os Estatutos davam ao Superior Geral e só a ele, a responsabilidade de sentar-se com as autoridades romanas. Portanto, senhores, cai por terra a tese de que Dom Fellay teria manipulado o Capítulo e seus membros, pois seria um tiro no pé, furtar-se da prerrogativa que já possuía.

Vejamos agora essa objeção dos que se arrepiam todo quando ouvem falar de “eventual reconhecimento canônico”, como se isso significasse a continuidade das conversas anteriores ao Capítulo. Alegam que a Fraternidade contraria as palavras do seu venerável fundador, o qual afirmou não confiar em Roma. Ora, por mais que o acordo ou reconhecimento proposto nesses últimos meses por Dom Fellay tenha nos causado aborrecimentos, temores e sofrimentos, por mais que o critério de fé sobrenatural nos obrigasse a discordar desse reconhecimento, uma vez a paz tendo sido reencontrada, torna-se ridículo os padres, e mesmo os leigos desse mundo estranho de blogs e facebooks, quererem determinar o que a Fraternidade S. Pio X deve ou não fazer.

As afirmações fortes de Mons. Lefebvre não o impediam de ir a Roma quando achava que a Divina Providência exigia isso dele. Não foi uma ou duas vezes que ele manifestou seu horror diante da revolução causada pelos papas pós conciliares e seus bispos, e depois voltou a Roma. Afinal de contas, todos ensinam, inclusive Dom Williamson, que o retorno da Igreja à Tradição só poderá ocorrer de cima para baixo, do papa para os demais. E se assim é, então é preciso estudar os princípios que regem nossas relações com Roma, não podendo os fiéis se escandalizar porque o Capítulo trata desse assunto. Se uma próxima ocasião se apresentar, e estando resguardadas as nossas posições, essas considerações do Capítulo permitirão que nossos superiores “auscultem” o organismo doente para ver se há sinais de verdadeira melhora. Não digo que assim aconteceu nesses meses do início de 2012; o que digo é que não se pode exigir da Fraternidade de nunca mais pisar em Roma, isso nunca foi assim e não poderá ser. Imaginar o contrário é dar provas de um desconhecimento total da verdadeira situação da crise da Igreja e de como poderemos alcançar a conversão do papa e dos bispos.

Mais uma vez afirmo, para que os afoitos não me mandem e-mails inúteis: não sou nem um pouco inclinado a acordo prático com Roma. Toda a história da Permanência prova a linha de fé que sempre foi seguida por Gustavo Corção e Julio Fleichman. De minha parte, por motivos de formação, e por causa de tudo o que vivi no Barroux e em Campos, mantenho a mesma linha de conduta. Porém, para ser contra o acordo não é preciso sair batendo e chutando, como fazem os Cardozo, Chazal e Dom Tomás. Eles não são representantes de nada, apenas cegos furiosos que encontraram um meio de descarregar seus rancores. Voltaremos a tratar dessa questão.

As condições

Após esses dois comentários sobre o que há de diferente na Declaração do Capítulo, cabe refletirmos sobre as famosas condições reveladas ilicitamente na internet pela publicação da carta do Padre Thouvenot, Secretário geral da Fraternidade. 

Mais uma vez vejo-me na obrigação de dar-lhes a leitura que eu tive quando a li, e que me foi confirmada em seguida. O texto em francês é forte. Ele começa afirmando a existência de três condições sine qua non: 

Três condições sine qua non que a Fraternidade impõe a si mesma e exige das autoridades romanas antes de pensar em uma regularização canônica...”  Eis um posicionamento forte. Vejamos seus elementos:

- três condições sine qua non. Não basta explicar que elas são essenciais. É preciso ainda lembrar que não basta uma ou duas existirem. As três devem estar presentes juntas.

- não apenas a Fraternidade impõe a si mesma, como exige de Roma. Lembro que o verbo “reclamer”, em francês, tem essa tradução, no contexto presente. Diz-se, por ex., que alguém vai ao tribunal “reclamer” uma indenização.

- essas condições são anteriores, prévias, antes de se pensar (envisager) num reconhecimento canônico.

Antes mesmo de se saber quais seriam essas três condições, era possível respirar aliviado. Mas o ódio já dominava os corações dos poucos, e nesse caso, nenhum argumento serviria.

- Primeira condição sine qua non.  

