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Art. 5 – Se a virgindade é a maior das virtudes.

O quinto discute–se assim. – Parece que a virgindade é a maior das virtudes.

1. – Pois, diz Cipriano: Agora devemos falar às virgens, cuja glória, por ser tanto mais sublime, merece tanto mais os nossos cuidados; elas são a flor da igreja, a honra e o ornato da graça espiritual, a porção mais ilustre da grei de Cristo.

2. Demais. – Maior prêmio é devido à maior virtude. Ora, à virgindade é devido o maior prêmio, a saber, o centésimo fruto, de que fala a Glosa. Logo, a virgindade é a maior das virtudes.

3. Demais. – Uma virtude é tanto maior quanto mais nos torna semelhantes a Cristo. Ora, pela virgindade é que, sobretudo nos assemelhamos a Cristo; assim, diz o Apocalipse, que os virgens seguem o cordeiro para onde quer que ele vá: e cantam um cântico novo, que mais ninguém podia cantar. Logo, a virgindade é a maior das virtudes.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Ninguém, que eu saiba, ousou preferir a virgindade ao estado religioso. E no mesmo livro: A autoridade eclesiástica, com o seu preclaríssimo testemunho, dá a saber aos fiéis que lugar ocupam, na dignidade dos altares, os que morreram mártires e religiosos. Pelo que dá a entender, que o martírio é preferível à virgindade, bem como o é o estado religioso.

SOLUÇÃO. – De dois modos pode uma coisa ser dita excelentíssima. – Primeiro, genericamente. E, assim, a virgindade é excelentíssima, isto é, no gênero da castidade; pois, sobrepuja a castidade da viuvez e a conjugal. E como se atribui antonomasticamente a beleza à castidade, por consequente se há de atribuir à virgindade uma beleza excelentíssima. Por isso, diz Ambrósio: Quem pode encontrar maior beleza que a da virgem, amada pelo rei, aprovada pelo Juiz, dedicada ao Senhor, consagrada a Deus? – De outro modo, podemos considerar o que é excelentíssimo, em absoluto. E então a virgindade não é a excelentíssima das virtudes. Pois, sempre o fim é mais excelente do que os meios; e quanto mais eficazmente um meio se ordena ao fim, tanto melhor é. Ora, o fim, que torna louvável a virgindade, é o vacar às coisas divinas, como dissemos. Por onde, as próprias virtudes teologais, e ainda a da religião, cujo ato é a ocupação mesma com as coisas divinas, são preferíveis à virgindade. Semelhantemente também, mais ardorosamente operam, para se unirem a Deus, os mártires, que para tal desprezam a própria vida; e os que, vivendo num mosteiro, desprezam a vontade própria e tudo quanto podem possuir, do que os virgens que, para o mesmo fim, se privam dos prazeres venéreos. Logo, a virgindade não é, absolutamente falando, a maior das virtudes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As virgens são a porção mais ilustre. da lei de Cristo, e tem uma glória mais sublime, por comparação com as viúvas e as casadas.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O centésimo fruto é atribuído à virgindade, segundo Jerônimo, por causa da excelência, que tem sobre a viuvez, a que é atribuído o sexagésimo fruto; – e sobre o matrimônio, ao qual é atribuído o trigésimo. Mas, como diz Agostinho, o centésimo fruto é o dos mártires; o sexagésimo, o das virgens; o trigésimo, o dos casados. Donde se não segue que a virgindade seja, absolutamente falando, a maior das virtudes, mas o é somente em relação aos outros graus da castidade.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os virgens seguirão o cordeiro para onde quer que vá, por imitarem a Cristo, não só pela integridade espiritual, mas ainda pela carnal, como diz Agostinho; e por isso seguem o Cordeiro em muitas coisas. Mas, Isso não implica que dele estejam mais perto; porque as outras virtudes nos unem a Deus mais estritamente, pela imitação espiritual. Quanto ao cântico novo, que só as virgens cantam, significa a alegria, que tem, pela conservação da integridade carnal.

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