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Artigo 12 - Se a justiça tem preeminência sobre todas as virtudes orais.

O duodécimo discute-se assim. – Parece que a justiça não tem preeminência sobre todas as virtudes morais.

1. – Pois, à justiça é próprio dar a outrem o que lhe pertence; ao passo que é próprio à liberalidade levar-nos a dar do que é nosso; o que é mais virtuoso. Logo, a liberalidade é maior virtude que a justiça.

2. Demais. – Não nos orna senão o que é mais digno que nós. Ora, a magnanimidade é um ornamento, não só da justiça, como de todas as virtudes, segundo Aristóteles. Logo, a magnanimidade é mais nobre que a justiça.

3, Demais. – A virtude versa sobre o que é difícil e bom, como diz Aristóteles. Ora, a fortaleza versa sobre o perigo da morte, mais difícil que a justiça.

Mas, em contrário, diz Túlio: Na justiça, o esplendor da virtude, que faz os homens serem denominados bons, é máximo.

SOLUÇÃO. – Se se trata da justiça legal, é manifesto que ela é a mais preclara de todas as virtudes morais, pois, o bem comum tem preeminência sobre o bem particular. E por isso, o Filósofo diz que a preclaríssima das virtudes é a justiça, e nem Vesper, nem Lúcifer é tão admirável como ela.

Mas, mesmo tratando-se da justiça particular, podemos dizer que ela é mais excelente que as outras virtudes morais, por duas razões. - Das quais a primeira pode ser deduzida do sujeito, isto é, porque reside na parte mais nobre da alma, a saber, o apetite racional ou a vontade. Ao passo que as outras virtudes morais residem no apetite sensitivo, a que pertencem as paixões, que são a matéria das referidas virtudes. - A segunda razão se funda no objeto. Pois, as outras virtudes tiram o seu mérito do bem mesmo de quem as pratica, ao passo que a justiça o tira de sermos virtuosos nas nossas relações com outrem. E, assim, a justiça é, de certo modo, o bem de outrem, como diz Aristóteles. E, por isso diz ainda ele: e a virtude é uma potência benfazeja, as máximas virtudes são, necessariamente, as que mais úteis são aos outros. Por isso, os fortes e os justos são os mais honrados, porque a fortaleza é útil na guerra; a justiça, porém, na guerra e na paz.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Embora, pela liberalidade, demos do que é nosso, contudo o fazemos levando em conta o bem da nossa própria virtude. Ao passo que pela justiça damos a outrem o que lhe pertence, levando em conta o bem comum. E, além disso, a justiça é observada para com todos, ao passo que a todos não pode estender-se a liberalidade. E, além disso, a liberalidade, pela qual damos do que é nosso, funda-se na justiça, pela qual a cada um se lhe conserva o seu.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A magnanimidade, acrescentada à justiça, aumenta-lhe a bondade; porém, sem a justiça, nem mesmo teria a natureza de virtude.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A fortaleza, embora verse sobre o difícil, não versa, contudo, sobre o melhor, pois, só é útil na guerra; ao passo que a justiça o é na guerra e na paz, como dissemos.

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