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Novas negociações com a Fraternidade São Pio X

De Mgr. Lefebvre ao Cardeal Hoyos

4ª Parte

Novas Negociações com a Fraternidade São Pio X - O Vaticano vai à Caça

 

"La corruption de la sainte messe continue à corrompre le sacerdoce catholique – A corrupção da Santa Missa continua a corromper o sacerdócio católico" (Mgr. Marcel Lefebvre)

"Je ne suis qu'un évêque catholique qui ai transmis la foi, et sur mon tombeau sera gravée cette parole : J'ai transmis ce que j'avais reçu – Nada mais sou do que um bispo católico que transmitiu a fé, e no meu túmulo será gravada esta palavra: 'Transmiti o que recebi'." (Mgr. Marcel Lefebvre)

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Quando comecei este trabalho, tinha a intenção de apresentar aos leitores os acontecimentos no seio da Fraternidade São Pedro. Como sabia que a maioria das pessoas, aqui no Brasil, ignorava o que era essa Fraternidade, achei por bem descrever as circunstâncias da sua fundação, o que foi feito nas duas primeiras partes. Só na terceira parte é que tratei da intervenção do Vaticano na Fraternidade São Pedro. Considerava completo o trabalho e atingido seu objetivo.

Qual não foi minha surpresa ao ver um novo capítulo surgir como por encanto, devido à iniciativa do Papa João Paulo II de chamar a Fraternidade São Pio X para novas negociações.

Primeiros contatos

O fato deveu-se, aparentemente, ao grande sucesso que foi a peregrinação do Ano Santo, realizada pela Fraternidade São Pio X em Roma, em agosto de 2000, quando sete mil fiéis da Tradição, vindos do mundo inteiro, reuniram-se naquela cidade para rezar pelo Papa. As fotos mostrando os mais de setecentos padres, religiosos e religiosas, junto a tantos fiéis, impressionam. Da parte do Vaticano a surpresa foi grande: «Uma das peregrinações mais edificantes que vi neste Ano Santo», dirá Mons. Tavanti, responsável pela liturgia da Basílica Santa Maria Maior. Ouviram-se também, nos corredores do Vaticano, os comentários elogiosos a estes curiosos "cismáticos" que vinham rezar pelo Papa. Nunca se tinha visto nada parecido. Outro fato inusitado foi que as autoridades organizadoras do Ano Santo receberam instrução para abrir as basílicas aos peregrinos da Tradição. Foi assim que assistiu-se a muitos prelados do Vaticano, de joelhos, pedir a bênção a Dom Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade São Pio X, e aos demais bispos presentes. E dentro das basílicas estes bispos e padres puderam pregar e rezar, durante três dias, num clima de muita piedade, oração e caridade fraterna. Não houve missas dentro das basílicas, mas já foi um grande passo. Leia aqui uma descrição detalhada da Peregrinação.

Na verdade, o Cardeal Castrillón Hoyos, presidente da Comissão Ecclesia Dei, já havia demonstrado interesse em se encontrar com o superior da Fraternidade São Pio X. É Mons. Williamson, um dos quatro bispos da Fraternidade, quem nos conta o primeiro encontro.

"... Aproveitando a oportunidade da nossa passagem por Roma, ele nos convidou para almoçarmos juntos.
Três de nós aceitaram o convite. Ele foi muito cortês e hospitaleiro, deu-nos as boas-vindas e, depois de duas horas de almoço, abraçou-nos na despedida, dizendo: 'Voltem e visitem-me mais vezes'. E pensar que esse mesmo Cardeal, poucas semanas antes, havia tomado uma firme posição no sentido de podar a Tradição dentro da Fraternidade São Pedro, ao substituir quatro de seus líderes (eleitos pela própria Fraternidade) por outros, escolhidos diretamente por Roma! Ele esmaga os que convida, e convida os que esmaga. 'Durma-se com um barulho desses', dizem os americanos! "

Nesse primeiro encontro, o Cardeal Hoyos já havia recebido a missão do Papa de tentar negociar com a Fraternidade São Pio X um acordo. É significativo o fato de esse cardeal não ter recebido essa missão como Presidente da Ecclesia Dei, mas sim como Prefeito da Congregação do Clero. Os bispos da Fraternidade São Pio X são recebidos como membros do clero.

