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Art. 3 – Se a castidade é uma virtude distinta da abstinência.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a castidade não é uma virtude distinta da abstinência.

1. – Pois, à matéria de um mesmo género basta uma mesma virtude. Ora, tudo o que pertence a um sentido parece ser matéria de um mesmo género. Logo, como os prazeres da mesa, objeto da abstinência, e os venéreos, objeto da castidade pertencem ao tacto, parece que a castidade não é virtude diversa da abstinência.

2. Demais. – O Filósofo assimila todos os vícios da intemperança aos pecados pueris, merecedores de castigo. Ora, o nome da castidade deriva do castigo aos vícios opostos. Logo, como a intemperança coíbe certos vícios de intemperança, parece que a abstinência é a castidade.

3. Demais. – Os prazeres dos outros sentidos são objeto da temperança, enquanto ordenados aos prazeres do tacto, matéria da temperança. Ora, os prazeres da mesa, objeto da abstinência, ordenam–se aos prazeres venéreos, matéria da castidade. Por isso diz Jerónimo: O ventre e os órgãos genitais são vizinhos entre si, para que concluamos, da vizinhança dos membros, a união dos vícios. Logo, a abstinência e a castidade não são virtudes distintas uma da outra.

Mas, em contrário, o Apóstolo enumera a castidade entre os jejuns, concernentes à abstinência.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, a temperança versa propriamente sobre as concupiscências dos prazeres da tacto. Portanto e necessariamente, os prazeres de natureza diversa correspondem virtudes diversas compreendidas na temperança. Ora, os prazeres se proporcionam aos atos de que são as perfeições, como diz Aristóteles. Mas, é manifesto, que os atos concernentes ao uso dos alimentos, que conservam a natureza do indivíduo, são de outro género que os concernentes ao uso das coisas venéreas, pelos quais se conserva a natureza da 'espécie. Portanto, a castidade, cujo objeto são os prazeres venéreos, é uma virtude distinta da abstinência, cuja matéria são os prazeres da mesa.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A temperança não consiste principalmente em regular os prazeres do tacto, quanto ao juízo do sentido em relação às coisas tangíveis, que é da mesma natureza em todos, mas, quanta ao uso mesmo das coisas tangíveis, como diz Aristóteles. Ora, uma é a razão de usarmos da comida e dá bebida, e outra a de praticarmos os atos venéreos. Portanto, devem ser diversas as virtudes, embora digam respeito a um mesmo sentido.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Os prazeres venéreos são mais veementes e mais perturba dores da razão do que os da mesa. E por isso devem ser mais castigados e refreados; pois, consentirmos neles aumentará a força da concupiscência de diminuirá a força da alma. Donde o dizer Agostinho: Penso que nada expulsa melhor o ânimo viril da sua fortaleza do que às blandícias femininas e aquele contato de corpos sem o qual não podemos ter mulher.

RESPOSTA À TERCEIRA. –Os prazeres das outros sentidos não têm a finalidade de conservar a natureza do homem, senão enquanto ordenados aos prazeres do tacto. Por isso, nenhuma outra virtude há, compreendida na temperança, que tenha por objeto desses prazeres. Os prazeres da mesa, porém, embora de certo modo se ordenem aos venéreos, contudo, em si mesmos, se ordenam a conservar a vida do homem. Par isso se referem em si mesmos, a uma virtude especial, embora essa virtude, chamada abstinência, ordene o seu ato ao fim da castidade.

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