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Art. 3 — Se a matéria deste sacramento deve ser pão de trigo.

O terceiro discute-se assim. Parece não ser necessário que a matéria deste sacramento seja pão de trigo.
 
1. — Pois, este sacramento é comemorativo da paixão do Senhor. Ora, parece mais conveniente à paixão do Senhor o pão de cevada, que é mais áspero, e do qual o Senhor deu de comer à multidão no Monte, como o refere o Evangelho, que o pão de trigo. Logo, o pão de trigo não é a matéria própria deste sacramento.
 
2. Demais. — A figura é o sinal da espécie, nos seres naturais. Ora, há certos grãos semelhantes em figura ao grão de trigo, como o cen­teio e a aspelta, de que também em certos luga­res se confecciona o pão, para o uso deste sacra­mento. Logo, o pão de trigo não é a matéria pró­pria dele.
 
3. Demais. — A mistura destrói a espécie. Ora, apenas se encontra farinha de trigo sem mistura de outros grãos, se se fizer uma escolha es­pecial de grãos. Logo, parece que o pão de trigo não é a matéria própria deste sacramento.
 
4. Demais. — O que se corrompeu muda de espécie. Ora, há quem consagre com pão de tri­go estragado e que, portanto já não é pão de tri­go. Logo, parece que tal pão não é matéria pró­pria deste sacramento.
 
Mas, em contrário, neste sacramento está contido Cristo que se comparou ao grão de tri­go, quando disse: se o grão de trigo, que cai na terra, não morrer, fica êle só. Logo, o pão de tri­go, ou tritica, é a matéria deste sacramento.
 
SOLUÇÃO. — Como dissemos, para o uso deste sacramento escolhe-se matéria de uso mais co­mum entre os homens. Ora, mais comumente usam os homens de pão de trigo; pois, os outros pães só foram introduzidos por falta deste. E por isso cremos que Cristo instituiu a Eucaristia sob a espécie de tal pão. Além disso, este pão é o mais nutritivo e, assim, mais convenientemente signi­fica o efeito deste sacramento. Logo, a matéria própria dele é o pão de trigo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O pão de cevada é próprio a significar a dureza da Lei Velha. Quer por causa da sua dureza, quer também porque, como diz Agostinho, o grão da cevada, coberto de uma palha sigidíssima, ou sig­nifica a própria lei, dada para que nela o alimen­to vital da alma ficasse oculto nos sacramentos corporíeos: ou o próprio povo ainda não purgado dos desejos carnais, que como palha lhes aderia ao coração. Mas, o sacramento eucarístico pertence ao suave jugo de Cristo e à verdade já manifestada e ao povo espiritual. Por isso, não se­ria a matéria conveniente dele o pão de cevada.
 
RESPOSTA A SEGUNDA. — O gerador gera um ser semelhante em espécie; mas há uma certa dissemelhança entre o gerador e o gerado, quan­to aos acidentes, quer por causa da matéria, quer pela debilidade da virtude gera triz. Se, pois, há grãos que possam ser gerados do grão do tri­go — assim como do grão semeado em terra má nasce o trigo candeal — desses pode ser confec­cionada a matéria deste sacramento. O que po­rem não se dá nem com a cevada, nem com a espelta, nem com o centeio, a grão de todos mais semelhante ao do trigo. Quanto à semelhança de figura em tais casos, significa antes a proximi­dade que a identidade específica; assim como a semelhança de figura põe de manifesto a propin­quidade, mas não a identidade de espécie, entre o lobo e o cão. Por onde, de tais grãos, que de nenhum modo podem ser gerados da semente do trigo, não pode confeccionar-se um pão que seja a matéria conveniente a este sacramento.
 
RESPOSTA A TERCEIRA. — Uma pequena mistura não destrói a espécie, porque o pouco é de certo modo absolvido pelo muito. Por onde, sendo pe­quena mistura da farinha de outro grão com uma quantidade muito maior de trigo, pode-se com isso fazer um pão que seja matéria conveniente a este sacramento. Se porem a mistura for gran­de, por exemplo, em partes iguais ou quase, tal mistu­ra muda a espécie. Por onde, o pão assim feito não será matéria conveniente à Eucaristia.
 
RESPOSTA A QUARTA. - A corrupção do pão pode ser tal que lhe destrua a espécie; por exemplo, quando se lhe muda a consistência, o sabor, a cor e acidentes semelhantes. Por isso, dessa ma­téria não pode produzir-se o corpo de Cristo. ­Mas outras vezes a corrupção não é tamanha que destrua a espécie, havendo apenas uma disposi­ção para a corrupção, como o denunciará uma certa mudança de sabor. E esse pão pode trans­formar-se no corpo de Cristo; mas peca quem o fez, por irreverência para com o sacramento. ­Quanto ao amido, sendo trigo corrupto, não se pode confeccionar com ele pão que possa transformar-se no corpo de Cristo; embora certos di­gam o contrário.

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