Liberdade de conservar, transmitir e ensinar a sã doutrina do Magistério constante da Igreja e da Verdade imutável da Tradição divina;

liberdade de defender, corrigir e repreender, mesmo em público, os fautores de erros ou novidades do modernismo, do liberalismo, do concílio Vaticano II e de suas consequências”.

- Segunda condição sine qua non.

Usar exclusivamente a liturgia de 1962. Guardar a prática sacramental que temos atualmente (incluindo sacramento da ordem, crismas e casamentos)”.

- Terceira condição sine qua non.

Garantia de pelo menos um bispo”.

Salta aos olhos de qualquer fiel medianamente conhecedor da crise da Igreja que essas condições evitam, previamente, as armadilhas postas contra os institutos que já fizeram acordos. A estes foi permitido o melado açucarado da “crítica construtiva do concílio”, evidentemente inócua e frágil, característica de qualquer neo-conservador atual. Não! A crítica exigida é objetiva, clara, não apenas contra os erros, mas também contra os fautores de erros, papas, bispos, quem for. Não apenas contra o pós concílio, mas denunciando o próprio texto conciliar, com toda a gama de heresias que provocaram na prática; ou seja, não serviria a alegação de que o concílio foi bom, mas mal interpretado; e isso tudo podendo ser feito publicamente, sem receios de retaliação.

A segunda condição exige o uso exclusivo da liturgia da missa e dos sacramentos de 1962, no sentido de escapar, igualmente, da armadilha imposta aos demais, quando o Vaticano, após 3, 7 ou 10 anos de acordo, exigiu a missa nova e o bi-ritualismo. Não! A Fraternidade não aceita a nova liturgia, como não aceita a nova teologia.

A terceira condição foi criticada por alguns corvos que gralharam nas soleiras e umbrais: “só um?! Porque só um?!” Não percebem as negras e soturnas aves de rapina que não é a quantidade que importa, mas o princípio admitido.

Em seu Comentário Eléison 268, Dom Williamson deturpa o texto dessas condições. Para o leitor distraído, o bispo parece ter razão, pois os verbos usados por ele, junto com suas explicações, tornam o texto das condições inaceitáveis. 

"No longer “Rome must convert because Truth is absolute”, but now merely “The SSPX demands freedom for itself to tell the Truth.” Instead of attacking the Conciliar treachery, the SSPX now wants the traitors to give it permission to tell the Truth ? “O, what a fall was there !

O advérbio “merely” obriga a tradução de “demands”  por “pede”. Isso porque, se a tradução de Mons. Williamson fosse “exige”, não caberia dizer que a Fraternidade “apenas” exige.  Isso vem confirmado pelo “wants the traitors”.  Em português, ficaria assim:

Já não é mais “Roma que deve converter-se porque a Verdade é absoluta”. Mas agora apenas a Fraternidade pede a liberdade para ela mesma dizer a Verdade. Em vez de atacar a traição Conciliar, a Fraternidade SPX solicita agora aos traidores que deem permissão de dizer a Verdade. Ah! Que queda foi essa?

Ora, o texto francês da carta não diz isso! É diferente dizer “s´impose... reclame”, de dizer “pede, solicita”. Francamente, o pior cego é o que não quer ver.  A malícia do texto é patente!

Quando Dom Williamson escreve seus textos, gosta de impressionar, de usar expressões engraçadas e polêmicas, de dizer que em Roma só há crocodilos e jacarés, e que os bispos tem miolos de queijo, e todos riem do seu jeito original e cativante. Mas seus textos não são textos de um Capítulo Geral da Fraternidade S. Pio X. A solenidade e o respeito se impõem num texto oficial de uma ordem religiosa, que precisa proclamar a fé sem faltar com o respeito, sem deixar de ser uma luz no fim do túnel para a conversão dos nossos inimigos. Além disso é preciso lembrar que as seis condições estão num texto interno, que deveria ser lido apenas pelos membros do Capítulo. Ele servia, pois, de um lembrete, uma ata, não sendo, de modo algum, uma Declaração formal, um Ato de Fé. 

É preciso gritar pelos telhados a essas “estrelas novas” em explosão e, sem falsos romantismos, perguntar aos astros fugitivos: quando, ó “buracos negros”, quando Roma poderia sequer pensar em aceitar essas condições? Digam-me senhores das trevas, acham realmente que um papa modernista poderia aceitar que seu nome seja criticado publicamente, que o seu amado concílio do Bar-Jona e da Aliança Européia2 seja posto em derrisão, dissecado, e cuspido como um bagaço? Quando aceitarão que sua querida missa protestantizada seja largada de lado e mostrada na sua pobreza total, no seu vazio teológico e litúrgico? Quando essas autoridades aceitarão o princípio de nos dar novos bispos? Não percebem que essas condições significam exatamente o que os senhores ficam repetindo como papagaios, que só poderá haver acordo com a conversão das autoridades romanas? A realidade está na ponta dos seus narizes, mas os senhores não quiseram ver.

