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Artigo 5 - Se a sabedoria existe em todos os que tem a graça.

O quinto discute-se assim. Parece que a sabedoria não existe em todos os que têm a graça.

1.  Pois, é melhor ter, que ouvir a sabedoria. Ora, só os perfeitos podem ouvi-la, conforme a Escritura: Entre os perfeitos falamos da sabedoria. Ora, não sendo perfeitos todos os que têm a graça, resulta que muito menos têm a sabedoria todos os que têm a graça.

2. Demais. – E próprio do sapiente ordenar, como diz o Filósofo: a Escritura diz: julgando sem dissimulação. Ora, nem a todos os que têm a graça pertence julgar ou ordenar os outros; mas só aos superiores. Logo, nem todos os que têm a graça têm a sabedoria.

3. Demais. A sabedoria é um dom oposto à estultícia, como diz Gregório. Ora, muitos têm a graça e são naturalmente estultos, como o demonstram os loucos batizados ou os que, depois do batismo, caem na loucura, sem pecado. Logo, nem todos os que têm a graça têm a sabedoria.

Mas, em contrário, quem não tem pecado mortal é amado de Deus; pois tem a caridade, pela qual ama a Deus; e Deus ama aos que o amam, diz a Escritura. Ora, também ela diz: Deus a ninguém ama senão ao que habita com sabedoria. Logo, todos os que têm a graça e não estão em pecado mortal têm a sabedoria.

SOLUÇÃO. A sabedoria de que tratamos implica, como já dissemos uma certa retidão do juízo sobre as verdades divinas que devemos contemplar e consultar. Ora, quanto a esta e àquela, certos adquirem a sabedoria, em graus diversos, pela união com as divinas verdades: ­ Pois, uns, relativamente à contemplação das verdades divinas, como à ordenação das coisas humanas, conforme as regras divinas, participam do juízo reto, tanto quanto lhes é necessário à salvação. E este juízo a ninguém, falta, que esteja sem pecado mortal, em virtude da graça santificante; porque, se a natureza não falta com o necessário, muito menos a graça. Por isso, diz a Escritura: A sua unção vos ensina em todas as causas, - Outros, porém, recebem o dom da sabedoria em mais alto grau. Quanto à contemplação das coisas divinas, por conhecerem certos mistérios mais elevados e poderem manifestá-los aos outros. E também quanto à direção das coisas humanas, de acordo com as regras divinas, por poderem seguindo­as, ordenar, não só a si mesmos, mas também aos outros: E este grau de sabedoria não é comum a todos os que têm a graça santificante; mas antes, é próprio das graças gratuitas, que o Espírito Santo distribui como quer, conforme aquilo do Apóstolo. A um pelo Espírito é dada a palavra de sabedoria, etc.

 DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ No lugar citado, o Apóstolo se refere à sabedoria, enquanto se estende aos mistérios ocultos das coisas divinas, como no mesmo passo diz: Falamos da sabedoria de Deus em mistério encoberta.

RESPOSTA À SEGUNDA. Embora ordenar os outros homens e julgá-los só pertença aos superiores, contudo, ordenar os atos próprios e julgá-los pertence a cada um de nós, como está claro em Dionísio.

RESPOSTA À TERCEIRA. Os loucos batizados, bem como as crianças, têm, certo, o hábito da sabedoria, enquanto dom do Espírito Santo; mas não a têm em ato, por causa de um impedimento corpóreo, que os priva do uso da razão.

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