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Art. 1 – Se recorrer a observâncias da arte notória é ilícito.

O primeiro discute–se assim. – Parece que não é ilícito recorrer às observâncias da arte notória.

1. – Pois, em dois sentidos pode um ato ser ilícito: genericamente, como o homicídio ou o furto; ou por se ordenar a um mau fim, como dar esmola por vanglória. Ora, as observâncias da arte notória não são genericamente ilícitas; pois, consistem em certos jejuns e orações a Deus e podem ordenar–se também para um bom fim, como quando se trata de adquirir ciência. Logo, recorrer a essas observâncias não é ilícito.

2. Demais. – Na Escritura lemos que aos meninos abstinentes Deus deu a ciência e o conhecimento de todos os livros. Ora, as observâncias da arte notória consistem em certos jejuns e abstinências. Logo, parece que essa arte produz os seus efeitos por influência divina e, portanto não é ilícito recorrer a ela.

3. Demais. – Parece que é desordenado consultar sobre o futuro, os demônios, porque eles não o conhecem, senão só Deus, como se disse. Ora, os demônios conhecem as verdades científicas; pois, o objeto da ciência é o que se realiza necessariamente e sempre, o que está ao alcance de conhecimento humano e com maior razão do dos demônios, que são mais perspicazes, no dizer de Agostinho. Logo, não parece pecado recorrer à arte notória, mesmo que produza o seu efeito por meio dos demônios.

Mas, em contrário, a Escritura: Nem se ache entre vós quem indague dos mortos a verdade, porque essa indagação se apoia no auxílio dos demônios. Ora, pelas observâncias da arte notória, busca–se o conhecimento da verdade por meio de certos pactos, simbólicos feitos com o demônio. Logo, recorrer à arte notória não é lícito.

SOLUÇÃO. – A arte notória é ilícita e ineficaz. – Porque usa de certos meios para adquirir a ciência, que não podem em si mesma conduzir ai ela, como o exame de certas figuras, a pronúncia de certas palavras de significação ignorada e coisas semelhantes. Por isso, a referida arte não emprega esses meios como causas, mas, como sinais. Mas, não como sinais revelados por Deus, como o são os sinais sacramentais. Donde se conclui que são sinais vãos e, por consequência, não: tem outro efeito, segundo Agostinho, senão o de exprimir simbolicamente pactos e alianças com os demônios. Por isso, o Cristão deve de todo em todo repudiar e fugir à arte notória, bem como as outras artes nuqatôrias por serem superstições nocivas, diz Agostinho.

E demais tal arte é ineficaz para nos dar a ciência. Pois, como por meio dela o homem não adquire a ciência descobrindo ou apreendendo, que é o seu modo conatural de a obter, consequentemente esse resultado ele o espera de Deus ou dos demônios. – Ora, é certo que alguns receberam de Deus a sabedoria e a ciência infusas, como na Escritura lemos de Salomão. E também o Senhor disse aos seus discípulos: Eu vos darei uma boca e uma sabedoria à qual não poderão resistir nem contradizer todos os vossos inimigos. Mas, esse dom não é dado a qualquer nem é o resultado de nenhuma prática supersticiosa, mas depende do arbítrio do Espírito Santo, segundo o Apóstolo: Porque a um pelo Espírito é dada a palavra de sabedoria; a outro, porém a palavra de ciência segundo o mesmo Espirito, E em seguida: Todas estas causas obra só um e mesmo Espírito, repartindo a cada um como quer. ­ Mas os demônios não podem iluminar a inteligência, como estabelecemos na Primeira Parte. Ora, a inquisição da ciência e da sabedoria se faz pela iluminação do intelecto. Por isso nunca ninguém adquiriu a ciência por meio dos demônios. Donde o dizer Agostinho: Porfírio confessa que, nas práticas teúrgicas, chamadas teletas, isto é, na atividade dos demônios, nada há que possa purificar, a alma intelectual, tornando–a capaz de ver ao seu Deus e contemplar a verdade, tal como todos os princípios científicos. Contudo, os demônios podem, usando de palavras humanas, ensinar certas verdades científicas; mas não é o que busca a arte notória.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Adquirir ciência é bom; mas, adquiri–la de um modo indébito não o é. Ora, este é o fim visado pela arte notória.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Aqueles meninos não praticavam a abstinência com vã observância da arte notória; mas, para cumprir o preceito da lei divina, não querendo contaminar–se com a comida dos gentios. Por onde, pelo mérito da obediência, alcançaram de Deus a ciência, conforme às palavras da Escritura: Mais que os anciãos entendi, porque busquei os teus mandamentos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Buscar dos demônios o conhecimento do futuro é pecado, não só porque eles não o conhecem, mas também pela sociedade em que se entra com eles, o que se dá no caso vertente.

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