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Art. 4 ─ Se ter relações com a concubina é pecado mortal.

O quarto discute-se assim. ─ Parece que ter relações com a concubina não é pecado mortal.

1. Pois, mais grave pecado é a mentira que a fornicação simples. Isso se conclui do fato de Judas ter recusado mentir, que não lhe repugnou conter fornicação com Tamar, dizendo: Ao menos não poderá arguir-nos de mentira. Ora, a mentira nem sempre é pecado mortal. Logo, nem a fornicação simples.

2. Demais. ─ O pecado mortal deve ser punido de morte. Ora, a Lei Velha só em certos casos punia de morte o concúbito com a concubina. Logo, não é pecado mortal.

3. Demais. ─ Segundo Gregório, os pecados carnais são de menor culpa que os espirituais. Ora, nem sempre a soberba ou a avareza, que são pecados espirituais, são pecados mortais. Logo, nem toda fornicação, que é um pecado carnal, é pecado mortal.

4. Demais. Onde há maior incitamento há menor pecado, pois mais peca quem é atacado por menor tentação. Ora, a concupiscência é uma violenta instigação ao ato sexual. Logo, assim como o ato da gula nem sempre é pecado mortal, nem pecado mortal será a fornicação simples.

Mas, em contrário. ─ Só pelo pecado mortal ficamos excluídos do reino de Deus. Ora, os fornicários são excluídos dele, como diz o Apóstolo. Logo, a fornicação simples é pecado mortal.

2. Demais. ─ Só aos pecados mortais se chamam crimes. Ora, toda fornicação é crime, conforme àquilo da Escritura: Preserva-te de toda impureza e fora de tua mulher nunca consintas em conhecer o crime. Logo, etc.

SOLUÇÃO. ─ Como ficou dito aqueles atos são genericamente pecados mortais que rompem o pacto de aliança entre o homem e Deus e entre um homem e outro. Pois, colidem com os dois preceitos da caridade, que é a vida da alma. Portanto, como o concúbito fornicário destrói a ordenação natural do pai para os filhos, que é o fim intencionado pela natureza, nenhuma duvida há que seja pecado a fornicação simples, por natureza, mesmo se não fosse proibida por lei escrita.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ É frequente não evitarmos um pecado mortal e, contudo, evitarmos um pecado venial, para o qual não nos atrai a mesma grande tentação. Assim foi que Judas evitou a mentira sem que evitasse a fornicação. Embora essa mentira fosse perniciosa, implicando uma injustiça, se não cumprisse o prometido.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Não se chama o pecado mortal por ser punido de morte temporal, mas pelo ser de morte eterna. Por isso também o furto, que é um pecado mortal, e muitos outros, às vezes não são punidos pelas leis, de morte temporal. Ora, o mesmo se dá com a fornicação.

RESPOSTA À TERCEIRA ─ Assim como não qualquer movimento de soberba é pecado mortal, assim também não o é todo movimento de luxúria: Porque os primeiros movimentos de luxúria, como outros semelhantes, são pecado veniais, e mesmo às vezes o concúbito matrimonial. Entretanto, certos atos de luxúria são pecados mortais, ao passo que são veniais certos movimentos de soberba. Pois, das palavras de Gregório não se deve concluir uma comparação dos vícios genericamente considerados, senão só singularmente.

RESPOSTA À QUARTA. ─  Aquela circunstância é mais agravante que mais atinente é à espécie de pecado. Por onde, embora a fornicação pela intensidade da excitação que a ela nos impele, perca da sua gravidade, recebe contudo maior gravidade da sua matéria, que o ato desordenado da gula; pois, da fornicação, a matéria é desenvolver os laços da sociedade humana, como se disse. Por isso a objeção não colhe.

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