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Art. 3 — Se o sacramento da Eucaristia é o primeiro de todos os sacramentos.

O terceiro discute—se assim. — Parece que o sacramento da Eucaristia não é o primeiro entre os sacramentos.
 
1. Pois, o bem comum tem prioridade sobre o bem particular, como diz Aristóteles. Ora, o matrimônio se ordena ao bem comum da espécie humana, por via da geração; ao passo que o sacramento da Eucaristia, ao bem próprio de quem o recebe. Logo, não é o primeiro dos sacramentos.
 
2. Demais. — Parece que mais dignos são os sacramentos conferidos por ministros de maior dignidade. Ora, o sacramento da confirmação e o da ordem são conferidos só pelo bispo, ministro de maior dignidade que o sacerdote, que confere o sacramento da Eucaristia. Logo, esses sacramentos são mais principais.
 
3. Demais. — Os sacramentos são tanto mais principais quanto maior virtude tem. Ora, certos sacramentos, como o batismo, a confirma­ção e a ordem, imprimem caráter — o que não faz a Eucaristia. Logo, esses sacramentos são mais importantes.
 
4. Demais. — De duas coisas é mais impor­tante aquela de que a outra depende e não ao invés. Ora, do batismo depende a Eucaristia; pois, não pode receber a Eucaristia quem não for batizado. Logo, o batismo é mais principal que a Eucaristia.
 
Mas, em contrário, diz Dionísio, que ninguém pode chegar à perfeição hierárquica senão pela diviníssima Eucaristia. Logo, este sacramento é o mais digno e perfectivo, que todos os outros.
 
SOLUÇÃO. — Absolutamente falando, o sacra­mento da Eucaristia é o principalmente entre os outros sacramentos. O que resulta de três ra­zões. — Primeiro, porque nele está contido o pró­prio Cristo substancialmente; ao passo que nos outros sacramentos está contida uma certa vir­tude instrumental participada de Cristo, como do sobredito se colhe. Ora, sempre o essencial é mais principal do que o participado. — Segundo isso mesmo resulta da ordem dos sacramentos entre si; pois, todos os outros sacramentos se ordenam para este como para o fim. Pois, é manifesto que o sacramento da ordem tem como fim a consagração da Eucaristia. Quanto ao do batismo, ele se ordena à recepção da Eucaristia. Para o que também nos aperfeiçoa a confirma­ção, fazendo—nos não temer de nos achegar a esse sacramento. Também a penitência e a extrema unção nos preparam a receber dignamente o corpo de Cristo. O matrimônio, enfim, ao menos pela sua significação, concerne a esse sa­cramento, enquanto significa a união de Cristo e da Igreja, cuja unidade é figurada pelo sacra­mento da Eucaristia. Por isso, diz o Apóstolo: este sacramento é grande, mas eu digo em Cristo e na Igreja. — Terceiro, o mesmo resulta do rito dos sacramentos. Pois, quase todos os sacra­mentos, vem a se resumir na Eucaristia, como diz Dionísio; e isso o demonstra o fato de os ordenados comungarem e também os batizados, se forem adultos.
 
Quanto à relação mútua entre os outros sacramentos ela pode ser múltipla. Assim, quan­to à necessidade, o batismo é o primeiro de todos os sacramentos; quanto à perfeição, o da ordem; em posição intermediária está o sacramento da confirmação. Quanto aos sacramentos da peni­tência e da extrema unção, estão num grau in­ferior aos outros sacramentos referidos; pois, como dissemos, ordenam—se à vida cristã não por si mesmos, mas quase por acidente, isto é, como remédio à uma falta sobreveniente. Entre os quais porém a extrema unção está para a penitência, como a confirmação para o batismo; de modo que a penitência é de mais necessidade, mas a extrema unção é de maior perfeição.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­— O matrimônio se ordena ao bem comum corpo­ral. Mas o bem espiritual de toda a Igreja está substancialmente contido no próprio sacramento da Eucaristia.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Pela ordem e pela confirmação os fiéis de Cristo são destinados a certos ofícios; e assim destiná—las é função do chefe. Por isso, comunicar esses sacramentos pertence só ao bispo, que é quase príncipe da Igreja. Ao passo que pelo sacramento da Euca­ristia não somos destinados a nenhum ofício; ao contrário, esse sacramento é a finalidade de todos os ofícios, como se disse.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O caráter sacra­mental, como dissemos, é de certo modo parti­cipação do sacerdócio de Cristo. Por onde, o sa­cramento que une a Cristo mesmo, com o homem é mais digno que o sacramento que im­prime o caráter de Cristo.
 
RESPOSTA À QUARTA. — A objeção colhe quan­to à necessidade. Pois, o batismo, sendo o de mais necessidade, é o principalissimo dos sacra­mentos. Assim como a ordem e a confirmação tem uma certa excelência, em razão do minis­tério; e o matrimônio, em razão da significação. Pois, nada impede ser uma causa, de certo modo, mais digna, sem o ser absolutamente falando.

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