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Art. 4 ― Se o ato exterior aumenta a bondade ou a malícia do ato interior.

(II Sent., dist. XL, a . 3; De Malo, q. 2, a . 2, ad 8).
 
O quarto discute-se assim. ― Parece que o ato exterior não aumenta a bondade ou a malícia do ato interior.
 
1. ― Pois, diz Crisóstomo: É a vontade a recompensada pelo bem e condenada pelo mal1. Ora, as obras são os testemunhos da vontade. Logo, Deus não as quer em si mesmas, para saber como julgar, mas por causa dos outros, afim de que todos entendam que ele é justo. Ora, como devemos apreciar o bem e o mal, antes pelo juízo de Deus, que pelo dos homens, o ato exterior não aumenta a bondade nem a malícia do ato interior.
 
2. Demais. ― A bondade do ato interior e do exterior é a mesma, com já se disse2. Ora, o aumento se dá pela adição de uma coisa a outra. Logo, o ato exterior não aumenta a bondade nem a malícia do ato interior.
 
3. Demais. ― Toda a bondade da criatura nada acrescenta à bondade divina, porque deriva desta totalmente. Ora, a bondade do ato exterior deriva toda, às vezes, da do ato interior; e às vezes, inversamente, como se disse3. Logo, um não aumenta a bondade ou a malícia do outro.
 
Mas, em contrário. ― Todo agente visa conseguir o bem e evitar o mal. Se pois o ato exterior não aumenta a bondade nem a malícia, quem tem a vontade boa ou má pratica o bem e se afasta do mal, em vão, o que é inadmissível.
 
Solução. ― Se nos referimos à bondade que ao ato exterior lhe advém da vontade do fim, ele nada acrescenta a essa bondade, salvo se a vontade em si mesma puder tornar-se melhor, no bem, e pior, no mal. Ora, isto pode se dar de três modos. ― Primeiro, numericamente, se queremos fazer alguma coisa com fim bom ou mau, mas não fazemos; quando, depois queremos e fazemos, duplica-se o ato da vontade, e então há no caso dois bens ou dois males. Segundo. ― extensivamente; assim quando uma pessoa quer fazer um bem ou um mal, mas por algum impedimento desiste, ao passo que outra continua o movimento da vontade até realizar a obra, é claro que a vontade desta última tem maior duração no bem ou no mal, tornando-se por isso pior ou melhor. ― Terceiro, intensivamente, pois há certos atos exteriores deleitáveis ou penosos, que são de natureza a intensificar ou afrouxar a vontade. Ora, é inegável que tanto melhor ou pior é a vontade quanto mais intensamente tende para o bem ou para o mau.
 
Se porém nós nos referimos à bondade do ato exterior que lhe advém da matéria e das circunstâncias devidas, então ele está para a vontade como termo e fim. E deste modo, aumenta a bondade ou a malícia da vontade, porque toda inclinação ou movimento se completa conseguindo o fim ou atingindo o termo. Por onde, não há vontade perfeita senão a que age oportunamente. Se porém não houver possibilidade de a vontade perfeita operar quando pode, o defeito da consumação do ato exterior é absolutamente involuntário. Ora, o involuntário não merecendo pena nem premio, na realização de um bem ou de um mal, nada tira do premio ou da pena, quando o homem, por absoluta involuntariedade, deixou de fazer o bem ou o mal.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― Crisóstomo se refere à vontade do homem perfeita, que cessa de agir somente pela impossibilidade de o fazer.
 
Resposta à segunda. ― A objeção colhe quanto à bondade que o ato exterior tira da vontade do fim. Ora, diferente desta bondade é a que o ato exterior haure na matéria e nas circunstâncias, que não é diferente porém daquela que à vontade lhe deriva do ato querido mesmo, com a qual se compara como razão e causa dela, conforme já se disse4.
 
Donde se deduz clara a Resposta à terceira objeção.

  1. 1. Super Math., hom. XIX.
  2. 2. Q. 20, a. 3.
  3. 3. Q. 20, a. 1, 2.
  4. 4. Q. 20, a. 1, 2.
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