Depois desse encontro, correu a notícia do início das negociações. Houve, entre os fiéis e os padres ligados à Fraternidade São Pio X, como é natural numa situação como essa, sentimentos diversos: enquanto alguns viam com otimismo as negociações, outros confessavam seus temores. Mas todos concordaram que tanto o Papa quanto os Cardeais continuavam a ensinar uma doutrina e uma vida contrárias à Tradição Católica, como viria a ser confirmado em viagens posteriores do Papa, por exemplo, nas viagens à Grécia e à Síria. Por outro lado, o próprio Papa pedira essas negociações, e a inclinação do coração católico é a de atender a um chamado do Papa. Mgr. Williamson continua seu comentário: 

Haveria falta de sinceridade? Humanamente julgando, não creio. Acho apenas que ele pertence à nova religião. 'Nós temos a mesma Santíssima Trindade, a mesma Encarnação, a mesma Eucaristia', disse ele, e certamente acredita na Presença Real, porque ele mesmo declarou que, quando os 'especialistas' começam uma disputa a esse respeito, ele rapidamente fecha a questão. 'Eu sou nice [educado], e vocês também são nice people [pessoas educadas]' — é o que ele parecia querer dizer-nos — 'então, onde é que está o problema? Por que não nos unimos numa espécie de religião do tipo e todos foram felizes para sempre?' No que diz respeito à Fraternidade São Pedro, ele admitiu que, por ora, agira contra a sua vontade, mas apenas para evitar que no futuro ele fosse obrigado a agir ainda mais 'contra a sua vontade'. Em outras palavras, a Fraternidade São Pedro tinha de ser paralisada em sua tentativa de escapar do esquema 'felizes para sempre', enquanto nós deveríamos ser atraídos por uma nova política — a de serem o mais simpáticos possível conosco. O que nos impede de voltar à doce e inocente religião de 'milhões' de jovens inocentes de mãos dadas cantando pelas ruas? E, já que essa é a religião do Santo Padre (a quem o Cardeal venera e freqüentemente visita) e da 'mesma' Santa Eucaristia, então o que mais pode haver na Tradição para que esses 'tradicionalistas' continuem fazendo todo esse barulho? Eu creio que realmente o Cardeal não consegue enxergar o problema.

Por esse motivo eu, humanamente, estou certo de que o Cardeal Castrillón Hoyos não é um dos verdadeiros vilões de Roma, ou seja, dos que realmente podem ver e sabem exatamente o que estão fazendo: demolindo a Igreja Católica para substituí-la pela satânica 'Única Religião Mundial'. Na verdade, não é necessário que haja muitos vilões como tais, mas homens valorosos que ainda acreditam na Presença Real e que se deixam manipular como meros instrumentos em suas mãos. Se o Cardeal realmente é nice, um dia terá de ser nasty [grosseiro]... com aqueles que o manipulam ou conosco. Guerra é guerra."

O critério de avaliação de uma situação tão delicada, no entanto, já havia sido formulado por Mons. Marcel Lefebvre, como já ficou dito na 1ª Parte deste trabalho: "Conferir-vos-ei essa graça, confiando em que, sem tardar, a Sé de Pedro será ocupada por um Sucessor de Pedro perfeitamente católico, em cujas mãos podereis entregar a graça do vosso episcopado para que ele a confirme".

Os bispos da Fraternidade São Pio X, zelosos da herança que receberam de Mons. Lefebvre, sabiam estar lidando com autoridades que continuam destruindo a Igreja. Leiam a admirável carta de Mons. Williamson no boletim do Seminário de Winona (EUA) de fevereiro de 2001.

Como fica claro no texto do boletim, não podemos cair no erro do sentimentalismo e deixar de considerar toda essa questão do ponto de vida doutrinário. O que está em jogo é nossa fé, e, por mais que desejemos ser reconhecidos pelas autoridades do Vaticano, não podemos aproximar-nos deles se não houver sinais evidentes de retorno à Tradição bimilenar da Igreja.

As Condições Preliminares

Apesar dessas graves apreensões, os superiores da Fraternidade São Pio X prontamente se apresentaram ao enviado do Papa, o Cardeal Castrillón Hoyos, como já vimos. Mons. Fellay encontrou-se com o Cardeal no dia 29 de dezembro de 2000, em Roma, e no dia seguinte esteve alguns minutos com o próprio Papa, que o abençoou.

Após terem examinado a questão, juntamente com o representante de Dom Licínio Rangel, bispo superior dos Padres de Campos (RJ), os bispos da Fraternidade São Pio X apresentaram às autoridades romanas duas condições preliminares para o início das negociações:

– suspender as censuras canônicas impostas injustamente aos bispos da Tradição;
– dar a todos os padres do mundo o direito de celebrar a missa de São Pio V sem constrangimentos.

