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Art. 12 – Se a oração deve ser vocal.

O duodécimo discute–se assim. – Parece que a oração não deve ser vocal.

1. – Pois, a oração, como já se disse, nós a fazemos principalmente a Deus. Ora, Deus conhece a linguagem do coração. Logo, é inútil lhe acrescentarmos a oração vocal.

2. Demais. – Pela oração a mente humana deve ascender para Deus, como se disse. Ora, as palavras, como tudo quanto é sensível; impedem a nossa contemplação ele se alçar até Deus. Logo, quando oramos não devemos usar de palavras.

3. Demais. Devemos fazer a nossa oração a Deus ocultamente, conforme àquilo da Escritura: Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechada a porta, ora a teu Pai em secreto. Ora, manifestamos a nossa oração pela palavra. Logo, a oração não deve ser vocal.

Mas, em contrário, a Escritura: Com a minha voz clamei ao Senhor, com a minha voz fiz deprecação ao Senhor.

SOLUÇÃO. – Há duas formas de oração: a geral e a particular. – A geral é a feita a Deus pelos ministros ela Igreja, em nome de todo o povo. Por isso é necessário seja conhecida de todo ele, por quem é proferido, o que só é possível se ela for vocal. Por isso a Igreja com razão estabeleceu que os seus ministros a pronunciem em voz alta para poder chegar ao conhecimento de todos. – A particular é a que cada um faz por si mesmo ou por outrem. E esta oração não tem necessidade de ser vocal.

Mas, fazemo–la, contudo vocalmente por três razões. – Primeiro, para despertar a devoção interior, que quando oramos nos eleva a mente para Deus. Pois, os sinais exteriores das palavras ou de quaisquer outros atos movem–nos, quando apreendidos, o espírito e por consequência, pela afeição. Por isso diz Agostinho: Com as palavras e outros sinais próprios para aumentar–nos os santos desejos, nós nos excitamos a nós mesmos mas fortemente. E é porque, nas nossas orações particulares, devemos usar de palavras e de sinais semelhantes, na medida em que forem úteis a nos excitarem a mente. Devemos abandoná–las, porém, se nô–la distraírem ou nos servirem de obstáculo, de qualquer modo seja. E tal é o caso de quem já tem o espírito suficientemente preparado à devoção, sem o auxilio desses sinais. Por isso dizia o Salmista : O meu coração te falou a ti: teu rosto hei–de buscar. E de Ana se lê, que falava no seu coração. – Segundo, usamos da oração vocal, quase Como paga de um dever, isto é, para servirmos a Deus com tudo que dele recebemos; não só com a mente, portanto, mas também com o corpo. O que, sobretudo, o realiza a oração quando é satisfatória. Donde o dizer a Escritura: Tira–nos todas as nossas iniquidades; recebe este bem e nós te ofereceremos novilhos em sacrifício com os louvores dos nossos lábios. – Em terceiro lugar, fazemos oração vocal por uma como redundância da alma sobre o corpo, resultante de um afeto veemente, conforme à Escritura: Alegrou–se o meu coração, regoziou–se a minha língua.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Não proferimos a oração vocal para manifestarmos algo de desconhecido a Deus, mas para que a nossa mente ou a de outros se eleve para ele.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Palavras sem nenhuma significação devota distraem–nos a mente e impedem–nos a devoção. Mas as que tem significação devota, despertam–nos o espírito, sobretudo quando pouco devoto.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como diz Crisóstomo, Deus nos proibi orarmos em público com a intenção de sermos vistos pelos outros. Por isso, quando assim oramos nada devemos fazer de insólito, que os outros notem, por exemplo, grita; para sermos ouvidos deles; bater espetaculosamente no peito ou abrir os braços. – Nem contudo, diz Agostinho, é mau sermos vistos pelos outros; mas, procedermos de modo que o sejamos.

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