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Artigo 5 - Se a inconstância é um vicio compreendido na imprudência.

O quinto discute-se assim. – Parece que a inconstância não é um vício compreendido na imprudência.

1. – Parece que a inconstância consiste em o homem não persistir numa dificuldade. Ora, o que nos faz persistir, em tal situação, é a fortaleza. Logo, a inconstância opõe-se, antes, à fortaleza, que à prudência.

2. Demais. – A Escritura diz. Onde há zelo e contenda, ali há inconstância e toda obra má. Ora, o zelo é próprio da inveja. Logo, a inconstância não é própria da imprudência, mas antes, da inveja.

3. Demais. – Parece que é inconstante quem não persevera no que se propusera. O que, se se trata do prazer, é próprio do incontinente; se da tristeza, do brando ou delicado, como diz Aristóteles. Logo, a inconstância não é própria da imprudência.

Mas, em contrário, é próprio da prudência preferir um bem maior a um menor. Logo, abandonar o maior é próprio da imprudência. Ora, isso é inconstância e, portanto esta é própria da imprudência.

SOLUÇÃO. – A inconstância implica um certo recuo de um bem determinado que nos propusemos. E, o princípio desse recuo está na potência apetitiva; pois, ninguém recua de um bem anteriormente proposto, senão por causa de alguma coisa que desordenadamente lhe agrada. Ora, esse recuo só se consuma por falta da razão, falta consistente em ela repudiar o que antes retamente aceitara. Pois, se não sé mantém firme no bem concebido é porque, por fraqueza, não resistiu ao impulso das paixões, podendo fazê-lo. Por onde, a inconstância, quanto à sua consumação, se funda numa falha da razão. Ora, como toda retidão da razão prática depende, de certo modo, da prudência, assim toda falha da mesma depende da imprudência. Por onde, a inconstância, quanto à sua consumação, pertence à imprudência. E assim como a precipitação se funda numa falha do ato do conselho e a inconsideração, numa falha do ato do juízo, assim a inconstância, numa outra, do ato de ordenar. Pois se chama inconstante aquele cuja razão falha no ordenar o que foi aconselhado e julgado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O bem da prudência é participado por todas as virtudes morais. E assim sendo, persistir no bem pertence a todas as virtudes morais; principalmente, porém à fortaleza, que resiste em particular aos choques contrários.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A inveja e a ira, que é o princípio da contenção, produzem a inconstância, na potência apetitiva, da qual a inconstância procede, como dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A continência e a perseverança parece não existirem na potência apetitiva, mas só na razão. Pois, o continente sofre o embate das concupiscências más; e o perseverante, o das pesadas tristezas; mas a razão deles persiste firme: a do continente, contra as concupiscências; a do perseverante, contra as tristezas. Por onde a continência e a perseverança parece espécies da constância, própria da razão, à qual também diz respeito a inconstância.

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