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Artigo 1 - Se a prudência da carne é pecado.

O primeiro discute-se assim. – Parece que a prudência da carne não é pecado.

1. – Pois, a prudência é uma virtude mais nobre que as outras virtudes morais, porque dirige a todas. Ora, nenhuma justiça ou temperança é pecado. Logo, também nenhuma prudência o é.

2. Demais. – Obrar com prudência, para um fim licitamente amado, não é pecado. Ora, a carne é licitamente amada, pois, diz a Escritura: ninguém aborreceu jamais a sua própria carne. Logo, a prudência da carne não é pecado.

3. Demais. – Como o homem é tentado pela carne, assim também, pelo mundo e pelo diabo. Ora, não se diz que há, entre os pecados, nenhuma prudência do mundo, ou mesmo, do diabo. Logo, também não devemos considerar como pecado nenhuma prudência da carne.

Mas, em contrário. – Ninguém é inimigo de Deus senão por iniquidade, conforme a Escritura: Deus igualmente aborreceu ao ímpio e à sua impiedade. Ora, como diz o Apóstolo: A sabedoria da carne é inimiga de Deus. Logo, a prudência da carne é pecado.

SOLUÇÃO. – Como já dissemos, a prudência versa sobre o que constitui o fim de toda a vida. Por onde, a prudência é propriamente chamada da carne, quando consideramos os bens da carne como o fim último da nossa vida. Ora, isto é manifesto pecado, pois por aí o homem se desordena em relação ao fim último, que não consiste nos bens do corpo, como estabelecemos. Por onde, a prudência da carne é pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A justiça e a temperança implicam, por essência, o que torna a virtude digna de louvor, a saber, o equilíbrio e o refreiamento das paixões. Por isso, não são nunca considerados como males. Ora, o nome de prudência deriva de providência, como já dissemos o que também pode se aplicar ao mal. Por onde, embora a prudência, absolutamente falando, seja tomada no bom sentido, pode contudo sê-lo em mau, acrescentando-se-lhe a esse nome alguma determinação. E neste sentido, dizemos que a prudência da carne é pecado.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A carne é para a alma, como a matéria para a forma e o instrumento, para o agente principal. Por onde, amamos licitamente a carne quando a ordenamos para o bem da alma, como para o fim. Se, porém, constituirmos o fim último no bem da carne, esse amor será desordenado e ilícito. E é deste modo, que ao amor da carne se ordena a prudência da carne.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O diabo não nos tenta como um objeto de apetição, mas pelas suas sugestões, Por isso, a prudência, implicando a nossa ordenação para um fim apetecível, não dizemos que há prudência do diabo, como a que respeita um mau fim, sob cujo aspecto nos tenta o mundo e a carne, propondo-nos ao apetite os bens do mundo ou da carne. Por isso se chama prudência da carne e também prudência do mundo, conforme aquilo da Escritura. Os filhos deste século são mais sábios, na sua geração etc. O Apóstolo, porém compreende tudo na prudência da carne, porque também as coisas exteriores do mundo nós as desejamos por causa da carne. - Contudo, pode-se dizer que, chamando-se à prudência, de certo modo, sabedoria, como dissemos, podemos admitir uma tríplice prudência relativa às três tentações. Por isso, diz a Escritura que a sabedoria é terrena, animal e diabólica, como expusemos, quando tratamos da sabedoria.

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