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Art. 10 ─ Se a auréola é devida também ao corpo.

O décimo discute-se assim. ─ Parece que a auréola é devida também ao corpo.

1. - Pois, o prêmio essencial é mais nobre que o acidental. Ora, o dote, que faz parte do prêmio essencial, não só o tem a alma, mas também o corpo. Logo, também ao mérito adquirido com a cooperação do corpo é devido um prêmio, tanto para a alma como para o corpo. Ora, o mérito da auréola foi ganho com a cooperação do corpo. Logo, ao corpo também é devida a auréola.

2. Demais. ─ Ao pecado praticado com a cooperação do corpo corresponde uma pena tanto da alma, como do corpo. Logo, também ao mérito alcançado com a cooperação do corpo é devido um prêmio tanto à alma como ao corpo. Ora, o mérito da auréola é alcançado com a cooperação do corpo. Portanto, é ela devida também ao corpo.

3. Demais. ─ Nos corpos dos mártires, as suas cicatrizes brilharão na plenitude de um brilho especial. Por isso diz Agostinho: Não sei que amor nos invade o coração pelos santos mártires, que queiramos, no reino celeste, ver-lhes nos corpos as cicatrizes dos ferimentos que sofreram pelo nome de Cristo. E talvez as vejamos. Pois, não constituirão neles uma deformidade, mas uma dignidade; e lhes há de refulgir a beleza da virtude que, embora no corpo, não será do corpo. Logo, parece que a auréola dos mártires será também do corpo; e isso se diga também dos outros santos.
 
Mas, em contrário. ─ As almas atualmente no paraíso têem uma auréola e contudo não tem corpo. Logo, o sujeito próprio da auréola não é o corpo, mas a alma.

2. Demais. ─ Todo mérito vem da alma. Logo, todo o prêmio deve também ser da alma.

SOLUÇÃO. ─ A auréola, propriamente, será da alma; pois, é a alegria pelas obras que a mereceram. Ora, assim como do gáudio pelo prêmio essencial, que é a coroa de ouro, redunda uma certa beleza para o corpo, que lhe constitui a glória, assim do gáudio pela auréola resulta uma certa beleza para o corpo. De modo que, principalmente, a auréola estará na alma, mas por uma certa redundância refulgirá também na carne.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Devemos contudo saber que a refulgência das cicatrizes, que ornamentará os corpos dos mártires, não pode chamar-se auréola. Pois, certos mártires terão auréola, que não terão essas cicatrizes; assim os que morreram submersos ou pereceram consumidos pela fome ou na escuridão dos cárceres.

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