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Maria e as almas consagradas

Rainha das virgens porque teve a virgindade no mais eminente grau, porque conservou a virgindade na concepção, no parto do Salvador e para sempre.

 

Por isso, ela fez as almas compreenderem o valor da virgindade, que não é apenas, como o pudor, uma inclinação louvável da sensibilidade mas uma virtude, isto é, uma força espiritual1. Ela mostra que a virgindade consagrada a Deus é superior à simples castidade, porque promete a Deus a integridade do corpo e a pureza do coração por toda a vida. Santo Tomas diz que a virgindade está para a castidade assim como a munificência para a simples liberalidade, pois ela é um dom por si mesmo excelente, que manifesta uma perfeita generosidade. 

 

Maria preserva as virgens no meio dos perigos, sustenta-as em suas lutas e as conduz, se elas são fieis, a uma grande intimidade com seu Filho.

 

Qual é o seu papel em relação às almas consagradas? Estas almas são chamadas pela Igreja: “as esposas do Cristo”. Seu perfeito modelo é evidentemente a Santíssima Virgem. A seu exemplo, devem ter, em união com Nosso Senhor, uma vida de oração e de reparação ou de imolação pelo mundo e pelos pecadores. Elas devem também consolar os aflitos, lembrando o que diz o Evangelho, que o consolo que elas levam sobrenaturalmente aos membros sofredores do Cristo, é a Ele que elas levam, para fazer-lhe esquecer tantas ingratidões, friezas e mesmo profanações.

 

Por isso a vida destas almas deve se esforçar para produzir as virtudes de Maria e continuar, em certa medida, seu papel em relação a Nosso Senhor e aos fieis.

 

Se as almas consagradas sabem e querem seguir esta direção, elas procurarão aos pés de Maria e acharão nela aquilo que será uma magnífica compensação a todas as renúncias e privações, aceitas no começo em bloco, e que se considera, às vezes, por demais duras quando se apresentam no dia a dia.

 

Enfim a Santa Virgem faz as virgens consagradas a Deus compreenderem que podem humildemente aspirar por uma maternidade espiritual que é um reflexo da sua própria maternidade em relação às crianças abandonadas, aos pobres, aos pecadores, que têm necessidade de encontrar assistência de uma grande bondade sobrenatural. A esta maternidade Jesus faz alusão quando diz (Mat. XXV, 35): “Tive fome e me deste de comer; tive sede e me destes de beber; fui estrangeiro, e me acolhestes; estava nu e me vestiste; doente, e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim”.

 

Esta maternidade espiritual se exerce também na vida contemplativa e reparadora, pelo apostolado da oração e do sofrimento, que fecunda a pregação para a conversão dos pecadores e a expansão do reino do Cristo. Esta maternidade tem seus sofrimentos, mas a Santa Virgem inspira como é preciso oferecê-los e deixa entrever sua fecundidade.

 

Enfim Maria assiste às mães cristãs, para que, após darem à luz seus filhos, formem suas almas na vida da fé, da confiança e do amor de Deus, para que elas os tragam de volta se se desviam, como fez Santa Mônica com Santo Agostinho.

 

Vemos assim qual é a realeza universal da Mãe de Deus: Ela é a rainha de todos os Santos, por sua missão única no plano providencial, pela perfeição da graça e da glória e pela perfeição de suas virtudes.

 

Ela é a Rainha de todos os santos conhecidos e desconhecidos, de todos os que estão no céu, canonizados, beatificados ou não, e de todos aqueles que se santificam na terra e dos quais ela conhece a predestinação, as provações, as alegrias, a perseverança e os frutos que serão a coroação deles para a eternidade2.

 

(extr. de “La Mère du Sauveur et Notre Vie Interieure”. Trad.: Permanência. Rev. PERMANÊNCIA n° 252-253 Nov.-Dez. de 1989.)

 

  1. 1. Santo Tomás nota que a virtude da castidade e a da virgindade são superiores ao pudor como a virtude da misericórdia é superior à piedade sensível.
  2. 2. Padre Duperray, diretor espiritual do Pequeno seminário de Saint Gildas (Charlieu, Loire) escreveu um excelente relatório para XI Congresso Nacional de Recrutamento Sacerdotal, que teve lugar em Londres, de 1° a 4 de agosto de 1935 (Imprimerie de la Grotte, Lourdes): La Devotion à Marie et la culture des vocations. Diz ele, p. 5: “O padre e o futuro padre são mais que simples cristãos, são os continuadores de Cristo, outros, como São João, são chamados para amar Maria com uma grande ternura e assegurados de ser amados pela Santíssima Virgem como discípulos bem amados. Nossos seminaristas, por um lado, têm pois, por sua vocação, as graças de escolha para amar a Santíssima Virgem, a fim de que Maria encontre em seus corações os mesmos sentimentos de Jesus; por outro lado, nossos seminaristas podem estar certos de uma predileção especial da Santíssima Virgem que quer formar neles outros Cristos”. O autor deste excelente opúsculo mostra qual é a influência de Maria na crise de crescimento do seminarista. Ele cita as reflexões de um aluno, seminarista de quinze anos, que mostra como essa crise foi atravessada de modo feliz com o socorro da nossa Mãe do céu. Cada dia a intimidade de Maria traz graças para chegar ao cume do sacerdócio. À sombra de seu manto, o zelo apostólico de amanhã se desenvolve. — O mesmo autor nota, p. 10, o benefício de uma conversa marial antes de dormir. “No lugar do exame de consciência, espécie de monólogo, prestação de contas austero das faltas do dia, é uma revisão encantadora, com nossa Mamãe do céu, do que foi mal feito e sobretudo do que foi bem feito durante o dia, verdadeira distenção espiritual”. — Outra nota não menos justa, p. 12: “Quando um dos meus dirigidos, sentindo em seu coração a necessidade da ternura e da afeição feminina, hesita entre a vocação para o casamento e a vocação sacerdotal, tento fazê-lo descobrir a resposta às necessidades de seu coração numa verdadeira vocação marial. Tenho a convicção de ter, por esse meio, ganho vocações”. — p. 14: “Aqui, como em toda parte, só se suprime bem aquilo que é substituído; o remédio negativo é insuficiente. O verdadeiro problema está na boa colocação do coração (afeições sobrenaturais familiares, boas amizades...)”. “Não percebeis aí o socorro precioso do ideal marial para dar a nosso seminarista essa delicada discrição, tão fina, quando se encontra?”. “A verdadeira pureza, diz o P. de Foucauld, não consiste nesse estado neutro onde não se pertence a ninguém, mas nesse estado em que se adere totalmente a Deus”.
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