 

 

Perdão pela exaltação! Mas a luz que aparece da verdade é para ser vista, e quando essa gente faz questão da cegueira, sinto vontade de gritar, como de fato gritei! Recuperemos o sangue-frio e continuemos nossa análise.

As três condições souhaitables, ou seja, desejáveis, a se esperar, abrangem a questão propriamente canônica. São importantes e também afastam os entraves encontrados pela Frat. São Pedro, Ibp, Campos etc., nas relações com os bispos diocesanos e com as congregações romanas. São elas: a aceitação do Tribunal canônico de 1ª instância próprio; isenção das casas da Fraternidade quanto à dependência canônica ao bispo diocesano; e uma Comissão dependendo diretamente do papa, com presidência e maioria da Tradição, para tratar dos assuntos relativos à Tradição. Parece-me evidente que, essas últimas supõem as três primeiras, sendo elas também impossíveis, ou quase, de serem aceitas por Roma sem uma verdadeira conversão das autoridades. 

O escândalo brasileiro

Aconteceu, então, a vinda de Dom Williamson ao Brasil. Estranho acontecimento. Dom Tomás organizou uma série de Crismas, em locais afetados pelo seu apostolado anárquico que, ao longo dos anos e muito antes dessa crise interna, foi trazendo problemas para a Tradição no Brasil, em particular para a Fraternidade S. Pio X. Por outro lado, o comunicado do Pe. Bouchacourt mostra que essa viagem foi realizada sem o consentimento de Dom Fellay. Não sei se o bispo realmente quis afrontar seu superior ou se, mais uma vez, não percebeu que estava sendo usado. 

Além de organizar cerimônias religiosas marginais, Dom Tomás resolveu manifestar um elogio a Dom Williamson. Confesso que fiquei estarrecido com o texto. 

O artigo chama-se “Honra e Glória a Dom Williamson”, e está equilibrado numa corda bamba. Por um lado, enaltece o vício da desobediência e da rebeldia do bispo inglês; por outro lado considera que só o bispo inglês merece elogios, só ele teria sido fiel. A descrição que faz da crise é tão ampla que não caberia tal elogio só para um dos bispos, sem que houvesse uma exclusão voluntária dos demais e da Fraternidade no seu conjunto. Supõe de modo velado uma queda definitiva da Fraternidade e, a partir dessa ideia, pretende justificar todos os seus atos de revolta, desobediência e calúnias.  Além disso, Dom Tomás descreve Dom Williamson como um paladino da justiça que se teria erguido diante de um mundo destruído. Tal figura poderia caber para Mons. Lefebvre, no início dos anos 1970, quando o fundador de Ecône realmente levantou-se como tal. Mas falar desse modo quarenta anos depois, tendo a Fraternidade quase 600 padres espalhados pelo mundo é, no mínimo, estranho, soa falso. A única coisa verdadeira é que, de fato, Dom Williamson parece considerar-se um paladino da justiça, único e especial.

Diante da situação, o Pe. Bouchacourt, Superior do Distrito da América do Sul, reagiu com o comunicado que publicamos na Permanência. Defende a ordem contra a anarquia, e exige de Dom Tomás que respeite a Fraternidade. Algumas pessoas criticaram esse texto, acusando-o de mentir ao afirmar que foi por motivos doutrinários que a Fraternidade recuou na assinatura do reconhecimento canônico. Falam como se a Fraternidade tivesse, efetivamente, traído, assinado, concordado, aceito Vaticano II e todo o resto. Essas pessoas fecharam a cabeça, não aceitam mais encarar a realidade, a tal ponto que deixam a impressão de que preferiam que a Fraternidade tivesse caído, para poder afagar, sorridentes, o orgulho inflamado. Com isso, a suposta grande defesa da fé que eles pretendem apresentar aos leitores lhes serve de manto para esconder seus rancores e desobediências.

