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3. O pecado original é um veneno

Capítulo terceiro

O pecado e o estado de pecado; o pecado original é um veneno.

 

Tudo o que dissemos antes sobre o pecado original não é mais do que uma espécie de introdução à exposição da doutrina católica sobre essa grave questão. Contudo, antes de seguir, resta-nos fazer uma observação de importância capital.

Uma coisa é o pecado, outra é o estado de pecado.

O pecado, tomando a palavra em seu sentido estrito, é o ato em si pelo qual se dá a desobediência a Deus; é o homem que se separa da vontade de Deus para seguir a inspiração enganadora de sua vontade própria.

O estado de pecado é a conseqüência do ato: é o que fica na alma depois da desobediência, a saber, a perda da graça, a sujeira, a inimizade de Deus, e tudo que disso pode resultar.

O ato do pecado dura o tempo de cometer a falta: o estado de pecado dura até a remissão da falta. Adão comeu o fruto proibido, este foi o ato do pecado: quando o ato foi realizado e o pecado consumado, Adão entrou em estado de pecado.

Pelos méritos do Salvador que lhe foi prometido, e em quem ele acreditou, Adão recebeu o arrependimento e o perdão por sua enorme falta: mas se ele foi reerguido, ele o foi pessoalmente: decaída com ele, a natureza não foi reerguida senão em Nosso Senhor Jesus Cristo.

O antigo Adão nos transmitiu sua natureza, mas sua natureza caída: pois ele nos gerou, não em virtude da graça que o reergueu, mas em virtude de sua natureza que se viciara. Todos os que nascem dele, nascem da carne e do sangue, e todos necessitam renascer para que a regeneração em Jesus Cristo os purifique da sujeira inerente à geração de Adão.

Nós dissemos que os antigos rabinos chamavam o pecado original de “veneno”. É um nome bastante exato. De fato, quando um veneno é inoculado em algum ponto de nosso corpo, ele tende a contaminar o corpo todo. Do mesmo modo, quando, por malícia da velha serpente, o veneno foi inoculado em nossos primeiros pais, ele não se limitou a eles, mas se espalhou por todo o corpo do qual eles eram as cabeças, isto é, à humanidade inteira.

É pelo ato mesmo da geração que o veneno é transmitido, e se transmite e se transmitirá enquanto durar a humanidade. Há aí uma dinâmica venenosa: o homem enrubesce dela e se esconde. Fosse ele pessoalmente um santo, não faria diferença: o indivíduo não conta aqui, pois é na natureza que está a concupiscência, e na concupiscência, o veneno. E o veneno é o pecado original.

São Tomás, com sua concisão peculiar, ensina essa mesma doutrina quando diz: Libido transmittit originale peccatum in prolem: é a concupiscência que transmite o pecado original à criança. O Concílio de Trento, que citaremos mais adiante, nos ensina o mesmo.

Depois destas preliminares, nós ouviremos a grande voz da Igreja nos ensinando, com a autoridade do próprio Deus, a doutrina sobre o pecado original.

 

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