Sobre estas duas condições, gostaria de tecer alguns comentários. Uma primeira objeção poderia ser levantada: Por que a Fraternidade São Pio X apresenta condições preliminares? Não deveria ela ficar agradecida por esse gesto de bondade do Papa, de querer regularizar a situação? A resposta a essa objeção já foi dada no boletim de Mons. Williamson citado acima. Como estamos diante de uma crise da fé, que dura já quarenta anos, com o escândalo de Papas e bispos ensinando uma doutrina contrária ao que a Igreja sempre ensinou, cabe a essas autoridades o ônus da prova de que realmente compreenderam o problema e querem restabelecer em Roma a doutrina tradicional da Igreja. Apesar de inferior hierarquicamente, a Fraternidade tem o dever de velar por sua liberdade de defender a fé.

Em relação à primeira condição, cabe lembrar que, canonicamente, a excomunhão de 1988 é nula, pois alega um ato cismático que não houve, como ficou provado na 2ª Parte deste trabalho. Além disso, esta condição se justifica pela existência de propaganda enganosa feita pelos bispos do mundo inteiro, que insistem em dizer que Mons. Lefebvre procedeu a um cisma.

Quanto à segunda condição, ocorre algo semelhante, pois os bispos insinuam que a Missa Tridentina está proibida, e a maioria dos fiéis acredita nisso. Mas as autoridades sabem que não é assim, que a Bula Quo Primum Tempore, do Papa São Pio V, outorga a todos os padres o direito perpétuo de celebrar a missa por este missal restaurado por ele. No curto texto dessa Bula, expressões como "... e isso para sempre" ocorrem onze vezes. O próprio Cardeal Stickler declarou que uma comissão de Cardeais chegou a esta conclusão: a Missa Tridentina não está proibida e não pode ser proibida.

Esta segunda condição não resolve todos os problemas. Longe disso. Mas, caso fosse aceita, marcaria uma reviravolta prática nas atitudes do Vaticano, e não somente uma mudança nas palavras e na simpatia. É claro que o quadro de destruição do mundo católico abrange todos os segmentos da vida: doutrina, liturgia, moral, catecismo, hierarquia etc. Mas aquele primeiro passo permitiria uma conversa em bases mais concretas.

O Bi-ritualismo

Na verdade, os cardeais não esperavam esta condição. As diversas declarações que foram aparecendo na imprensa mostram com suficiente clareza que a base do pensamento do Vaticano é a questão do birritualismo. Trata-se de considerar possível a convivência das duas missas, dentro da Igreja latina. Vimos como a Fraternidade São Pedro sucumbiu sob o peso de uma intervenção do Vaticano, por causa desta questão. O Vaticano considera, hoje, que é mais interessante ter padres tradicionalistas que celebram a missa de São Pio V e aceitam celebrar a de Paulo VI do que forçar esses padres a nunca celebrar a missa tradicional e vê-los passar por cima dessa determinação graças à Bula de S. Pio V. Nesse ponto, sim, podemos dizer que houve uma mudança na atitude das autoridades romanas. Mas essa mudança é política e não doutrinária.

O Cardeal Ratzinger declarou numa entrevista ao jornal italiano Il Giornale de 3 de abril de 2001 que isto é o que Roma espera da Fraternidade São Pio X:

"Il Giornale: — Que atitude devem ter os lefebvristas para se aproximar da Santa Sé?
Ratzinguer: — Reconhecer que a liturgia renovada do Concílio é a mesma liturgia da Igreja, que ela não é outra coisa. Reconhecer que a Igreja renovada do Concílio não é outra Igreja, mas é a mesma Igreja que vive e se desenvolve.

Il Giornale: — Que podemos fazer para ir ao encontro deles?
Ratzinguer: — Devemos reconhecer que, pela liturgia tradicional de São Pio V, eles estão na tradição eclesial comum. Devemos ser generosos para permitir que a tradição cristã comum se exprima em formas rituais diferentes. É um caminho de reconciliação difícil, como acontece em conflitos familiares. Devemos tomar a iniciativa no processo de reconciliação.

No dia 9 de março de 2001, o jornal francês Present publicou uma entrevista com o Cardeal Medina, Prefeito para a Congregação do Culto Divino. Também este cardeal considera o combate dos fiéis da Tradição uma questão de "sensibilidade", como se se tratasse de mera nostalgia das coisas antigas; ele mantém firme a tese do birritualismo: 

"O Papa concedeu o uso do antigo rito a alguns institutos. Mas os padres que pertencem a essas comunidades, se são chamados a substituir um padre numa paróquia de rito novo, devem celebrar pelo rito novo, para não criar confusão [...]. Penso que devemos ser otimistas, desde que se reze bastante. Os problemas mais difíceis de resolver são os de sensibilidade."

