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Artigo 5 - Se é a fé uma virtude.

O quinto discute-se assim. – Parece que não é a fé uma virtude.

1 – Pois, a virtude, tornando bom quem a possui, como diz o Filósofo, ordena para o bem. Ora, a fé ordena para a verdade. Logo, não é virtude.

2. Demais. – Mais perfeita é a virtude infusa, que a adquirida. Ora, a fé, pela sua imperfeição, não é considerada virtude intelectual adquirida, segundo claramente o diz o Filósofo. Logo, com maior razão, não pode ser considerada virtude infusa.

3. Demais. – A fé informada e a informe são da mesma espécie, como já se disse. Ora, a informe não é virtude, por não ter conexão com as demais virtudes. Logo, também não o é a fé informada.

4. Demais. – A graça gratuita e o fruto distinguem-se das virtudes. Ora, a fé está enumerada entre as graças gratuita e também entre os frutos. Logo, não é a fé uma virtude.

Mas, em contrário, o homem se justifica pelas virtudes; pois, a justiça é a virtude total, como diz Aristóteles. Ora, o homem se justifica pela fé, no dizer da Escritura: Justificados pois pela fé, tenhamos paz, etc. Logo, é a fé uma virtude.

SOLUÇÃO. –Como do sobredito resulta, a virtude humana torna bom o ato humano. Por onde, todo hábito, que for sempre princípio de atos bons, pode considerar-se como virtude humana. Ora, tal hábito é a fé informada. Pois, sendo crer um ato do intelecto, que assente à verdade, por império da vontade, duas condições se requerem para esse ser perfeito. Uma, que o intelecto tenda infalivelmente para o seu bem, que é a verdade; outra, que infalivelmente se ordene ao fim último, por causa do qual a vontade assente à verdade. Ora, ambos esses elementos se encontram na fé informada. Pois, é da essência mesma da fé, que o intelecto seja sempre levado para a verdade, pois a fé não é susceptível de falsidades como já estabelecemos. Ora, pela caridade, que informa a fé, a alma tem uma vontade que se ordena infalivelmente para um fim bom. Logo, é virtude a fé informada.

A fé informe, porém não é virtude, porque, embora tenha o ato de fé informe a perfeição devida, por parte, do intelecto, não a tem contudo por parte da vontade. Assim como se a temperança existisse no concupiscíel, e não existisse no racional a prudência, não seria a temperança virtude como já dissemos. Porque o ato de temperança exige um ato de razão e outro do concupiscível, assim como o ato de fé exige o ato da vontade e o do intelecto.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ A verdade, em si mesma, é o bem do intelecto, pois é a perfeição dele. Por onde, enquanto que pela fé, o intelecto é determinado para o verdadeiro, a fé se ordena para um certo bem. Mas ulteriormente, enquanto informada pela caridade, também se ordena para o bem, como objeto da vontade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A fé de que fala o Filósofo se apoia na razão humana que não conclui necessariamente e é susceptível de falsidade. Por onde, essa fé não é virtude. Ao contrário, a fé de que tratamos, funda-se na verdade divina infalível e portanto, não é susceptível de falsidade. Portanto, tal fé pode ser virtude.

RESPOSTA À TERCEIRA. –A fé informada e a informe não diferem especificamente, como se pertencessem a espécies diversas. Diferem porém como, na mesma espécie, o perfeito, do imperfeito. Por onde, a fé informe, sendo imperfeita, não realiza perfeitamente a essência da virtude, pois, a virtude é uma certa perfeição, como diz o Filósofo.

RESPOSTA À QUARTA. – Certos ensinam, que a fé, enumerada entre as graças gratuitas, é a fé informe. – Mas não é esta opinião fundada, porque as graças gratuitas, no caso enumeradas, não são comuns a todos os membros da Igreja. Donde o dizer o Apóstolo: Há repartição de graças; e ainda: a um é dado isto, a outro, aquilo. Ora. a fé informe é comum a todos os membros da Igreja; porque o ser informe não lhe pertence à substância, enquanto dom gratuito. ­ Por onde, devemos dizer que fé, no caso vertente, deve ser tomada por alguma excelência dela, por exemplo, pela constância, como diz a Glosa, ou pela linguagem da fé. Por outro lado, é a fé considerada como fruto, enquanto o seu ato produz certo deleite, em razão da certeza. Por isso, quando o Apóstolo numera os frutos, a Glosa explica que é a fé a certeza do invisível.

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