O dia em que a Terra parou

Esta é a situação após o Capítulo: todos os revoltados, partindo de Dom Williamson, passando por Dom Tomás e os 3 ou 4 padres iluminados, falam dos acontecimentos atuais como se o tempo tivesse parado em julho de 2012. Quando criticam o texto do Capítulo, são obrigados a manipular as palavras para que caibam na estreiteza de suas mentes; quando criticam as pessoas, falam das coisas ditas e feitas ANTES do Capítulo. Apesar da internet estar repleta de pessoas que mal conheceram a Tradição e se acham doutores da Igreja, é na Declaração de Dom Tomás de Aquino, resposta ao Pe. Bouchacourt,  que gostaria de tomar o exemplo mais claro disso.

1º parágrafo: 

Diante do comunicado do Rev. Pe. Bouchacourt, o Mosteiro da Santa Cruz declara que chamou a Sua Ex. Dom Richard Williamson ao Brasil por considerá-lo um digno defensor da fé católica, capaz de confirmar na fé não só os monges de Santa Cruz, mas também as comunidades religiosas e os fiéis que veem com grande apreensão a nefasta política dos acordos práticos com Roma antes que Roma se converta de seus erros liberais e modernistas” .

Dom Tomás tem esse mau costume de querer esconder-se, quando lhe convém. O Pe. Bouchacourt não dirigiu seu comunicado às atitudes de Mosteiro algum, mas precisamente de Dom Tomás de Aquino. Teria sido, pois, mais corajoso, dizer: eu, Dom Tomás, assumo o que fiz. Além disso, é querer enganar os outros dar como razão que, sendo Dom Williamson “digno defensor da fé”, Dom Tomás podia passar por cima da ordem das coisas e fazer Crismas marginais. Foi assim nos outros anos em que houve Crisma no Mosteiro? Foi assim quando organizou a patética Consagração das Virgens de duas religiosas desenganadas? Quando lhe convinha, Dom Tomás sabia muito bem usar a ordem normal das coisas, na Fraternidade.

E no final desse parágrafo entra a crítica atrasada, o tempo parado, ao iludir o seu leitor dando a entender que a Fraternidade continua com sua política de fazer acordos com Roma. Vimos pelo texto honestamente traduzido do Capítulo que não se pode continuar falando assim.

2º parágrafo:

Por que os capuchinhos, os dominicanos e mesmo os beneditinos de Bellaigue tiveram seus candidatos afastados ou ameaçados de afastamento da recepção das ordens, senão por causa de sua oposição à política dos acordos? E isto quando Roma já não queria mais os acordos, ao menos por hora”.

Quando Dom Tomás escreveu isso, já era de conhecimento público a realização das ordenações desses capuchinhos e dominicanos, em Bellaigue, no próximo dia 11 de outubro. Mais uma vez, o tempo parou em Nova Friburgo, e Dom Tomás continua a fazer críticas atrasadas.

3º parágrafo:

É faltar com a verdade calar as verdadeiras razões do que estamos vivendo. Por que a Dom Williamson se pediu que encerrasse seus “Comentários Eleison” senão por causa da doutrina aí exposta?

Do que fala Dom Tomás? De que doutrina se trata? Dos verbos mal traduzidos do texto do Capítulo? Ou do tempo parado (também em Londres) do comentário 270, também ele desconsiderando as mudanças ocorridas no Capitulo? Além disso, é do conhecimento público que o Superior Geral vem ordenando a Dom Williamson de fechar o seu blog bem antes de começar essa crise atual.  Mas soa bem, para quem prefere ver a Fraternidade quebrada, dar a impressão de que Dom Fellay tem má doutrina.

Por que Dom Tissier de Mallerais teve de interromper suas pregações nos USA senão porque ele era contra a política dos acordos? Por que o Pe. Koller foi ameaçado de punição senão porque pregou contra esta mesma política? Por que os Revdos Padres Cardozo, Chazal, Pfeiffer e outros foram ou punidos ou expulsos senão por causa da sua oposição a esta mesma política?

Primeiro é preciso sacudir o leitor adormecido e mostrar que Dom Tomás evoca tanto Dom Tissier de Mallerais quanto Dom Galarreta, mas omite que esses dois bispos (que não entram nos seus elogios pomposos) estão pacificamente dentro da Fraternidade, saíram do Capítulo dando o exemplo de fidelidade, de fortaleza, de sabedoria, bem diferente das atitudes de Dom Williamson, como também das atitudes dos padres citados nesse parágrafo. 

