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Art. 2 – Se a lei divina estabelece convenientemente os preceitos sobre as partes da coragem.

O segundo discute–se assim. – Parece que a lei divina estabeleceu inconvenientemente os preceitos sobre as partes da coragem.

1. – Pois, assim como a paciência e a perseverança são partes da coragem, assim também, a magnificência e a magnanimidade, ou confiança, como do sobre dito resulta. Ora, a lei divina estabeleceu certos preceitos sobre a paciência. E também sobre a perseverança. Logo, pela mesma razão, devia também estabelecer certos outros sobre a magnificência e a magnanimidade.

2. Demais. – A paciência é uma virtude sobremodo necessária, pois, é a guarda das outras virtudes, como diz Gregório. Ora, os preceitos sobre as outras virtudes são absolutos. Logo, não deviam ser dados, sobre a paciência, preceitos considerados como só preparativos da alma, no dizer de Agostinho.

3. Demais. – A paciência e a perseverança são partes da coragem, como se disse. Ora, os preceitos relativos à coragem não são afirmativos mas só, negativos, como se estabeleceu. Logo, também não se deviam dar preceitos afirmativos, mas só negativos, sobre a paciência e a perseverança.

Mas, o contrário se deduz da tradição da Sagrada Escritura.

SOLUÇÃO. – A lei divina informa perfeitamente o homem sobre o necessário para viver retamente. Ora, para viver retamente, o homem não só precisa das virtudes principais, mas ainda das secundárias e anexas. E por isso, assim como a lei divina deu preceitos relativos aos atos das virtudes principais, assim também os deu relativos aos atos das virtudes secundárias e adjuntas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A magnificência e a magnanimidade não pertencem ao gênero da coragem, senão por uma certa grandeza excelente, considerada como a matéria própria delas. Ora, o que concerne à excelência entra antes no conselho de perfeição do que no preceito de necessidade. Por isso, sobre a magnificência e a magnanimidade não se deviam dar preceitos, mas antes, conselhos. Ora, as aflições e os trabalhos da vida presente são relativos à paciência e à perseverança, não em razão e qualquer grandeza nelas consideradas, mas em razão do gênero mesmo. Por isso deviam se estabelecer preceitos sobre a paciência e a perseverança.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como dissemos os preceitos afirmativos, embora sempre obriguem, não obrigam contudo para sempre, mas, conforme o lugar e o tempo. Por onde, assim como os preceitos afirmativos relativos às outras virtudes devem ser entendidos corno preparativos da alma, isto é, como os que nos preparam para os cumprir, quando for ocasião, assim também os preceitos sobre a paciência devem ser entendidos no mesmo sentido.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A coragem, enquanto distinta da paciência e da perseverança, versa sobre os perigos máximos, nos quais devemos proceder mais cautamente; nem é mister determinar o que devemos fazer em particular. Ora, a paciência e a perseverança versam sobre os sofrimentos e os trabalhos de pouca monta. Por onde, é mais possível, sem perigo, determinar o que em tais casos devemos fazer, sobretudo em geral

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