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Art. 2 – Se a abstinência é uma virtude especial.

O segundo discute–se assim. – Parece que a abstinência não é uma virtude especial.

1. – Pois, toda virtude é em si mesma digna de louvor. Ora, a abstinência não é em si mesma digna de louvor; pois, diz Gregório, que a virtude da abstinência não é recomendada senão pelas outras virtudes. Logo, a abstinência não é uma virtude especial.

2. Demais. – Agostinho diz que os santos se abstêm da comida e da bebida, não por ser má alguma criatura de Deus, mas somente para castigarem o corpo. Ora, isto constitui a castidade, como o próprio nome o indica. Logo, a abstinência não é uma virtude especial distinta da castidade.

3. Demais. – Assim como devemos nos contentar com a comida moderada, assim também, com vestes moderadas, segundo aquilo do Apóstolo: Tendo com que nos sustentarmos e com que nos cobrimos, contentemo–nos com isto. Ora, a moderação em nos vestirmos não constitui objeto de nenhuma virtude especial. Logo, também não o constitui a abstinência, que nos modera os alimentos.

Mas, em contrário, Macróbio considera a abstinência como parte especial da temperança.

SOLUÇÃO. – Como dissemos a virtude moral conserva o bem da razão contra o ímpeto das paixões. Portanto, sempre que, por uma razão especial, a paixão nos desviar do bem racional, haverá lugar necessariamente para uma virtude especial. Ora, os prazeres da comida são de natureza a nos desviar do bem da razão, quer pela sua intensidade, quer pela necessidade que temos de nos alimentar, condição necessária para conservarmos a vida, o bem que mais desejamos. Logo, a abstinência é uma virtude especial.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As virtudes são necessariamente conexas, como dissemos. Por isso, uma virtude é auxiliada e sustentada por outra; assim, a justiça, pela fortaleza. E deste modo também a virtude da abstinência é reforçada pelas outras.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Pela abstinência o corpo é castigado, não só contra os atrativos da luxúria, mas também contra os da gula; pois, quem se abstém se torna mais forte para vencer os ataques da gula, tanto mais intensos quanto mais lhes cedemos. E contudo não impede seja a abstinência uma virtude especial o fato de ela auxiliar a castidade, porque uma virtude auxilia a outra.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O uso das vestes foi introduzido pela arte; e o dos alimentos, pela natureza. Portanto, deve ser uma virtude especial a que modera, antes, os alimentos, que a moderadora das vestes.

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