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Art. 4 — Se um sacramento é sempre uma realidade sensível.

O quarto discute-se assim. — Parece que um sacramento nem sempre é uma realidade sensível.
 
1. Porque, segundo o Filósofo, todo efeito é sinal da sua causa. Ora, como há certos efeitos sensíveis, há também certos inteligíveis; assim a ciência, efeito da demonstração. Logo, nem todo sinal é sensível. Ora, para um sacra­mento existir basta seja o sinal de uma coisa sagrada pela qual o homem se santifique, con­forme se disse. Logo, não é necessário seja um sacramento nenhuma realidade sensível.
 
2. Demais. — Os sacramentos dizem respei­to ao culto ou ao reino de Deus. Ora, as coisas sensíveis não respeitam ao culto de Deus, segundo aquilo do Evangelho: Deus é espírito e em espírito e verdade é que o devem adorar os que o adoram. E o Apóstolo: O reino de Deus não é comida nem bebida. Logo, não é necessário seja o sacramento uma realidade sensível.
 
3. Demais. — Agostinho diz, que as coisas sensíveis são os mínimos bens, sem os quais o homem pode viver rectamente. Ora, os sacra­mentos são necessários à salvação do homem como a seguir se dirá, e portanto não pode o homem viver bem sem eles. Logo, não é preciso que os sacramentos sejam realidades sensíveis.
 
Mas, em contrário, Agostinho diz: Acrescenta-se a palavra ao elemento e nasce o sacra­mento. E refere-se nesse lugar à água, elemen­to sensível. Logo, os sacramentos supõem coisas sensíveis.
 
SOLUÇÃO. — A sabedoria divina provê a cada coisa conforme à natureza desta; por isso diz a Escritura, que dispõe tudo com suavidade. Donde a expressão do Evangelho: Deu a cada um segundo a sua capacidade. Ora, é conatural ao homem chegar, por meio das coisas sensíveis ao conhecimento das inteligíveis. Ora, o sinal é o meio de chegarmos a um conhecimento ulte­rior. E assim, sendo as coisas sagradas, signi­ficadas pelos salvamentos, uns bens espirituais e inteligíveis pelos quais o homem se santifica, resulta por conseqüência, que a significação do sacramento se manifesta completamente me­diante certas coisas sensíveis. Assim também é pela semelhança das coisas sensíveis que a divina Escritura nos descreve as coisas espiri­tuais. Por isso é que os sacramentos requerem as coisas sensíveis, como também o prova Dio­nísio.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Um ser é denominado e definido principalmente pelo que lhe convém primária e essencialmente e não pelo que acidentalmente lhe convém. Ora, a essência do efeito sensível, como sendo o que o homem conhece primária e essencialmente, é levá-lo a um conhecimento ulterior, pois, todo o nosso conhecimento nasce dos sentidos. Ora, nos efeitos inteligíveis não está o poderem conduzir a um conhecimento ulterior senão en­quanto manifestados por outros meios, que são as realidades sensíveis. Donde vem que primá­ria e principalmente se chamam sinais os que nos afetam os sentidos; por isso diz Agostinho que sinal é aquilo que sugere ao nosso pensa­mento uma realidade diferente da apreendida pelos sentidos. Ora, os efeitos inteligíveis não têm a natureza de sinal, senão enquanto ma­nifestados por certos sinais. E também deste modo certas coisas que não são sensíveis se chamam de algum modo sacramentos, enquanto significados por meio de realidades sensíveis, do que mais adiante se tratará.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — As coisas sensíveis, consideradas em sua natureza, não concernem ao culto ou ao reino de Deus; mas só enquanto sinais das coisas espirituais, nas quais consiste o reino de Deus.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Agostinho se refere às coisas sensíveis consideradas em a natureza delas; não porém quando assumidas a significar as coisas espirituais, que são os máximos bens.

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