Dom Tissier dirigiu uma carta aos fiéis da Asia, conclamando-os a permanecerem unidos aos seus superiores, pois não há possibilidade da Fraternidade se unir à Roma modernista. Ele é um bispo muito fiel, tão merecedor de elogios quanto Dom Williamson, mas Dom Tomás só usa suas palavras no que lhe serve.

O que Dom Tomás diria, o que Dom Tomás faria, se um dos seus monges fosse à internet fazer críticas exageradas, caluniosas e irresponsáveis, contra o seu governo e contra a sua pessoa? Esses padres citados podiam não concordar com acordos, mas não podiam usar os meios que usaram. O mesmo Dom Tissier deixou isso claro ao rebater afirmações do Pe. Chazal, como foi divulgado no site da Fraternidade da Asia:

Concordo com suas preocupações sobre um acordo com a Roma modernista. Eu também não concordo, e todos sabem que eu manifestei com força meu desacordo... Mas não concordo com suas expressões e seus caminhos. No pequeno Exército da Fraternidade S. Pio X, o senhor é um simples soldado, não um capitão. Por favor, volte ao seu lugar. Existem capitães para agir em nome do General.” 

Quanto a Dom Galarreta, também usado ilicitamente por Dom Tomás, qual a sua atitude após o Capítulo? Está guerreando contra seu superior? Está fazendo profecias sobre a próxima queda de Dom Fellay? Não, ao contrário. Está de viagem marcada ao Brasil para fazer as Crismas previstas desde o ano passado, como convém à ordem e ao bem.

E após citar Mons. Lefebvre, Dom Tomás envereda por análises equivocadas sobre o Capítulo, propondo como critério de avaliação aqueles textos errados, aquelas traduções maldosas, feitas por Dom Williamson em seus Comentários. Levanta as objeções que, de fato, existem, mas está cego demais para perceber que suas respostas são todas elas baseadas no que aconteceu antes do Capítulo... “leiam a carta dos três bispos”... Eu tinha vontade de sacudi-lo, de mostrar que está em transe, que já não consegue mais raciocinar e ler o que realmente está escrito.

O resto do texto é um conjunto de justificativas e explicações, todas baseadas nessa espécie de monstro que essa gente continua enxergando, sem poder sentir o alívio de ver a Fraternidade novamente pacificada e fortalecida.

O que acontecerá amanhã nós não sabemos. Devemos estar atentos, firmes, mas em paz, porque o que aconteceu agora, isso nós podemos saber, se tivermos um mínimo de bom senso na leitura dos textos fundamentais.

Os padres dissidentes continuarão a falar mal da Fraternidade, pois esse é o único combustível que os anima. Mesmo alguns que já saíram batendo a porta antes, Meramo, Ceriani, etc., estão sempre a tratar dela, o que prova uma atitude intempestiva e movida pela opinião própria. Alguns, como o próprio Dom Williamson, Dom Tomás ou o Pe. Cardozo, já tinham problemas graves com a Fraternidade antes dessa crise iniciada no ano passado. A crise serviu-lhes de estopim, de alimento para seus rancores, e teria lhes dado a oportunidade de se sentirem vingados, se a Fraternidade tivesse caído. Como isso não aconteceu, o orgulho os levou por caminhos tortuosos e se perderam no meio da floresta. 

Para terminar, gostaria de mostrar aos fiéis da Tradição no Brasil que não é a Fraternidade quem faz as vontades de Roma. São os dissidentes. Como sabemos que Roma queria a divisão da Fraternidade, o Capítulo foi uma derrota imensa para a Roma modernista. Se o capítulo tivesse determinado nova eleição e a destituição de Dom Fellay, como pretendia Dom Williamson, a Fraternidade não teria subsistido e estaria quebrada em duas partes. Era necessário que a reunificação fosse realizada na paz, e só assim Roma foi derrotada. Por isso, posso afirmar com toda a certeza: quem hoje faz a vontade de Roma são os que dividem a Tradição, quer se chamem Dom Williamson, Dom Tomás, Pe. Cardozo ou Chazal.

Permaneçamos, pois, unidos em torno da obra de Mons. Lefebvre, demos graças ao bom Deus por nos ter sacudido, por nos ter acordado, e peçamos à Virgem Maria que nos conserve sempre na fé sobrenatural, mas vivida na Sabedoria e no bom senso.

  1. 1. Comentário Eléison 264
  2. 2. Cf. Wiltgen, Ralph, O Reno se lança no Tibre, Ed. Permanência, Rio de Janeiro, 2007.
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