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Art. 6 – Se a confiança pertence à magnanimidade.

O sexto discute–se assim. – Parece que a confiança não pertence à magnanimidade.

1. – Pois, podemos ter confiança não só em nós mesmos, mas também, nos outros, conforme ao Apóstolo: Temos, uma tal confiança em Deus por Cristo; não que sejamos capazes, de nós mesmos, de ter algum pensamento, como de nós mesmos. O que é contra a ideia de magnanimidade. Logo, a confiança não pertence à magnanimidade.

2. Demais. – Parece que a confiança é oposta ao temor, segundo a Escritura: Resolutamente obrarei e não temerei. Ora, não ter temor é antes próprio da coragem. Logo, também a confiança mais pertence à coragem que à magnanimidade.

3. Demais. – Prêmio não é devido senão à virtude. Ora, a confiança merece ser premiada, segundo o Apóstolo: Nós somos a casa de Cristo contanto que tenhamos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim. Logo, a confiança é uma virtude distinta da magnanimidade. O que também se conclui, do fato de Macróbio colocá–la na mesma divisão que a magnanimidade.

Mas, em contrário, Túlio parece que põe a confiança em lugar da magnanimidade, como se disse.

SOLUÇÃO. – A palavra latina fidúcia, confiança, vem de fides, fé; e a fé nos faz crer alguma coisa e em alguém. Ora, a confiança é própria da esperança, conforme á Escritura: E terás confiança na esperança que te propuseste.

Por onde, o nome de confiança significa principalmente o fato de termos esperança, por acreditarmos nas palavras de alguém, que nos promete ajuda. Ora, fé também se chama uma opinião veemente; e podemos opinar com veemência, fundados não somente nas palavras de outrem, mas também, no que nele percebemos. Por isso, pode também chamar–se confiança a esperança, que nutrimos, fundada num determinado fato. O qual, ora, o descobrimos em nós mesmo, como quando, considerando–nos são, confiamos na vida longa que teremos; ora, pelo que vemos em outrem, como quando, tendo alguém como nosso amigo e poderoso, confiamos, que nos ajudará. – Ora, já dissemos que o objeto próprio da magnanimidade é a esperança num bem difícil. E, portanto, como a confiança robustece–nos a esperança, por provocar em nós uma reflexão, que nos leva a opinar com segurança, que conseguiremos um determinado bem, resulta que a confiança faz parte da magnanimidade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O Filósofo diz, que magnânimo é quem não precisa de nada; o contrário fa–Io–ia um necessitado. Mas, isto deve entender–se num sentido humano; e por isso Aristóteles acrescenta – ou apenas. Pois, sobre excede absolutamente o homem não precisar de nada. Pois, em primeiro lugar precisamos do auxílio divino; segundo, do auxílio humano, porque o homem, não se bastando a si mesmo para viver, é naturalmente um animal social. Ora, na medida em que precisa dos outros é natural que o magnânimo tenha confiança neles; porque também constitui uma excelência o contarmos com quem nos possa ajudar prontamente. Mas também é natural ao magnânimo ter confiança em si mesmo na medida em que tem também a sua capacidade de agir.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como dissemos, quando tratamos das paixões, a esperança certamente se opõe ao desespero, cujo objeto é o bem, que também o é dela; mas, pela contrariedade dos objetos, opõe–se ao temor, cujo objeto é o mal. Mas, a confiança implica uma certa esperança forte; por isso, ela se opõe, como a esperança, ao temor. Como a coragem, porém, propriamente nos confirma contra o mal; e como a magnanimidade nos dá força para alcançarmos um bem, daí resulta que a confiança mais pertence à magnanimidade, que à coragem. E como a esperança causa a audácia, que faz parte da coragem, daí provém, por consequência, que ela pertence à coragem.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A confiança, como dissemos é uma certa modalidade da esperança; pois, é a esperança roborada por uma opinião firme. Ora, a modalidade própria de um afeto pode dar–lhe valor aos atos e torná–los meritórios; mas, não é essa modalidade, senão a matéria própria dele, que o constitui virtude, especificamente. Por onde, a confiança não pode, propriamente falando, designar uma virtude, mas pode designar–lhe a condição. E por isso, é enumerada entre as partes da coragem, não como virtude anexa, mas, segundo dissemos, como parte integrante; salvo se a considerarmos, como Túlio, como magnanimidade.

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