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Art. 1 — Se o batismo é uma ablução.

O primeiro discute-se assim. — Parece que o batismo não é uma ablução.
 
1. Pois, a ablução material passa, ao passo que o batismo permanece. Logo, o ba­tismo não é a ablução mesma, mas antes, a rege­neração e o selo, a custódia e a iluminação, como diz Damasceno.
 
2. Demais. —— Hugo de S. Vitor diz que o batismo é a água santificada pelo Verbo de Deus para lavar os pecados. Ora, a água não é a ablução mesma; mas a ablução é um dos usos da água.
 
3. Demais. — Agostinho diz: Acrescenta-se as palavras ao elemento e nasce o sacramento. Ora, o elemento é a própria água. Logo, o batismo é a água mesma e não a ablução.
 
Mas, em contrário, a Escritura: Se alguém se lava depois de ter tocado um morto e o toca outra vez, de que lhe serve o ter-se lavado? Logo, parece que o batismo é ablução mesma ou o ato de lavar.
 
SOLUÇÃO. — Três coisas devemos considerar no sacramento do batismo: uma é o sacramento só em si mesmo; outra, a realidade e o sacra­mento; a terceira, só a realidade. O sacra­mento tem uma existência externamente visível a qual é o sinal do efeito interior; e isso consti­tui a essência do sacramento. Ora, o elemento exterior percebido pelos sentidos é a água e o seu uso, a ablução. Certos porem pensaram que a água mesma fosse o sacramento; e é o que parece soarem as palavras de Hugo de S. Vitor. Pois, na sua definição geral dos sacramentos, diz que é um elemento material; e, na definição do batismo, diz que é a água. Mas esta doutri­na não é verdadeira. Porque os sacramentos da lei nova, obrando de certo modo a santificação, onde se perfaz o sacramento também se perfaz a santificação. Ora, a água não é causa da san­tificação, senão como causa instrumental, não permanente, mas que de flui para o homem, que é o sujeito da verdadeira santificação. Por onde, o sacramento não se perfaz na água, em si mesma, mas na sua aplicação ao homem, que é a ablução. Donde o dizer o Mestre das Sentenças que o batismo é a ablução exterior do corpo, feita sob a forma das palavras prescritas. — Quanto à realidade e ao sacramento, é o caráter batismal, que é a realidade significa da pela ablução exterior; e é o sinal sacramental da justificação interior. E esta é em si a rea­lidade deste sacramento, isto é, significa da e não significante.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O caráter, que é ao mesmo tempo realidade e sacramento; e a justificação interior, que é a realidade somente, permanecem. Mas o caráter permanece de modo indelével, como dissemos; ao passo que a justificação também permanece, mas pode ser perdida. Por isso Damasceno de­finiu o batismo, não pelo que exteriormente se manifesta que é o sacramento, por si mesmo; mas, pelo que é interior. Dai o ter atribuído ao caráter duas denominações — a de selo, e de custódia; porque o caráter, considerado selo, guarda, como tal, a alma no bem. E ainda, atribuiu duas denominações à realidade última do sacramento: a de regeneração, pelo fato de o batismo fazer-nos começar a vida nova da justiça; e a de iluminação, concernente em es­pecial à fé, pela qual recebemos a vida espiri­tual segundo aquilo da Escritura: O justo vive­rá na sua fé. Ora, o batismo é de certo modo uma proclamação da fé; por isso se chama o sacramento da fé. — E semelhantemente, Dio­nísio definiu o batismo relativamente aos outros sacramentos, dizendo: É de algum modo o prin­cípio dessas instituições sagradas da vida cris­tã, e dá à nossa alma disposições que a tornam capaz de os receber. E ainda, relativamente à glória celeste, que é o fim último dos sacramen­tos, quando acrescenta: O batismo abre o caminho que nos conduz ao repouso do céu. E enfim, quanto ao princípio da vida espiritual, quando acrescenta: É a transmissão da nossa sagrada e diviníssima regeneração.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como dissemos, não devemos seguir neste ponto a opinião de Hugo de S. Vitor. – Podemos, contudo aceitar que o batis­mo se denomine água, porque a água é o seu prin­cípio material. É um caso da denominação fun­dada na causa.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Acrescentada a pala­vra ao elemento, nasce o sacramento, não no pró­prio elemento, mas no homem, que o recebe pela ablução. E isso mesmo significam as palavras que se pronunciam nessa ocasião. / Eu te batizo, etc.

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