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Art. 4 – Se a vanglória é pecado capital.

O quarto discute–se assim. – Parece que a vanglória não é pecado capital.

1. – Pois, um pecado que sempre nasce de outro parece não ser capital. Ora, a vanglória sempre nasce da soberba. Logo, a vanglória não é um vício capital.

2. Demais. – Parece que a honra é mais principal que a glória, pois, é o efeito desta. Ora, a ambição, ou o apetite desordenado da honra, não é um vício capital. Logo, também não o é o desejo da vanglória.

3. Demais. – O vício capital implica alguma principalidade. Ora, parece que a vanglória não implica nenhuma principalidade. Nem quanto à noção de pecado, porque nem sempre é pecado mortal; nem relativamente à apetibilidade do bem, porque a glória humana é um bem frágil e extrínseco ao homem. Logo, a vanglória não é um vício capital.

Mas, em contrário, Gregório enumera a vanglória entre os pecados capitais,

SOLUÇÃO. – Há duas doutrinas a respeito dos pecados capitais. Certos consideram a soberba como um deles; e estes não têm a vanglória como pecado capital. Mas, Gregório considera a soberba a rainha de todos os vícios, e tem como vício capital a vanglória, que imediatamente nasce dela. E o faz com razão. Pois, a soberba, segundo depois diremos, importa o desejo desordenado da excelência. Ora, de todos os bens que desejamos resulta uma certa perfeição e excelência. Por onde, os fins de todos os vícios se ordenam para o fim da soberba. Donde vem o ter ela uma certa causalidade geral, acima dos outros vícios, e não dever ser contada entre os princípios especiais dos vícios, que são os pecados capitais. Ora, dentre os bens pelos quais conseguimos alguma excelência, o primeiro lugar pertence à glória, enquanto implica a manifestação de alguma bondade; pois, o bem é naturalmente amado e honrado por todos. Por onde, assim como pela glória divina conseguimos a excelência na ordem divina, assim, pela glória humana, conseguimos a excelência, na ordem humana. E portanto pela sua afinidade com a excelência, que os homens soberanamente desejam, há de ser necessariamente a glória muito desejável, e de a buscarmos desordenadamente nascerão muitos vícios. Logo, a vanglória é pecado capital.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÁO. – O fato de haver algum vício originado da soberba não o impede de ser pecado capital; pois, como dissemos, a soberba é a rainha e a mãe de todos os vícios.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Os louvores e as honras estão para a glória, segundo dissemos, como as causas de que ela resulta; por isso também a glória está para eles como fim. Pois, se queremos ser honrados e louvados é por pensarmos que isso nos torna ilustres, no conhecimento dos outros.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Já dissemos porque a vanglória é principalmente desejável; o que basta para a constituir um pecado capital. Pois, um pecado capital não há de ser necessariamente mortal; porque também o pecado mortal pode resultar do venial, enquanto este dispõe para aquele.

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