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Artigo 3 - Se a docilidade deve ser considerada parte da prudência.

O terceiro discute-se assim. – Parece que a docilidade não deve ser considerada parte da prudência.

1. – Pois, o que é exigido por todas as virtudes intelectuais não deve ser apropriado a nenhuma delas. Ora, a docilidade é necessária a qualquer virtude intelectual. Logo, não deve ser considerada parte da prudência.

2. Demais. – Aquilo que as virtudes humanas implicam existe em nós; pois, é pelo que existe em nós que somos louvados ou censurados. Ora, não está em nosso poder o sermos dóceis virtudes que certos têm por uma disposição natural. Logo, a docilidade não faz parte da prudência.

3. Demais. – A docilidade é própria do discípulo. Ora, a prudência, sendo preceptiva, parece ser própria, antes, dos mestres, também chamados preceptores. Logo, a docilidade não faz parte da prudência.

Mas, em contrário, Macróbio, seguindo a opinião de Plotino, considera a docilidade parte da prudência.

SOLUÇÃO. – Como já dissemos, a prudência versa sobre os nossos atos particulares, E estes, de quase infinita diversidade, não podem todos ser suficientemente considerados por um só homem, nem em breve espaço de tempo, senão em tempo diuturno. Por onde, no atinente á prudência, sobretudo, o homem precisa ser ensinado por outrem; e principalmente, pelos velhos, que alcançaram compreensão exata sobre os fins das ações. Por isso, diz o Filósofo: Devemos atender, não menos que às demonstrações dos juízos e às opiniões indemonstráveis dos experimentados, dos mais velhos e dos prudentes; pois, por experiência. compreendem os princípios. Donde o dizer a Escritura: Não te estribes na tua prudência; e, noutro lugar: Acha-te na assembleia dos velhos sábios, isto é, dos anciãos, e aceita de coração a sabedoria deles. Ora, é próprio da docilidade tornar-nos prontos em receber o ensino. Por onde e convenientemente, a docilidade é considerada parte da prudência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Embora a docilidade seja útil para qualquer virtude intelectual, contudo pertence principalmente à prudência, pela razão já dada.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A docilidade, como o mais pertencente à prudência, como aptidão, certo, vem da natureza; mas, para a sua perfeição é muito coadjuvada pelo esforço humano. Pois, por este, o espírito do homem, solícita, frequente e reverentemente adere aos ensinamentos dos maiores, não os descuidando por preguiça, nem os desprezando por soberba.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Pela prudência, ordenamos, não só aos outros, mas também a nós mesmos, como dissemos. Por isso também ela é própria dos súbditos, segundo foi dito; a prudência dos quais compreende a docilidade. Embora também os próprios superiores devam ser dóceis, quanto a certas cousas; pois, ninguém, naquilo que depende da prudência, basta-se a si mesmo, em tudo, como se disse.

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