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Art. 6 — Se a penitência é a segunda tábua, depois do naufrágio.

 

O sexto discute-se assim. — Parece que a penitência não é a segunda tábua, depois do naufrágio.
 
1. — Pois, àquilo de Isaias - Fizeram como os de Sodoma, pública ostentação do seu pecado, diz a Glosa: A segunda tábua, depois do nau­frágio, é esconder os pecados. Ora, a penitência não esconde os pecados; ao contrário, revela-os. Logo, a penitência não é a segunda tábua.
 
2. Demais. — O fundamento ocupa, no edifício, não o segundo, mas o primeiro lugar. Ora, a penitência é o fundamento do edifício espiri­tual, segundo aquilo do - Apóstolo: Não lançando de novo o fundamento da penitência das obras mortas. Por isso precede ao próprio batismo, conforme ainda aquilo da Escritura: Fazei penitência e cada um de vós sela batizado. Logo, a penitência não é a segunda tábua.
 
3. Demais. — Todos os sacramentos são umas tábuas, isto é, remédios contra o pecado. Ora, a penitência não ocupa o segundo lugar entre os sacramentos; mas antes, o quarto, como do sobredito se colhe. Logo, a penitência não deve ser considerada como a segunda tábua depois do naufrágio.
 
Mas, em contrário, Jerônimo diz, que a segunda tábua depois do naufrágio é a penitência.
 
SOLUÇÃO. — O essencial é naturalmente anterior ao acidental; assim, a substância é ante­rior ao acidente. Ora, certos sacramentos se ordenam à salvação do homem; tal o batismo, que um nascimento espiritual; a confirmação, crescimento espiritual; e a Eucaristia, nutrição espiritual. A penitência porém se ordena à nos­sa salvação acidental e condicionalmente, isto é, suposto o pecado. Pois, se atualmente não pe­cássemos, não precisaríamos da penitência; mas precisaríamos do batismo, da confirmação e da Eucaristia. Assim como para a vida do corpo não precisaríamos de remédios se não enfermás­semos; mas para vivermos é preciso, nascermos, crescermos e nutrirmo-nos. Por onde, a peni­tência ocupa o segundo lugar relativamente ao estado de integridade conferido e conservado pelos referidos sacramentos. Por isso dizemos metaforicamente que é a segunda tábua depois do naufrágio. Assim, O primeiro remédio para os que atravessamos os mares é nos conservamos num navio em bom estado; o segundo, se ele naufraga, apegar-mo-nos a uma tábua. Do mes­mo modo, o primeiro remédio no mar desta vida é conservarmos a nossa integridade; o segundo, recuperarmos essa integridade pela penitência, se a perdemos pelo pecado.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­De dois modos podemos esconder os pecados. ­Primeiro, quando os cometemos. Pois, é pior pe­car em público que às ocultas; quer porque o pecador público se considera como pecando com maior desprezo; quer também por pecar com escândalo dos outros. Por isso, aplica-se um re­médio aos pecados que cometemos às ocultas. E neste sentido diz a Glosa: A segunda tábua de­pois do naufrágio é esconder os pecados; não que assim fique o pecado delido, como o é pela penitência; mas pelo tornar menor. - De outro modo, podemos esconder o pecado anteriormente cometido por negligência na confissão; e isso encontra a penitência. E então esconder o pe­cado não é a segunda tábua, mas antes o contrário da tábua; pois, como diz a Escritura, aquele que esconde as suas maldades não será bem sucedido.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A penitência não pode ser considerada o fundamento do edifício espiritual, absolutamente, falando, isto é, na pri­meira edificação; mas é o fundamento, na se­gunda reedificação, que se opera pela destruição do pecado. Pois, é ela que antes de tudo se impõe aos que voltam para Deus. Mas o Após­tolo, no lugar aduzido, fala do fundamento es­piritual da doutrina. - Quanto à penitência pre­cedente ao batismo, não é o sacramento da pe­nitência.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os três sacramentos precedentes respeitam à nau íntegra, isto é, ao es­tado de integridade; em relação ao qual dizemos que a penitência é a segunda tábua.

 

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