Skip to content

Artigo 11 - Se a prudência, concernente ao nosso bem próprio é da mesma espécie que a concernente ao bem comum.

O undécimo discute-se assim. – Parece que a prudência, concernente ao nosso bem próprio, é da mesma espécie que a concernente ao bem comum.

1. – Pois, diz o Filósofo que a política e a prudência são um mesmo hábito, mas não têm o mesmo ser.

2. Demais. – O Filósofo diz, e a virtude de um bom varão é a mesma que a de um bom chefe. Ora, a política é própria, por excelência, ao chefe, em quem existe como virtude arquitetônica. Mas, a prudência, sendo virtude própria do bom varão, parece que o hábito da prudência e a política se identificam.

3. Demais. – Coisas que se ordenam a outra não diversificam a espécie ou a substância do hábito. Ora, o nosso bem próprio, dependente da prudência propriamente dita, ordena-se ao bem político, que concerne à política. Logo, a política e a prudência não diferem especificamente, nem pela substância do hábito.

Mas, em contrário, são ciências diversas: a política, ordenada ao bem comum da cidade; a econômica, cujo objeto concerne ao bem comum da casa ou da família; e a monástica, que tem por objeto o bem de cada pessoa em particular. Logo, por igual razão, também há diversas espécies de prudência, segundo essa diversidade de matéria.

SOLUÇÃO. – Como já dissemos, as espécies de hábitos se diversificam pela diversidade de objetos, a qual se considera em dependência da razão formal da mesma. Ora, a razão formal de todos os meios depende do fim, como do sobredito resulta. Por onde e necessariamente pela relação com fins diversos se diversificam as espécies de hábito. Ora, os fins diversos são: o bem próprio de cada um, o bem da família, o da cidade e do reino. Logo, é forçoso haja tantas espécies diferentes de prudência, quanta é a diferença desses fins. De modo que uma seja a prudência propriamente dita, ordenada ao bem próprio de cada um; outra, a econômica, ordenada ao bem comum da casa ou da família; a terceira, que é a política, ordenada ao bem comum da cidade ou do reino.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­– O Filósofo não quer dizer que a política é idêntica, pela substância do hábito, a qualquer prudência; mas, que o é à prudência ordenada ao bem comum. A qual é assim chamada, conforme à denominação geral de prudência, por ser uma aplicação da razão reta aos nossos atos. Mas se chama política, por ordenar-se ao bem comum.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como o Filósofo diz, no mesmo lugar, é próprio do bom varão poder governar e obedecer bem. Por isso, a virtude do bom varão inclui também a do bom príncipe. Mas, a virtude do príncipe difere especificamente da do súbdito, como também difere da virtude do homem a da mulher.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Também fins diversos, dos quais um se ordena para o outro, diversificam a espécie do hábito. Assim, o cavaleiro, o militar e o cidadão diferem especificamente, embora o fim de um se ordene ao do outro. E do mesmo modo, embora o bem do particular se ordene ao da multidão, contudo isto não obsta que essa diversidade torne os hábitos diferentes especificamente. Mas daqui resulta que o hábito ordenado ao fim último é o principal e impere sobre os outros hábitos.

AdaptiveThemes