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Art. 3 – Se a dulia é uma virtude especial distinta da latria.

O terceiro discute–se assim. Parece que a dulia não é uma virtude especial distinta da latria.

1. – Pois, aquilo da Escritura. – Senhor meu Deus, em ti esperei – diz a Glosa: Senhor de todas as causas pelo poder, ao qual é devida a dulia; Deus, pela criação, ao qual é devida a latria. Ora, a virtude ordenada para Deus, enquanto Senhor, não difere da que a ele se ordena como Deus. Logo, a dulia não é uma virtude distinta da latria.

2. Demais. – Segundo o Filósofo, ser amado é semelhante a ser honrado. Ora, a virtude da caridade, pela qual amamos a Deus, é a mesma pela qual amamos ao próximo. Logo, a dulia, pela qual honramos ao próximo, não é diferente da latria, pela qual honramos a Deus.

3. Demais. – O movimento que conduz, à imagem é o mesmo que conduz ao ser ao qual ela pertence. Ora, pela dulia honramos o homem enquanto imagem de Deus; pois, diz a Escritura, que os ímpios não fizeram conceito da honra das almas santas, porquanto Deus criou o homem inexterminável, e o fez à imagem da sua semelhança. Logo, a dulia não é uma virtude diferente da latria, pela qual honramos a Deus.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Uma é a servidão devida aos homens em virtude da qual o Apóstolo manda os servos serem sujeitos aos seus senhores, e que em grego se chama dulia; e outra servidão é a latria, pela qual cultuamos a Deus.

SOLUÇÃO. – Conforme ao que já dissemos sempre a cada diversa noção de débito corresponde uma virtude, pela qual o pagamos. Ora, a servidão nós a devemos, por uma razão, a Deus e, por outra, ao homem; assim como também o domínio cabe a Deus e aos homens a títulos diversos. Pois, Deus tem domínio plenário e principal sobre todas as criaturas e sobre cada uma delas, que lhe estão totalmente sujeitas ao poder; ao passo que o homem tem uma certa semelhança do domínio divino, enquanto tem poder particular sobre outro homem ou sobre alguma criatura. Logo, a dulia, que presta a sujeição devida a quem manda, é virtude diferente da latria, que presta sujeição ao governo divino. E é uma espécie de respeito, pois, este nos faz honrar quaisquer pessoas preexcelentes em dignidade; ao passo que pela dulia propriamente dita os servos veneram aos seus senhores; pois, dulia em grego significa servidão.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Assim como a religião é considerada a piedade filial por excelência, porque Deus é por excelência pai; assim também a latria se chama dulia por excelência, por ser Deus o Senhor, por excelência. Ora, a criatura não participa do poder de criar, em razão do qual a Deus é devida a latria. Por isso, a referida Glosa distinguiu, atribuindo a latria a Deus, enquanto criador, poder incomunicável à criatura; e a dulia, quanto ao domínio, comunicável a ela.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A razão de amarmos ao próximo é Deus; pois, não o amamos com caridade, senão por amor de Deus. Portanto, pela mesma caridade amamos a Deus e ao próximo. Mas, há outras amizades diferentes da caridade, conforme as razões diversas pelas quais amamos os homens. E semelhantemente, sendo diferente a razão de servirmos a Deus e ao homem, ou de honrá–los, a um e outro, a virtude de latria não é idêntica à de dulia.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O movimento para a imagem como tal tem por termo aquilo que ela representa; mas, nem todo movimento para a imagem a tem ela própria como termo. Por onde, o movimento para a imagem às vezes difere especificamente do que tem a realidade, como termo. Portanto, a honra ou a sujeição própria da dulia visa absolutamente falando uma certa dignidade do homem. Mas, embora seja, quanto a essa dignidade, à imagem ou semelhança de Deus, o homem nem sempre e atualmente refere a Deus a reverência que tributa a outrem. – Ou devemos dizer, que o movimento cujo termo é a imagem, recai também sobre a causa; mas, o movimento cujo termo é a causa não há de necessariamente ter também a imagem como termo. Por onde, a reverência que tributamos a outrem, enquanto imagem de Deus redunda de certo modo para Deus. Mas, é diferente a reverência que tributamos a Deus mesmo, que de nenhum modo se lhe refere à imagem.

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