Já a rede de informações Catholic World News adianta, em 28 de março de 2001, que dois cardeais se opuseram aos acordos com a Fraternidade São Pio X: o Cardeal Walter Kasper, recentemente nomeado pelo Papa Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade Cristã, e o Cardeal Mario Francesco Pompedda, Prefeito do Tribunal da SignaturaApostólica. Esses dois cardeais acompanham a opinião de alguns bispos franceses que se opuseram veementemente aos acordos. O resultado não tardou. O Cardeal Hoyos fez saber aos superiores da Fraternidade São Pio X que não seria possível aceitar a condição de liberar a Missa de São Pio V para todos os padres do mundo, pois isso significaria uma ruptura com o pensamento de Vaticano II.

Nós não podemos deixar de lembrar que os argumentos levantados pelos bispos franceses são de hipocrisia impressionante. Eles alegam que liberar a Missa de São Pio V, hoje, seria uma afronta ao nome de Paulo VI e ao Concílio Vaticano II. Ora, por que razão Paulo VI, quando estabeleceu a nova missa, não levou em consideração esse mesmo critério? Por que razão passou ele por cima de 1.500 anos de uso do antigo missal? Por que não respeitou a fé de milhões de fiéis do mundo inteiro, que sempre souberam que a Missa a que assistiam todo domingo transmitia um ensinamento verdadeiro e seguro sobre a teologia da Missa, sacrifício incruento de Cristo para a nossa salvação? Agora querem acusar-nos de causar confusão, como diz o Cardeal Medina, por não celebrarmos a missa nova. E a confusão que eles causaram, nos anos 70, quando invadiram todas as igrejas com esta missa que é mais um culto protestante, impondo-a sem piedade, derrubando todo o conjunto de ritos sagrados, de objetos sagrados, de linguagem sagrada, impingindo a banalidade e o mundano dentro das igrejas?

É muito difícil acreditar que pessoas com esse tipo de argumento tenham intenções santas, guiadas pelo amor de Deus e da Igreja. E não pensem que isto é juízo só meu. Os próprios padres franceses começam a compreender que seus bispos agem mais como políticos do que como pastores de almas. Eis o que escreve um padre que não quis reunir-se com um cardeal romano de passagem pela França. Notem que este padre, inserido dentro do mundo oficial, prega o birritualismo, do que discordamos, como estou mostrando. Porém, a boa fé, a reta intenção, o sofrimento  mesmo deste padre, que deseja a Tradição, fazem de sua carta um belo testemunho contra os que pregam o mesmo birritualismo só para destruir a resistência dos tradicionalistas. O contraste é significativo. Carta do Pe. X 

Fato é, porém, que essa questão do birritualismo, que está no centro das intenções das autoridades romanas, está muito longe do pensamento católico. Qualquer pessoa que queira estudar os deslizes na doutrina da missa nova encontrará nesta página alguns textos que examinam a fundo essa questão, textos esses escritos por eminentes teólogos, como o Cardeal Ottaviani, que era na época o Prefeito do Santo Ofício, órgão que tinha por missão preservar a doutrina contra os erros e heresias.

Um livro entregue ao Papa

A Fraternidade São Pio X, por sua vez, não tem a menor intenção de aceitar o birritualismo, pois conhece os erros doutrinários presentes na nova missa. Por isso entregou ao Cardeal Hoyos, junto com uma carta ao Papa, um livro escrito por alguns padres da Fraternidade que examina profundamente a Missa de Paulo VI. Este livro se chama O Problema da Reforma Litúrgica e está sendo traduzido ao português, para ser editado em breve entre nós. O trabalho consiste em analisar de modo claro e objetivo os diversos aspectos doutrinários, canônicos e litúrgicos do novo missal que se afastam da doutrina católica da Missa. Pode parecer sem muito interesse este livro entregue ao Papa, mas não é, muito pelo contrário. Os padres e movimentos fiéis à Tradição são acusados injustamente de não aceitar a missa nova sem dar, no entanto, suas razões. Isso não é verdade, pois os trabalhos editados desde 1969 foram muito numerosos e profundos. E o fato é que o livro O Problema da Reforma Litúrgica caiu como uma bomba nos corredores do Vaticano. Os cardeais não sabem muito bem que fazer com ele, como responder à altura. É preciso explicar que uma resposta de Roma deve necessariamente manter o nível da argumentação. Não adianta, diante de um trabalho teológico, aplicar o lavado argumento de autoridade, sempre usado contra os padres da Tradição: "obedeçam, obedeçam". Diante de um livro, só duas reações são possíveis: ou se argumenta respondendo à altura às críticas do livro, ou se ignora o livro, o que seria declaração de derrota.

