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Artigo 14 - Se há prudência em todos os que têm a graça.

O décimo quarto discute-se assim. – Parece que a prudência não existe em todos os que têm a graça.

1. – Pois, a prudência exige uma certa indústria que nos leva a prever com acerto o que devemos fazer. Ora, muitos que têm graça carecem dessa indústria. Logo, nem todos os que têm graça têm prudência.

2. Demais. – Chama-se prudente ao que é capaz de bom conselho, como se disse Ora, muitos têm a graça, que não são de bom conselho, mas têm necessidade de ser dirigidos por conselho alheio. Logo, nem todos os que têm graça têm prudência.

3. Demais. – O Filósofo diz, ser um fato, que os jovens não são prudentes. Ora, muitos jovens têm a graça. Logo, a prudência não se encontra em todos os que têm a graça.

Mas, em contrário, ninguém, que não seja virtuoso, tem a graça. Ora, ninguém pode ser virtuoso sem a prudência; pois, diz Gregório, que as outras virtudes, se não levarem a agir prudentemente, ao se buscar o que se deseja, de nenhum modo podem ser virtudes. Logo, todos os que têm a graça têm a prudência.

SOLUÇÃO. – É necessário sejam as virtudes conexas, de modo que tenha todas quem tem uma, como já demonstrarmos. Ora, todo aquele que tem a graça tem a caridade. Por onde e necessariamente, tem todas as virtudes. E assim, sendo a prudência uma virtude, como se estabeleceu, necessariamente implica a prudência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Há duas espécies de indústria. - Uma suficiente ao necessário à salvação. E essa é dada a todos os que têm a graça, os quais à unção ensina em todas as coisas, como diz a Escritura. - Outra é uma indústria mais plena, pela qual podemos nos prover a nós mesmos e aos outros, não só do necessário à salvação mas de tudo o concernente à vida humana. E essa indústria não existe em todos os que têm a graça.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Os que precisam ser dirigidos pelo conselho dos outros sabem ao menos se decidir com acerto, se tiverem a graça, ao buscar tais conselhos e no discernir os bons dos maus.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A prudência adquirida é causada pelo exercício dos atos; por isso, precisa, para existir, da experiência e do tempo, como diz, Aristóteles. Por onde, não pode existir nos moços, nem habitual nem atualmente. - Mas a prudência gratuita é causada por infusão divina. Por isso, as crianças batiza das, que ainda não têm o uso da razão, bem como os loucos, têm a prudência habitual, mas não a atual. Mas, os que já têm o uso da razão, têm-na também atualmente, quanto ao necessário à salvação; merecem porém pelo exercício, o aumento dela, até que seja perfeita, como acontece com as outras virtudes. Por isso, o Apóstolo diz: o mantimento sólido é dos perfeitos, daqueles que pelo costume têm os sentidos exercitados para discernir o bem e o mal.

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