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Art. 1 — Se todos estão obrigados a receber o batismo.

O primeiro discute-se assim. — Parece que nem todos estão obrigados a receber o batismo.
 
1. — Pois, Cristo não veio dificultar aos homens a salvação. Ora, antes do advento de Cristo os homens podiam salvar-se sem o batismo. Logo, também depois do advento de Cristo.
 
2. Demais. — O batismo foi instituído sobretudo, como remédio ao pecado original. Ora, o batizado, não tendo pecado original, não pode transmiti-lo aos filhos. Logo, os filhos dos ba­tizados parece que não devem ser batizados.
 
3. Demais. — O batismo é conferido para que, pela graça, sejamos purificados do pecado. Ora, isso o conseguem os que foram santificados no ventre materno, sem batismo. Logo, esses não estão obrigados a receber o batismo.
 
Mas em contrário, o Evangelho: Quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus. E no livro De Eccl. dogmatibus: Cremos que o caminho da salvação é aberto só aos batizados.
 
SOLUÇÃO. — Estamos obrigados ao batismo, sem o que não podemos alcançar a salvação. Ora, é manifesto que ninguém pode alcançar a salvação senão por Cristo. Donde o dizer o Apóstolo: Assim como pela desobediência de um só homem foram muitos feitos pecadores, assim também pela obediência de um só, muitos se tornaram justos. Ora, o batismo é conferido para que, regenerados por ele, nos incorporemos com Cristo, tornando-nos membros dele. Por isso diz o Apóstolo: Todos os que fostes batiza­dos em Cristo revestiste-vos de Cristo. Por onde é manifesto que todos estão obrigados ao batis­mo e sem ele não nos podemos salvar.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Nunca os homens puderam salvar-se, mesmo antes da vinda de Cristo, sem se tornarem seus membros. Porque, como diz a Escritura, nenhum outro nome foi dado aos homens pela qual nós devamos ser salvos. Ora, antes da vinda de Cristo, os homens se incorporavam com Cristo pela fé no seu futuro advento; e dessa fé a circuncisão era o sinal, como diz o Apóstolo. Mas antes de ser instituída a circuncisão, só pela fé, no dizer de Gregório, com a oferenda de sacri­fícios, pelos quais os antigos Patriarcas mani­festavam a sua fé, os homens eram incorporados com Cristo. E também depois do advento de Cristo, os homens se incorporavam com ele pela fé, segundo aquilo do Apóstolo: Para que Cristo habite pela fé em vossos corações. Mas, a fé numa realidade presente se manifesta por um sinal diferente do com que se manifestava quan­do era futura, assim como por palavras diferen­tes significamos o presente, o pretérito e o fu­turo. Por onde, embora o sacramento mesmo do batismo nem sempre fosse necessário à salva­ção, contudo a fé, da qual o batismo é o sacra­mento, sempre foi necessária.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como se disse na se­gunda Parte, os batizados são renovados pelo batismo, em espírito; o corpo porem permanece sujeito à vetustez do pecado conforme àquilo do Apóstolo: O corpo verdadeiramente está morto pelo pecado, mas o espírito vive pela justifica­ção. E por isso, como Agostinho o prova, não é batizado tudo quanto há no homem. Ora, é ma­nifesto, que o homem não gera carnalmente, se­gundo o espírito, mas segundo a carne. Por onde, os filhos dos batizados nascem com o pe­cado original, e portanto, precisam ser batizados.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os santificados no ventre materno alcançam por certo a graça que purifica do pecado original; nem por isso, con­tudo, recebem o caráter pelo qual se configu­ram com Cristo. Por onde, quem agora fosse santificado no ventre materno teria necessidade de ser batizado a fim de, tendo recebido o ca­ráter, conformar-se com os outros membros de Cristo.

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