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Art. 11 – Se a coragem é uma virtude cardeal.

O undécimo discute–se assim. – Parece que a coragem não é uma virtude cardeal.

1. – Pois, a ira tem a máxima afinidade com a coragem. Ora, a ira não é considerada uma paixão principal; nem mesmo a audácia, que tem relações com a coragem. Logo, também a coragem não deve ser considerada uma virtude cardeal.

2. Demais. – A virtude se ordena para o bem. Ora, a coragem não se ordena diretamente para o bem mas, antes, para o mal, isto é, a afrontar os perigos e os trabalhos, como diz Túlio. Logo, a coragem não é uma virtude cardeal.

3. Demais. – A virtude cardeal tem por objeto as coisas que o homem principalmente busca, na sua vida; ela é comparável aos gonzos (cardo) em que gira a porta. Ora, a coragem tem por objeto afrontar os perigos de morte, que raramente se apresentam na vida humana. Logo, a coragem não deve ser considerada virtude cardeal ou principal.

Mas, em contrário, Gregório e Agostinho enumeram a coragem entre as quatro virtudes cardeais ou principais.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, chamam–se virtudes cardeais ou principais as que se revestem dos caracteres que principalmente convêm às virtudes. Ora, entre as outras condições comuns à virtude, está a de obrar com firmeza, como claramente o diz Aristóteles. Mas, nenhuma virtude é mais digna de louvores, pela firmeza do que a coragem. Pois, tanto mais é louvado quem age com firmeza quanto mais afronta um obstáculo que pode levá–lo à derrota ou ao retrocesso. Ora, tanto o bem, que deleita, como o mal, que aflige, impele–nos a deixar a prática de um ato exigido pela razão; mas, a dor o faz mais gravemente que o prazer. Pois, diz Agostinho: Não há ninguém que não prefira, antes, fugir da dor que buscar o prazer; pois, às vezes, vemos os animais, mesmos os mais brutos, observarem–se dos maiores prazeres, por medo. E entre as dores da alma e os perigos são os mais temidos os que causam a morte. Ora, esses é que sobretudo afronta o corajoso. Logo a coragem é uma virtude cardeal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A audácia e a ira não ajudam o ato da coragem que é suportar o ataque; pelo que principalmente é digno de louvor o ato corajoso. Pois, por esse ato o corajoso vence o temor, que é uma paixão principal, como dissemos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A virtude se ordena ao bem da razão, que devemos conservar, contra o ataque do mal. Ora, a coragem se ordena aos males do corpo, que lhes são contrários, e aos quais resiste; mas, ao bem da razão, como ao fim, que visa alcançar.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Embora os perigos de morte raramente nos ameacem, contudo frequentemente ocorrem as ocasiões desses perigos; a saber, quando a justiça e outras boas obras, que praticamos, suscitam–nos adversários mortais.

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