No dia 2 de maio de 2001, o cardeal Hoyos recebeu o Pe. Simoulin, da Fraternidade São Pio X, e o Pe. Fernando Rifan, de Campos (RJ). Nessa conversa cordial o Cardeal leu para os padres o conteúdo do correio oficial que estaria mandando à Fraternidade alguns dias mais tarde:

"Quanto à primeira condição [liberar a missa], certo número de cardeais, bispos e fiéis acham que não se deve conceder essa permissão: não que o rito sagrado precedente não mereça todo o respeito, ou que se despreze sua sólida teologia, sua beleza e sua força de santificação ao longo de séculos em toda a Igreja, mas porque essa permissão poderia causar uma confusão na mente de muitas pessoas, que a compreenderiam como uma depreciação do valor da Santa Missa que celebra a Igreja hoje. É claro que nos estatutos de vosso retorno oferecemos todas as garantias para que os membros da Fraternidade e todos os que têm um atrativo especial por essa nobre tradição litúrgica a possam celebrar livremente em suas igrejas e lugares de culto. Pode-se também celebrá-la em outras igrejas com a permissão dos Ordinários diocesanos.
Quanto à segunda condição [suspensão das censuras], o Santo Padre tem a clara intenção de a conceder quando for formalizado o retorno."

Ou seja, os mesmos argumentos dos bispos franceses já comentados acima. O agravante é que agora trata-se de resposta oficial de Roma. 

A primeira reação de Mons. Fellay diante desse posicionamento foi considerar que Roma depois de ter tomado a iniciativa de buscar uma solução para a Tradição, por motivos políticos, como vimos, recuou diante das condições doutrinárias e prudentes da Fraternidade. Mgr. Fellay expõe seu pensamento no Boletim Carta aos Amigos e Benfeitores, de 5 de maio 2001. Dois dias depois, Mgr. Fellay recebeu a carta do Cardeal Hoyos comunicando que não poderia liberar a missa de São Pio V para todos os padres do mundo, como citamos acima. Diante dessa situação, o superior da Fraternidade São Pio X escreveu uma resposta mostrando porque não seria possível continuar a negociar com o Vaticano. Veja em anexo esta carta.

Para completar nossa documentação, cabe ainda publicar o sermão pronunciado em Ecône, por Dom Alfonso de Galarreta, um dos bispos da Fraternidade, no dia 3 de junho de 2001. De todos os textos publicados nestes meses de negociações, parece-me ser este o que mais se aproxima do pensamento ou, ao menos, do estilo, de Mgr. Lefebvre: firmeza, clareza, mansidão.

No fundo tudo isso é muito estranho! É claro que há elementos graves e sérios que nos levam a desconfiar. Há trinta anos nos marginalizam, há trinta anos exigem que celebremos a missa de Paulo VI, há seis meses amordaçaram e amarraram a Fraternidade São Pedro... Evidentemente, as autoridades da Fraternidade São Pio X não podem achar isso tudo lindo e confiar plenamente nas intenções do Vaticano. É neste ponto que se encontram hoje, fins de maio de 2001, as negociações para um reconhecimento, por parte do Vaticano, dos direitos da Tradição. Poderão os superiores da Fraternidade aceitar as garantias dadas por Roma? É bem verdade que, pela primeira vez, eles não exigem a aceitação do Concílio e declarações doutrinárias. Mas também não aceitaram liberar a missa de São Pio V a todos os padres que quisessem.  E depois? Será que darão, realmente, liberdade aos bispos da Fraternidade para governar e dirigir as capelas tradicionais que hoje celebram a Missa Tridentina? E quando os bispos diocesanos perseguirem os padres da Tradição, o Cardeal Ratzinguer vai continuar afirmando que não pode se opor a eles? Não foi isso que ele disse ao Padre Louis Dermonex, expulso de sua paróquia na Itália porque queria celebrar a missa de São Pio V? (ver cartas)

Porém existe uma conclusão lógica que precisa ser tirada disso tudo: o Vaticano sabe que não há cisma! O Vaticano sabe que a excomunhão é nula! E é por isso que eles insistem tanto em nos ver "unidos" novamente. Seria a maneira mais discreta de consertarem o erro absurdo que cometeram ao excomungar Mgr. Lefebvre. E como eles não querem abrir mão da nova teologia protestante que reina em Vaticano II e no Vaticano de hoje, eles simplesmente não querem falar no assunto. Espertos eles são, também mestres na diplomacia.... mas a fé que eles professam, ainda é a fé católica?

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