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Art. 9 – Se estão convenientemente assinaladas as sete petições da Oração Dominical.

O nono discute–se assim. – Parece que estão inconvenientemente assinaladas as sete petições da Oração Dominical.

1. – Pois, é vão pedirmos seja santificado o que sempre é santo. Ora, o nome de Deus sempre é santo, segundo a Escritura: É santo o seu nome. E também é sempiterno o seu reino, ainda segundo a Escritura: O teu reino, Senhor, é reino que se estende a todos os séculos. E enfim a vontade de Deus sempre se cumpre, conforme ao lugar seguinte: Toda a minha vontade se fará. Logo, é vão pedir que o nome de Deus seja santificado, que chegue o seu reino e que se lhe faça a vontade.

2. Demais. – Antes de evitarmos o mal devemos buscar o bem. Ora, parece inconveniente pedirmos que possamos praticar o bem, antes de pedirmos que evitemos o mal.

3. Demais. – Pedimos para que nos deem. Ora, o principal dom de Deus é o Espírito Santo e o que por medação dele nos é dado. Logo, parecem inconvenientemente formuladas petições, que não correspondem aos dons do Espírito Santo.

4. Demais. – Segundo Lucas, a Oração Dominical formula só cinco petições. Logo é supérfluo que, segundo Mateus, se formulem sete.

5. Demais. – É vão captar a benevolência de quem já com ela nos preveniu. Ora, Deus nos preveniu com a sua benevolência, conforme à Escritura: Deus nos amou primeiro. Logo, é supérfluo colocar. antes de todas as petições: Padre Nosso que estais nos céus, que parece ter o fim ele captar a benevolência.

Mas, em contrário, basta a autoridade de Cristo, que instituiu a Oração.

SOLUÇÃO – A Oração Dominical é perfeitíssima, porque como diz Agostinho, se oramos reta e convenientemente, não podemos pedir senão o que está formulado na Oração Dominical. Pois, sendo a oração, de certo modo, o intérprete do nosso desejo, junto ele Deus, quando oramos só podemos pedir com retidão o que com retidão podemos desejar. Ora, na Oração Dominical, não só pedimos todas as coisas que podemos retamente desejar, mas, ainda, na ordem em que são desejáveis, De modo que essa Oração não só nos ensina a pedir, mas também manifesta todo o nosso afeto.  

Ora, é claro que o objeto primário do nosso desejo é o fim e o secundário os meios. Mas o nosso fim é Deus, para o qual o nosso afeto tende duplamente: por lhe querermos a glória, e por querermos gozá–la. E desses dois modos, o primeiro pertence ao amor com que amamos a Deus em si mesmo; o segundo, ao com que nos amamos, em Deus. – Por isso, a primeira petição é assim formulada: Seja santificado o teu nome, pela qual pedimos a glória de Deus. A segunda assim: Venha a nós o teu reino, pela qual pedimos que alcancemos a glória do seu reino.

Ora, ao fim supra referido um meio pode nos conduzir duplamente: por si mesmo e por acidente. Por si, quando é um bem útil para o fim. Mas, um meio pode ser útil para o fim de dois modos. – De um modo, direta e principalmente, conforme o mérito com que merecemos a felicidade, obedecendo a Deus. E por isso é que a Oração diz: Faça–se a tua vontade assim na terra como no céu. – De outro modo, instrumentalmente e como nos ajudando a merecer. E é isto o que visa a petição: O pão nosso de cada dia dá–nos hoje. Quer o entendamos do pão sacramental, cujo uso quotidiano nos alimenta, e no qual se compreendem os outros sacramentos; quer, do pão corporal, entendendo–se por pão tudo o necessário à nossa subsistência, como diz Agostinho. Pois, a Eucaristia é o sacramento principal assim como o pão é o alimento principal. Por isso, no Evangelho de Mateus está escrito supersubstancial – isto é. principal, como explica Jerônimo.

Acidentalmente nós nos ordenamos à felicidade, pela remoção dos obstáculos. Ora, há três obstáculos que nô–la impedem. – O primeiro é O pecado, que diretamente nos exclui do reino, conforme ao Apóstolo: Nem os fornicários, nem os idólatras, etc., hão de possuir o reino de Deus. E a isto se referem as expressões: Perdoei–nos os nossos pecados. – O segundo é a tentação, que nos impede obedecer à vontade divina. E a isto se referem as expressões: E não nos induzas em tentação, com que não pedimos para não sermos tentados, mas para não sermos vencidos pelas tentações, que é o sentido da expressão referida. – O terceiro são as penas desta vida, que lhe tiram a plenitude. E a isso se referem as expressões; Livra–nos do mal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como ensina Agostinho, quando dizemos ­ Santificado seja o teu nome – não o pedimos, como se não fosse santo o nome de Deus, mas, para que os homens o tenham como santo, o que constitui propagação da glória divina entre eles. E quando dizemos – Que o teu reino chegue não significa que Deus agora não reine, mas como o explica Agostinho, assim despertamos em nós o desejo de que esse reino chegue e nós mereçamos reinar nele. E enfim quando dizemos – Faça–se a tua vontade – isso na verdade significa – Sejam obedecidos os teus preceitos assim no céu como na terra, isto é assim pelos anjos como pelos homens. Por onde, essas três petições se realizarão na vida futura; e as outras quatro respeitam às necessidades da vida presente, como ensina Agostinho.

RESPOSTA A SEGUNDA. – Sendo a oração intérprete dos nossos desejos, a ordem das petições não corresponde à dá execução, mas à dos desejos ou da intenção, na qual vem o fim antes dos meios e a busca do bem, antes aa remoção do mal.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Agostinho faz corresponder as sete petições aos dons e às beatitudes, dizendo o seguinte: Se o temor de Deus torna felizes os pobres de espírito, peçamos que, com um casto temor, o nome de Deus seja santificado entre os homens. Se a piedade torna felizes os humildes, peçamos que o seu reino cheque, para que nos humilhemos, nem lhe resistamos. Se a ciência torna felizes os que choram, oremos para que lhe seja feita a vontade, porque assim, não choraremos. Se a fortaleza torna felizes os que tem fome, peçamos que nos seja dado o pão nosso de cada dia. Se o conselho torna felizes os misericordiosos, perdoemos aos nossos devedores, para que nos sejam perdoadas as nossas dívidas. Se a inteligência torna felizes os limpos de coração, peçamos para não ter duplicidade de coração, buscando os bens temporais, causas de nossas tentações. Se a sabedoria torna felizes os pacíficos, que por isso serão chamados filhos de Deus, oremos para nos livrarmos do mal, pois essa libertação torna, por si mesmas, os livres filhos de Deus.

RESPOSTA À QUARTA. – Como diz Agostinho, Lucas compreendeu, na Oração Dominical, não sete, mas, cinco petições. Pois, mostrando que a terceira é de certo modo a repetição das duas anteriores, ele a torna mais compreensível omitindo–a. Porque a vontade de Deus quer principalmente que lhe conheçamos a santidade e reinemos com ele. E à petição que Mateus colocou em último lugar – Livra–nos do mal ­ Lucas não se lhe refere para que cada um saiba que se livra do mal, não sendo induzido em tentação.

RESPOSTA À QUINTA. – Não oramos a Deus para o dobrarmos ás nossas vontades, mas para despertar em nós a confiança no pedido. O quer sobretudo, o realiza a consideração da caridade com que nos quer o nosso bem, e por isso dizemos, Padre Nosso. E a consideração da sua excelência, pela qual pode nos dar o bem que nos quer; donde o dizermos – Que estás no céu.

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