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Art. 8 ─ Se os sufrágios de algum modo aproveitam aos santos que estão na pátria.

O oitavo discute-se assim. ─ Parece que os sufrágios de algum modo aproveitam aos santos que estão na pátria.

1. ─ Pois, reza a coleta de uma missa: Assim como os sacramentos aproveitam aos teus santos na glória, assim também servem de nos curar. Ora, entre os outros sufrágios o principal é o sacramento do Altar. Logo, os sufrágios aproveitam aos santos que estão na pátria.

2. Demais. ─ Os sacramentos realizam o que figuram. Ora, a terceira parte da hóstia, a colocada no cálice, significa os que vivem na pátria a vida bem-aventurada. Logo, os sufrágios da Igreja aproveitam aos que estão na pátria.

3. Demais. ─ Os santos na pátria se comprazem não só nos próprios bens, mas também nos alheios. Donde o dizer o Evangelho: Haverá júbilo entre os anjos de Deus por um pecador que faz penitência. Logo, as boas obras dos vivos farão aumentar a felicidade dos santos do céu; e assim, também os nossos sufrágios lhes aproveitarão.

4. Demais. ─ Damasceno escreve, citando palavras de Crisóstomo: Se, pois os pagãos ─ diz ─ queimam com os mortos os objetos que lhe pertenceram, quanto mais não deves tu, fiel, deixar partir os fiéis com as cousas que lhes pertenceram. Não reduzindo-as a cinzas, como fazem os pagãos, mas para que lhes aumentes a glória. E se pecador foi o que morreu, para o livrares dos seus pecados; se, ao contrário, justo, para lhes aumentares a recompensa e a retribuição. Donde a mesma conclusão que antes.
 
Mas, em contrário, as palavras de Agostinho citadas pelo Mestre: É injuriar a Igreja orar por um mártir; do contrário, devemos nós nos recomendar às suas orações.

2. Demais. ─ Deve ser socorrido quem tem necessidade. Ora, os santos na pátria não sofrem nenhuma necessidade. Logo, não precisam ser socorridos pelas preces da Igreja.

SOLUÇÃO. ─ Os sufrágios, por natureza, requerem um socorro, Ora, deste não precisa quem não sofre nenhuma necessidade; pois, só precisa de socorro quem padece indigência. Por onde, como os santos na pátria estão livres de qualquer necessidade, embriagados na abundância da casa do Senhor, na frase da Escritura, nenhum socorro lhes pode advir dos sufrágios.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Essas expressões não devem entender-se como significando que os santos na glória tirem algum proveito de lhes celebrarmos nós a festa. Antes, a nós é que nos aproveita celebrarmos com solenidade a glória deles. Do mesmo modo que, conhecendo ou louvando a Deus, de certo modo aumentamos-lhe a glória, em nós, e isso nos aproveita a nós e não a ele.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora os sacramentos realizem o que figuram, contudo não produzem esse efeito em relação a tudo o que figuram. Aliás, figurando a Cristo, como figuram, produziriam algum efeito em Cristo ─ o que é absurdo. Produzem porém o seu efeito em quem os recebe, em virtude do que significam. Donde pois não se segue que os sacrifícios oferecidos pelos fiéis defuntos aproveitem aos santos; mas que, pelos méritos deles, celebrados ou significados no sacramento, aproveitam aqueles por quem são oferecidos.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Embora os santos no céu se regozijem com os nossos bens, daí porém não resulta que a multiplicação das nossas felicidades aumente também formalmente a deles: senão só materialmente. Porque toda paixão aumenta formalmente conforme a natureza do seu objeto. Ora, a razão de todos os regozijos que possam ter os santos é Deus, de quem não podem gozar mais ou menos, porque então lhes variaria o prêmio essencial, consistente em terem de Deus a sua felicidade. Por onde, a multiplicação dos bens, cujo gozo tem em Deus a sua razão de ser, não leva à consequência que os santos gozem mais intensamente, senão só que gozam de um maior número de bens. Donde, pois, não se segue que possam ser socorridos pelas nossas obras.

RESPOSTA À QUARTA. ─ Dessas palavras não devemos concluir que os sufrágios dos fiéis aumentem a recompensa ou a retribuição dos santos, em honra dos quais são celebrados, mas que aproveitam a quem os faz. ─ Ou devemos pensar que os sufrágios podem aumentar a recompensa do fiel defunto, quando este ainda em vida ordenou os que lhe devessem ser feitos; o que lhe foi meritório.

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