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Art. 1 – Se a adoração é ato de latria ou de religião.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a adoração não é um ato de latria ou de religião.

1. – Pois, o culto da religião só a Deus é devido. Ora, a adoração nem só a Deus é devida; assim, lemos na Escritura que Abraão adorou os anjos, e que o profeta Natan, chegado à presença do rei David, adorou–o prostando–se em terra. Logo, a adoração não é um ato de religião.

2. Demais. – O culto da religião é devido a Deus, por termos nele a nossa felicidade, como está claro em Agostinho. Ora, a adoração é–lhe devida por causa da sua majestade; pois aquilo da Escritura – Adorai ao Senhor no átrio do seu santo tabernáculo – diz a Glosa: Desses átrios passa–se para o átrio em que a majestade é adorada. Logo, a adoração não é um ato de latria.

3. Demais. – Um mesmo culto de religião é devido às três Pessoas. Ora, não as adoramos com um mesmo ato de adoração, mas, genuflectimos ao invocar cada uma delas. Logo, a adoração não é um ato de latria.

Mas, em contrário, o Evangelho: Ao Senhor teu Deus adorarás e a ele só servirás.

SOLUÇÃO. – A adoração tem por fim reverenciar a quem é objeto dela. Ora, é manifesto, pelo que já foi dito, que é próprio da religião prestar reverência a Deus. Logo, a adoração que tributamos a Deus é um ato de religião.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Devemos reverenciar a Deus por causa da sua excelência, que ele comunica a certas criaturas, não no mesmo grau em que a tem, mas, por participação. E assim, a veneração, que tributamos a Deus, e que constitui a latria, não é a mesma com que veneramos a certas criaturas excelentes, e que constitui a dulia, da qual mais adiante trataremos. E como o que fazemos exteriormente é sinal da reverência interior, praticamos certos atos externos para reverenciar a criaturas excelentes, entre os quais o mais elevado é a adoração, mas há um que só a Deus tributamos e é o sacrifício. Por isso diz Agostinho: Muito do que é próprio, ao culto divino foi transformado em honras humanas, quer por baixeza profunda, quer por perniciosa adulação. Entretanto não cessam de ser homens aqueles a quem se tributam as honras, o respeito religioso e mesmo a adoração. Mas, que homem jamais sacrificou senão aquele que sabe e crê que é Deus e o tem como tal? Portanto, para prestar reverência devida a uma criatura excelente, é que Natan adorou a David. Mas Mardequeu não quis adorar a Anian, prestando–lhe a reverência devida a Deus, temendo, como diz a Escritura, trasladar para um homem a honra de Deus. E semelhantemente, Abraão adorou os anjos restando–lhes a reverência, como a criaturas excelentes, que são: e também Josué o fez como se lê na Escritura. Embora possamos interpretar, que adoraram com adoração de latria a Deus, que aparecia e falava sob a figura do anjo. Mas João foi proibido de adorar um anjo, tributando–lhe a reverência devida a Deus. Quer para ficar patenteada a dignidade a que, pelos méritos de Cristo, o homem subiu, equiparando–se aos anjos, sendo por isso que a Escritura acrescenta – eu servo sou contigo e com teus irmãos: quer também para não dar ocasião à idolatria, e, por isso ajunta – adora a  Deus.

RESPOSTAS À SEGUNDA. – Na majestade se incluem todas as excelências de Deus, causa de termos nele, como sumo bem, a nossa felicidade.

RESPOSTAS A TERCEIRA. – Como as três Pessoas tem a mesma excelência, é–lhes devida a mesma honra e referência e por consequência, a mesma adoração. E é isso o que nos quer significar a Escritura ao dizer que Abraão, adorando um dos três varões que lhe apareceram, falou nestes termos: Senhor, se eu achei graça, etc. E quanto à tríplice genuflexão, ela significa a trindade das Pessoas e não a diversidade da adoração.

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