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Artigo 8 - Se a caridade exige necessariamente que amemos aos nossos inimigos.

O oitavo discute-se assim. – Parece que a caridade não. exige necessariamente que amemos os nossos inimigos.

1. – Pois, diz, Agostinho: Esse tão grande bem, isto é, amar os inimigos, não é próprio de tanta gente quanto pensamos ser ouvida por Deus, ao rezarem na oração. Perdoai-no as nossas dividas, Ora, a ninguém se lhe perdoa o pecado, sem a caridade, como diz a Escritura. A caridade cobre todos os delitos. Logo, a caridade não exige necessariamente que amemos os nossos inimigos.

2. Demais. – A caridade não elimina a natureza. Ora, todos os seres, mesmo os irracionais, odeiam naturalmente o que lhes é contrário. Assim, o lobo, a ovelha; e a água, o fogo. Logo, a caridade não nos faz amar os inimigos.

3. Demais. – A caridade não obra temerariamente, diz o Apóstolo. Ora, parece que é perversidade amar os inimigos, tanto como odiar os amigos. Donde na Escritura, o exprobar Joabe a Daví: Amar aos que te aborrecem e aborreces aos que te amam. Logo, a caridade não nos faz amar os inimigos.

Mas, em contrário, o Senhor diz: Amai a vossos inimigos.

SOLUÇÃO. – O amor para com os inimigos pode ser considerado a triplice luz. - Primeiro, que sejam amados, como inimigos. E isto é perverso e contrário à caridade, pois seria amar o mal de outrem. De outro modo, a amizade pelos inimigos pode ser considerada relativamente à natureza, mas universalmente. E então o amor pelos inimigos é uma necessidade exigida pela caridade, de modo tal que, quem amar a Deus e ao próximo, não exclua os inimigos desse amor geral que tem para com o próximo. De um terceiro modo, o amor pelos inimigos pode ser considerado em especial, de modo que sejamos movidos ao amor do inimigo por um movimento especial de amor. E isto a caridade não exige necessária e absolutamente. Porque, por necessidade absoluta nem ela exige que sejamos movidos por uma tendência especial de amor a amar qualquer homem, singularmente, porque tal seria impossível. Contudo, a caridade o exige necessariamente, para a preparação da alma, isto é, que a tenhamos preparada a amarmos particularmente um inimigo, se ocorrer a necessidade de o fazermos. Mas, sem pressão da necessidade, quem praticar o ato de amar um inimigo por amor de Deus, pratica a caridade na sua perfeição. Pois, quando amamos ao próximo com caridade, por amor de Deus, quanto mais amarmos a Deus, tanto mais mostraremos amizade para com o próximo, de modo que nenhuma inimizade o poderá impedir, Assim como quem amar muito a um determinado homem, amará, por amor dele, os filhos, mesmo que os tenha como inimigos. Ora, é neste sentido que fala Agostinho.

Donde se deduz claramente a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Todo ser odeia naturalmente o que lhe é contrário, como tal. Ora, os inimigos, como tais, nos são contrários. Por isso devemos odiar isso neles; pois, deve nos desagradar o serem nossos inimigos. Não nos são contrários, porém, enquanto homens e capazes da felicidade. E, por aí, devemos amá-los.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Amar os inimigos, como tais, é repreensível. Ora, isso não o faz a caridade como dissemos.

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